OS MENINOS DO MORUMBI

Igreja paulistana abre suas portas para o Projeto Guri, iniciativa de resgate social de menores carentes por meio da música

Houve tempo em que os crentes preocupavam-se apenas em conquistar almas para Cristo. Hoje, não; influenciadas pela idéia do Evangelho integral, aquela abordagem da fé que preconiza o socorro total ao ser humano – alma, corpo e espírito –, cada vez mais igrejas evangélicas estão levando a responsabilidade social a sério. É o caso da Igreja Batista do Morumbi, uma das mais tradicionais congregações evangélicas da cidade de São Paulo. Ali, no mesmo espaço que é utilizado para adorar ao Senhor, centenas de crianças e adolescentes têm descoberto a arte. Implantado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, o Projeto Guri tem na Igreja do Morumbi uma de suas principais parceiras. Com grande experiência na área musical, a igreja proporciona a inclusão social de crianças e jovens por meio da música. São disponibilizados, gratuitamente, aulas para todos os gostos: violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, clarinete, saxofone, trompete, trombone, bombardino, percussão e canto coral. Tudo de graça e com nível comparável ao dos melhores conservatórios da cidade.

O núcleo instalado na Igreja Batista do Morumbi é coordenado pelo pastor Sidney Costa, que também é professor, bacharel em música sacra e mestre em Teologia. O Pólo Oficina de Artes Morumbi atende cerca de 200 crianças e adolescentes e pretende chegar a mil já no ano que vem. "Esse projeto era um sonho antigo que se concretizou com a parceria entre a Igreja Batista do Morumbi, o Governo do Estado e empresas privadas", comenta o pastor. Sidney confessa que uma das maiores dificuldades para a implantação do projeto foi fazer com que as pessoas compreendessem que a igreja era capaz de assumir um compromisso social – além, é claro, da captação dos recursos e efetivação de parcerias. "Creio que a missão da Igreja é promover a transformação integral das pessoas pelo Evangelho e a arte é uma excelente ferramenta para isso", comenta. "Ao ensinar música para uma criança, temos a oportunidade de transmitir valores éticos bíblicos e resgatar princípios importantes para o ser humano, como auto-estima e disciplina, além de expressar o amor de Deus", complementa.

O Projeto Guri surgiu em 1997, quando um grupo de voluntários saiu a campo buscando parceiros para a iniciativa. "O Projeto Guri é uma soma, não uma solução", afirma Beth Parro, diretora executiva da Associação Amigos do Projeto Guri e supervisora-geral de suas atividades. Foi ela que criou o pólo inaugural e formou a primeira orquestra de garotos. "Creio que todo menino de rua, todo infrator e todo drogado merece uma oportunidade na vida", defende. Mas nem mesmo ela podia imaginar a proporção que a coisa tomaria em apenas dez anos de atividades. Com apoio de órgãos governamentais e patrocínio de empresas privadas, que ao aderirem podem ser beneficiadas pela Lei de Incentivo à Cultura, o Projeto Guri começou com um único núcleo para atender 180 crianças; atualmente, a iniciativa conta com 384 pólos, e o contingente de beneficiados já ultrapassa a marca de 48 mil.

Sinfonia de Jesus – Para participar, o candidato deve, necessariamente, apresentar bom rendimento escolar. E os alunos devem estar comprometidas com o programa de aulas. Uma das penalidades é a perda da vaga no caso de duas faltas consecutivas sem justificativa. “Embora seja um curso totalmente gratuito, há regras a serem cumpridas”, ressalta a diretora. Desde sua fundação, o Projeto Guri, além do reconhecimento público já abocanhou vários prêmios importantes. Além disso, o chamado “coral dos meninos” da entidade foi escolhido pelo Ministério da Educação para representar o Brasil durante a Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas em Favor da Infância. O evento ocorreu na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Além disso, o Projeto Guri também foi a única instituição brasileira convidada, em 2005, para participar da 1ª Conferência Orquestral da África do Sul, na Cidade do Cabo. E recentemente, durante a visita do papa Bento XVI ao país, lá estava novamente a orquestra de garotos no Estádio do Morumbi, em São Paulo, cantando para o líder católico.

Preletor e pastor sênior da Igreja Batista do Morumbi, Lisânias Moura destaca a importância da aproximação das igrejas com a população menos favorecida socialmente: “Quando nos envolvemos com pessoas ou comunidades em situação de risco, além de os equiparmos para serem protagonistas de suas próprias transformações, nós ganhamos o direito de falar que Deus os ama e que Jesus veio ao mundo para perdoar seus pecados e lhes dar uma qualidade de vida interior além do que eles possam imaginar”, frisa. “Nosso maior desafio vai além de ensinar música – queremos também que as crianças percebam que nas mãos de Jesus suas vidas podem se tornar uma sinfonia.”

Para Griz Axcar, coordenadora de projetos da Associação Cultural Morumbi Produções – entidade que abriga o pólo do Projeto Guri nas dependências da Igreja Batista do Morumbi –, ensinar música a crianças e jovens de baixa renda melhora sua auto-estima e seu senso de cidadania. "Além disso, a música é um estudo matemático que auxilia no rendimento escolar, melhorando o raciocínio e o comportamento", compara. Membro da Igreja Batista do Morumbi, ela aponta ainda a importância da iniciativa para as famílias dos menores envolvidos no projeto. "Eles passam a ter uma convivência melhor, tanto nas ruas como nos lares." Ainda, segundo a coordenadora, cerca de 50% das crianças que estudam música na igreja são oriundas de lares evangélicos. Embora o objetivo do trabalho não seja estritamente evangelístico – "Trabalhamos para que os alunos aproveitem o talento da melhor maneira que puderem, sem precisar, necessariamente, seguir uma religião", frisa Gruz –, é claro que o ambiente da igreja acaba influenciando."Percebemos um diferencial nas crianças quando elas chegam aqui.” Com o tempo, pode haver uma modificação em suas vidas", encerra.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 119

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 27/09/2007
Reeditado em 30/10/2009
Código do texto: T670916
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