O ACHAMENTO DO BRASIL

Das ações humanas ao longo do tempo se constitui a história. E são os eventos ocorridos no passado que nos fornecem, nas realizações de nossos antepassados, os elementos de conhecimento de nossa existência no presente. Alguns desses eventos têm sido narrados nos livros didáticos do ensino oficial, e mantidos, apesar das dúvidas que as muitas evidências têm demonstrado, como verdade histórica; e entre essas está a de nossa origem, aceita pelo o casual descobrimento do Brasil. Os estudiosos não chegam a nenhuma conclusão quando se discute a intencionalidade dessa descoberta. Talvez por falta de provas; de dados precisos ou disponíveis. Haja vista que a “Carta de Caminha” foi guardada por séculos e mantida em segredo, estranhamente considerada “nossa” primeira manifestação literária, “mossa” primeira obra literária.

O termo “descoberta” é tomado por várias interpretações; há os que entendem que se descobre o que já existe, que tão somente não é do conhecimento de todos. Outros, entretanto, sustentam que descobrir é achar o que não se estava propriamente procurando; daí, o acaso, a não intencionalidade. Penso que é dessa enorme confusão que nasceu e perpetua-se a idéia de o Brasil ter sido descoberto, por acaso, sem nenhuma intenção. É assim que aprendemos e gerações se sucedem nessa crença. Excetuando-se os estudiosos e outros interessados, a imensa maioria do povo brasileiro acredita nisso. Está lá, no primeiro livro de história oficial o termo “descoberta” do Brasil. Se achar a verdade não mudará nossa história naquilo que é o mais importante - que somos descendentes de europeus portugueses que se cruzaram com nativos e com africanos quando tomaram posse de nossa terra intencionalmente – para alguns historiadores, isso também não mudará nosso presente e nem mesmo significará algo em nosso futuro. Não creio que seja assim.

A história oficial, imposta pelo sistema, afirma que os portugueses foram os primeiros europeus a chegar aqui, e por acaso. Sem querer; empurrados por ventos e correntes marítimas incontroláveis. Todavia, os portugueses sabiam da existência dessa nossa terra situada a 370 léguas a oeste das Ilhas do Cabo Verde. Mestre João, João Emeneslau, médico, astrólogo, físico,médico,astrônomo, um espanhol que estava em uma das naves da esquadra comandada por Cabral, em 1500, escreve ao rei D. Manuel I assim como fez Caminha. Em sua carta, escrita na hoje Cabrália, na Bahia, onde Mestre João realiza estudos astronômicos e identifica, pela primeira vez, a constelação do Cruzeiro do Sul, sugere ao Rei que lá em Lisboa, veja num mapa essa constelação e assim saberia a localização das terras onde eles estavam.

Naquele início do século XVI, porém, os portugueses não tinham interresse nenhum por essa nossa terra pois estavam empenhados em estabelecer colônias comerciais na Índia. E para lá se foram alguns dias depois de aqui deixar marcado seu “achamento” abandonando 4 degredados; 2, por ordem do Capitão Pedro Álvares Cabral e 2 que se mandaram mato a dentro assim que saltaram de uma das caravelas. Seguiram então para Calicut, 10 dias depois de batizá-la, ver e registrar algumas coisas interessantes: como as belas mulheres sem pelos em seus corpos nus, os homens cordiais e enfeitados e a exuberância da natureza.E somente voltaram a se interessar por Vera Cruz, 50 anos depois com a chegada de Tomé de Souza, um militar, com a missão de consolidar o domínio português no litoral, frequentemente visitado por franceses, espanhóis e holandeses.

Os portugueses daquela época eram os mais competentes navegadores do mundo e dominavam os mares com barcos de invejável desempenho naval, grande poder militar e navegados por jovens marinheiros e experientes capitães treinados em escolas de navegação. Os comandantes não eram aventureiros analfabetos como era a maioria dos marinheiros das naus e das caravelas. Os portugueses, naquela época, eram os mais audazes desbravadores de mares e de oceanos. Pedro Álvares Cabral era um nobre fidalgo, neto de Fernão Álvares Cabral, guarda-mor do infante D. Henrique, o condutor das navegações ultramarinas, filho do rei D. João I, que fundou a Dinastia de Avis.

Aos 11 anos de idade, Pedro Álvares Cabral saiu de Belmonte, Beira Baixa, onde nasceu e mudou-se para o Seixal, na região de Lisboa, quando estudou literatura, história, ciência, cosmografia, artes militares e aptidões “marinheiras”. Como fidalgo, na corte de D. João II aperfeiçoou-se em cosmografia e “marinharia”. Já na corte de D. Manuel I, Pedro Álvares Cabral era fidalgo do Conselho do Rei e cavaleiro da Ordem de Cristo, como também era o infante D. Henrique. A Ordem de Cristo, que sucedeu a Ordem dos Templários, era poderosa e riquíssima, tendo também financiado as navegações portuguesas pelo Atlântico. Por pertencer a Ordem de Cristo, Pedro Álvares Cabral recebia uma pensão anual em dinheiro.

