Heróis

Que me perdoem as meninas do futebol feminino, as quais realizaram um brilhante trabalho na Copa do Mundo. Falarei de heróis e heroínas que são injustiçados em nossa nação, mas não necessariamente aqueles do ambiente esportivo. Volto os meus olhares para as pessoas que, como sociedade, remetemos aos ônibus e trens lotados nas grandes capitais todos os dias. Penso ao mesmo tempo no produtor que luta desproporcionalmente contra os baixos valores das safras, os altos valores dos insumos, a tirania dos atravessadores, as proteções indevidas do mercado externo e as desordens ocasionais da natureza. Imagino ainda que o mercado de trabalho, assolado pelo despreparo de milhares e milhares, despreza a vontade e a garra de outros que fariam de tudo para ter uma oportunidade única de se qualificar e demonstrar o seu valor. Vejo os jornais abertos nas páginas de emprego, as pesquisas da internet de quem sonha empreender. Os meninos nos sinais fazendo estrepulias com malabares diversos, mostrando que sabem mais e podem mais do que simplesmente transgredir.

Ouço suspiros de esperança nas esquinas e ruas todas as manhãs, naqueles que saem levando os seus sonhos, pastéis, salgados, picolés, flanelinhas, caixas de engraxar e um sorriso quase sem dentes. Vejo heróis naqueles que trabalham e estudam, às vezes em múltiplos turnos. Naqueles que optam permanecer na nação ao invés de migrar para culturas mais abastadas, sujeitando-se aos trabalhos mais diversos, bem como naqueles que fazem exatamente o contrário, ousando contra as possibilidades. Encontro os heróis brasileiros afeiçoados à leitura, abraçados ao desejo de se informar e saber. Percebo sua presença entre aqueles que vivem uma contracultura estabelecida, valorizando a ética, Deus e Seus princípios como modelo ideal de vida.

Heróis? Lá estão eles, entre os meninos e meninas brasileiros que perderam os pais precocemente, entre as famílias vitimadas pela violência, gente que insiste em vencer a amargura dos fatos com dignidade e esperança, pessoas capazes de clamarem por justiça sem transpirar o ódio ou a revolta.

Sim, as meninas do futebol são dignas de menção e de valor, por outro lado todos estes mencionados acima são tão dignos de importância como cada uma delas. E se tivermos de ressaltar a atitude heróica das meninas que usam chuteiras e que praticam um futebol brilhante, não nos permitimos omitir os anônimos nossos de cada dia, os quais, sem mídia ou destaque, brilham na luta por sua sobrevivência.

Abraços e Sucesso!!!