VARIAÇÃO DO EMPREGO DOS VERBOS ABUNDANTES PELOS FALANTES DO VALE JAGUARIBE

UECE/FAFIDAM

Orientado pelo Prof. Ms. Lailton Duarte Moraes

Este trabalho tem por intuito pesquisar, com metodologias prático-teóricas, a maneira pela qual o uso dos verbos abundantes são empregados pelos falantes do Vale Jaguaribe, tendo em vista suas capacidades de empregar esses elementos verbais em consonância com suas necessidades de manifestação de formas léxicas mais usuais e conhecidas por eles a fim de flexibilizar o ato de fala.

O referido escopo de estudo surgiu na disciplina Produção Escrita em Língua Portuguesa. A partir da discussão desta relevante classe gramatical denominada de verbos abundantes mediante ao temático-debate das variantes regionais, que recorrentemente servem como corpus de estudo e compreensão da língua falada e escrita destas comunidades lingüísticas avaliadas por nós acadêmicos.

De acordo com Maia (2001), os verbos abundantes são aqueles que possuem mais de um formato com o mesmo valor no particípio. Para ele, aplica-se a forma regular (sempre terminada com ADO ou IDO) com os verbos auxiliares TER e HAVER.

Por outro viés, utiliza-se a forma irregular (não há um exemplo fixo a seguir) como os verbos auxiliares SER e ESTAR. O renomado Doutor em Letras supracitado exemplifica nas seguintes situações, avaliando o que de fato é adequado ou inadequado: O seu marido tem pago o carnê em dia? (INADEQUADO), O seu marido tem pagado o carnê em dia? (ADEQUADO).

Na acepção similar de Mazzaroto (2002) e Almeida (1999), os verbos regulares são aqueles que obedecem precisamente ao paradigma da respectiva conjugação em que para conjugá-los basta substituir o radical do verbo, porque a vogal temática e desinências não se alteram, sendo; pois, empregados na voz ativa com os auxiliares TER e HAVER. E os verbos irregulares são os que não seguem os paradigmas das conjugações, apresentando, logo, variações de forma nos radicais ou nas desinências e usados na voz passiva com os auxiliares SER e ESTAR.

Intuímos, a fortiori, que na interpelação de Sacconi, estas formas mais curtas do particípio têm o almejo de simplificar na atitude de interação comunicativa os elementos mais artificiais da língua dita padrão-culta em que as demais são menosprezadas.

Todavia, devemos entender que esse processo transformacional-adaptativo por parte do falante de uma língua, surge pela necessidade de mostrar suas peculiaridades sócio-culturais e razões políticas para esse uso.

Em primeiro momento, utilizar-me da aplicação de um questionário com 10 (dez) perguntas-chave em relação à forma de verbo abundante que as pessoas com diferenciação de critérios como: idade, formação escolar, classe social, sexo e ocupação possam empregar para expressar sua devida necessidade de estabelecer comunicação entre si. A folha de pesquisa contém os verbos no infinitivo, no qual cada um irá optar por uma forma abundante do verbo no particípio regular ou irregular.

Partindo deste pressuposto, verificaremos ponderamente os itens de maior incidência pelas 05 (cinco) mulheres e pelos 05 (cinco) homens entrevistados, as quais preenchem perfis dos critérios proferidos acima. Com isso, será feito uma análise sistemática e perceberemos que alguns verbos abundantes sejam regulares ou irregulares terão uma forma mais privilegiada quanto ao uso em virtude do jeito que é empregado por cada agente de comunicação.

Com esta metodologia de avaliação, chegaremos ao arremate que os falantes do Vale Jaguaribe divergem a formas de uso específico de verbo abundante, embora o objetivo deste estudo não seja a notabilizar se os mesmos dominam a gramaticalidade normativa, mas sim a maneira como estas variáveis verbais são impostos no discurso com os demais de seu contexto de vida social, acadêmica, política e profissional.

De certo, será perceptível que em alguns grupos com maiores competências comunicativas, as variantes serão muitas vezes totalmente dispares. Porque, cada qual tem a sua função construtiva da língua, apropriando-a para fins mais necessários e eficientes.

Chegamos, portanto, ao computo das diversas formas de verbos abundantes usados pelos falantes avaliados:

No qual dos dez entrevistados analisado com as questões, foram percebidos a predominância do elemento imprimido que na sentença I encontra-se gramaticalmente adequado, porque é regido de verbo auxiliar HAVER, pelos que possuem boa escolaridade e pertence há um grupo social; embora a forma (impresso) na sentença IV foi na sua maioria empregado posposto ao auxiliar SER; observou-se que muitos deles desconhecem a função exercida por cada um.

