SUPERFICIALIDADE X SINCERIDADE

Existe uma coisa sem a qual nós vivemos bem, mas com a qual vivemos muito melhor, chama-se esta prezada senhora, organização! E assim, desde que foi criada (provavelmente junto com a terra), nós a utilizamos em qualquer atividade, para qualquer finalidade. Organizamos, dividimos, subdividimos, para que tudo tenha melhor visualização, estética, e quando surgir a necessidade, esteja de prontidão á nossas cabeças sem muito penar pela busca. Em basicamente tudo aplicamos organização, na arte não é diferente, dividimos em classes para melhor compreensão, e assim deve ser, sem muitas mudanças, porque embora nos adaptemos rápido, involuntariamente odiamos mudanças deste tipo, por isso que neste vasto mundo elas não acontecem com tanta freqüência, e quando acontecem demoram a dominar a massa... Demoram mas dominam, e a organização está ficando um pouco em segundo plano, esta questão de classes está se perdendo, são indícios do período pós-modernista que vivemos, em que um artista não é mais colocado em pedestais pelo seu dom, pela sua especialização naquela determinada área, porque de acordo com este modernismo não existe mais as classes literárias como romantismo, realismo... Ainda são cultivadas, mas não mais tão importantes ao classificar alguém, se é escritor e pronto! E num geral, estão lutando para que não haja mais esta organização, classificação. Futuramente serão chamados de artistas e pronto! Por que? Porque o caso mais comum que vemos, nas noticias de arte dos jornais, nas sessões de novidades culturais, é um escritor estreando numa peça de teatro, um músico lançando um livro, alguém fazendo algo novo, que não é do seu trivial, avançando, indo além da sensibilidade de ser artista.

Não podemos julgar que nasce de uma vontade repentina, pois muitas vezes está no sangue, em alguma área das próprias raízes, do passado, a pessoa é que estava insistindo em outra coisa. Até aí tudo bem, mas até onde essa mudança essa aptidão por ser um ‘multimídia’ vai com sinceridade? Já que também envolve um pouco a questão da mídia, da imprensa, do “aparecer”, estar em foco, e não ser esquecido... Nessas circunstâncias vale então também fazer o jogo sujo de se inovar, reciclar-se e novamente virar novidade para ser tinta e traços em uma revista, jornal ou tela. Conta-se então atualmente a sensibilidade, o primórdio, o diferencial do artista, e não no que ele está ‘acostumado’ a fazer, e infelizmente é um problema que vicia, onde todos se acham bons, e torna-se fácil um grande escritor tornar-se um grande ator, porque tudo parte de uma vontade, uma remota e corrosiva vontade de ver, talvez o seu personagem, o seu cenário, a sua situação, ao vivo, como ele idealizou.... Então algum produtor topa, e nasce uma nova estrela, porque mesmo que ele seja ruim poucos vão falar, mesmo que seja apenas superficial, sem emoção, e feito de facetas e personagens já bem maçados do nosso cotidiano vão dizer que: “Foi lindo, muito bom mesmo!”, e o próprio espírito da arte vai se confundir, mas quem liga para ela não é mesmo? O importante é estar no meio dos que fazem, e fazem bem (mesmo que não façam!). Assim que funciona, algum bom trabalho bem divulgado, te levanta, você vende sua imagem, seu produto, e é indispensável continuar sempre criando (ou copiando) para não perder o brilho, vai fazendo assim, sabe Deus por quanto tempo, até que um patrocinador, ou testa de ferro, ou produtor passe a te bancar, é necessário então fazer o próprio sensacionalismo, colocar uma mínima notícia no auge dos acontecimentos, para que não passe pela cabeça dos tais patrocinadores ou produtores, cortar a sua verba. E sempre criando, sempre criando, e fazendo sensacionalismo.... E o mais importante: não fazendo burradas, mas se for fazê-las, faça coisas que o faça parecer, exaltá-lo de forma positiva, e joga-se este ato encima de uma nova criação, e assim caminha a sua humanidade no mundo da arte dos “famosos”. E se isto acontece com quem apenas faz um tipo de arte, imagine então com quem utilizam vários... “ Ela lançou um novo livro, semana que vem estréia sua nova peça no teatro municipal, irá ministrar um curso de dança, no próximo mês irá abrir a sua exposição de artes plásticas, e encerra hoje a visitação do seu ateliê

para apreciação de suas esculturas, e seu novo CD está em segundo lugar em vendas no mercado”. Isso não é uma pessoa, é uma máquina, pois uma frase bem antiga, ainda é muito certa: De quem faz muitas coisas ao mesmo tempo, alguma coisa não é bem feita.

E nada, realmente nada se compara, se iguala aos que realmente sabem fazer, aos que portam talento. Mas há exemplos como estes lá de cima, que servem para os realmente talentosos batalharem e mostrarem quem realmente é capaz! De quem não é superficial, não se vende e não se compra, embora este ‘se comprar’ seja muito tentador, e há estes superficiais, mas “talentosos” um dia a casa cai, a máscara se desfaz, e a fama também acaba, porque novos nomes surgem, e não há lugar para todos neste mundo. Então caso você seja um multimídia, não se preocupe se não tiver mais nada para criar, ou copiar, caras virgens irão brilhar no seu lugar, e ninguém vai chorar, no máximo sentir um pouco de falta, mas nada que não se supra... Por isso não faça por simples vontade, mas com razão e sinceridade!

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 24/09/2007
Reeditado em 25/09/2007
Código do texto: T666929