Ficou claro que com as respostas coletadas, a forma irregular (tinto) ausentou-se nesta amostragem, pois se verificou que os homens entrevistados não empregaram este formato verbal. Já as mulheres de uma certa idade avançada utilizou-se desta variante, no entanto, os mais novos preferem (tingido) que na sentença II encontra-se adequado já a III não aceita gramaticamente esta forma no particípio regular;

Agora obviamente na sentença VI há uma drástica distinção nos dois gêneros, os homens optaram pela forma irregular (aceito) e as mulheres no regular (aceitado), em que se emprega sem princípio ajustado pela condição sócio-educativa de oferecer clareza, concisão e coerência;

Definiu-se, na pesquisa dos homens, que a forma irregular (pago) nas sentenças VII e VIII preponderou-se em relação à forma (pagado), pois o segundo elemento está em fase de desaparecimento em virtude do não-uso pelos falantes. Já as mulheres optaram também pelo termo irregular (pago) que aparece com freqüência colocado inadequadamente;

Já as formas (ganho, ganhado, gasto, gastado) que as mulheres na sentença VIII utilizaram apropriadamente, porque a assemelham no uso cotidiano, já 03 homens escolheram adequadamente a forma (ganhado) gerido pelo auxiliar HAVER e as palavras (gasto) e (ganho) regidos de verbo auxiliar TER e de maneira errônea, uma vez que o emprego seria com a forma (gastado).

Por fim, avaliamos que as formas (escrevido, abrido, dizido) raramente tiveram recorrência 02 homens optaram-na, entretanto as mulheres não empregaram nenhuma destas formas. Já a forma verbal irregular posto (sentença IX) foi empregado adequadamente por 04 delas e as formas (aberto, escrito, dito) item X apenas apresentam tal formato irregular, sendo; pois, empregado pela maioria dos entrevistados, de maneira satisfatória.

Concluí, com a realização deste estudo científico proporcionado pela amostragem de investigação dos dados obtidos e os argumentos teórico-metodológicos formulados que a presença de variação quanto ao emprego dos verbos abundantes pelos falantes do Vale Jaguaribe, apresentou inúmeras particularidade da estrutura sígnica da língua falada e escrita dos entrevistados neste trabalho.

Aprendi que cada indivíduo em seu determinado contexto de vida utiliza-se de sua capacidade lingüística, ou seja, organizam a estrutura de sua fala, conforme as necessidades que possuem no decorrer de suas atividades cognitivas e sociais. Concebeu-se ainda que “A língua muda ao longo do tempo”, por ser mais flexível e flutuante que a escrita. Mas, o interessante de uma maneira geral, foi saber que as formas empregadas obedeceram a um princípio fundamental de regularidade do ato comunicativo entre os falantes.

Nosso principal objetivo com a elaboração desta pesquisa científica é ampliar os conhecimentos sobre as diversas formas de emprego das variedades de verbos abundantes pelos falantes de nossa região. No qual, cada grupo de pessoas possui aspectos de formação ideológica, condição social, faixa etária de idade e gênero humanos distintos.

Observei, notadamente, que os entrevistados que são desprovidos de alguns destes recursos mencionados anteriormente, geralmente apresentam desconhecimento do emprego adequado do particípio regular e irregular dos verbos abundantes do jeito que reza a norma culta. Por sua vez, alguns dos entrevistados colocaram a forma nominal verbal no próprio infinitivo e no gerúndio pelo motivo de desuso de alguns de suas formas ou pela carência de instruções pedagógicas dos princípios gramaticais.

Compreendi, também, que alguns verbos, como ganhar e pagar, o particípio regular estão em fase de desaparecimento. Então, notamos que há uma tendência a usar o particípio irregular aceito com as formas ativas e passivas. No entanto, é adequado a forma regular aceitado.

Tendo em vistas os aspectos observados, somos levados a acreditar que se faz necessário fazermos novas pesquisas para que possamos acompanhar a evolução de como as pessoas tendem a modificar a maneira que se utilizam das palavras para expressarem o que pensam e sentem no seu liminar de vida.

Jeimes Paiva
Enviado por Jeimes Paiva em 02/10/2007
Reeditado em 04/10/2007
Código do texto: T677241
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