Aos 33 aos de idade, em 1499, Pedro Álvares Cabral é nomeado por D. Manuel I capitão-mor de uma armada que se dirigiria à Índia. Vasco da Gama havia retornado de lá sem ter conseguido estabelecer feitorias para comercializar, principalmente as tais especiarias das índias. Mandado por D. Manuel I, Cabral partiu para a Índia para tentar ampliar e firmar política e militarmente as negociações feitas por Vasco da Gama com um soberano marajá. Partiu então com a mais bem equipada armada do século XV. Eram 10 naus e 3 caravelas. As naus eram enormes e imponentes embarcações arredondadas, com castelos de popa e de proa, de 200 toneladas e com 120 canhões, 4 mastros e 3 ordens de velas sobrepostas, armamentos diversos, soldados e marinheiros. As caravelas, uma genuína e original embarcação inventada pelos portugueses, eram rápidas, de pequeno porte, de fácil manejo, e capazes de diversas manobras em alto mar. Podiam deslocar até 50 toneladas. As velas, duas vezes maiores do que as velas das naus, permitiam fazer ziguezagues contra o vento e navegar em zonas desconhecidas; com ventos desconhecidos. Além disso, as caravelas, em caso de necessidade, poderiam ser movimentadas a remos. Esses excepcionais barcos, tripulados por hábeis marinheiros, armados com artilharia e soldados, ainda podiam transportar todo tipo de mercadorias.

Essa poderosa armada de l3 barcos navegava com 1.500 homens, entre soldados, religiosos - padres da Igreja Católica Apostólica Romana - marinheiros e outros funcionários do Rei, entre eles o escrivão Pero Vaz de Caminha. A partida de Lisboa, em 9 de março de l500, foi festiva e pomposa com a celebração de uma missa solene à qual compareceu D. Manuel I, toda a corte e muitas pessoas vindas de todas as partes do reino. O rei despediu-se pessoalmente de Pedro Álvares Cabral entregando-lhe uma bandeira com as Armas do Reino.Vasco da Gama fez-lhe algumas recomendações para a longa viagem. Uma delas era que deveria manter sempre os navios juntos para que não se perdessem uns dos outros. Para isso recomendou que Cabral disparasse dois tiros de canhão e esperar pela resposta antes de mudar o curso ou a velocidade.

Depois de 43 dias de viagem, passando pelas Canárias 4 dias depois da partida de Lisboa e por Cabo Verde 12 dias depois e seguindo sempre na direção oeste, avistam a terra desconhecida. Desconhecida porque nunca haviam estado nela, porém sabiam que ela estava lá. Ao avistarem um monte, “terra chã, com grandes arvoredos”, ao final da tarde do dia 22 de abril, procuram então um lugar seguro para aportar os barcos pois já era quase noite. No outro dia, pela manhã, Cabral toma posse da terra em nome da Coroa portuguesa, faz contatos com os primitivos habitantes, Tupiniquins e Tupinambás, que já viviam no litoral há pelo menos 200 anos, vindos do Alto Xingu, sem que tenham oferecido qualquer resistência. Manda rezar duas missas, constrói duas enormes cruzes de madeira retirada do próprio local, e 10 dias depois segue para a Índia, retornando ao litoral africano depois de dele ter se afastado muitos quilômetros e segue seu destino programado, para chegar à Índia um ano depois da partida.

Em Calicut, Cabral cumpre sua tarefa e assina um acordo comercial. Ali instala uma feitoria onde morre Pero Vaz de Caminha quando ela foi atacada por muçulmanos. Cabral, então, bombardeia Calicut, apreende muitos barcos árabes e segue para Cananor, no atual estado de Kerala, mais ao sul daquele continente. Lá carrega as naus com especiarias e outros produtos e retorna a Portugal onde chega em Lisboa mais de dois anos depois de sua partida. Cabral não é aclamado em Portugal como herói; nem pelo que fez na Índia, pois não conseguiu fazer nenhum acordo comercial, e nem como descobridor de terras desconhecidas que mais tarde chamariam de Novo Mundo. Pedro Álvares Cabral nunca recebeu do Rei as mesmas honrarias dadas a Vasco da Gama e nunca retornou à terra da verdadeira cruz – a Vera Cruz. Morreu esquecido e foi sepultado na Igreja da Graça em Santarém, quando tinha pouco mais de 50 anos.

Essa é a história, que a história oficial não ensina e nem conta. Um homem com a cultura e o preparo de Pedro Alvarez Cabral, comandando a mais poderosa armada do século XV, com marinheiros que tinham o controle total sobre suas embarcações, não poderia, certamente, chegar aqui por acaso

com barcos sendo empurrados por ventos e corrente marinhas sem controle.

Pedro Álvares Cabral não navegou para o sul descendo a costa africana para chegar á Índia imediatamente, como fizeram outros navegadores. Também não viajou para o oeste e por essa rota chegar à Índia para provar que a terra era redonda. Pedro Álvares Cabral atravessou um oceano mais ou menos conhecido, para tomar posse de terras que em toda a Europa já se sabia que existiam a 370 léguas a oeste das ilhas do Cabo Verde. Ao passar por essas ilhas, a frota portuguesa, se descesse em linha reta para o sul, na altura de Salvador, na Bahia, estaria no meio da distância entre Brasil e África. Se tivesse seguido a rota conhecida e navegada por desbravadores espanhóis, chegaria ao nordeste do Brasil facilmente, como já havia chegou Pinzon em Fortaleza, no Ceará. Se tivesse seguido para a Índia, ao passar pelas ilhas de Cabo Verde teria seguido a rota de Vasco da Gama, portanto conhecida e bem marcada nas cartas náuticas que possuía. Cabral, na volta para a rota seguida por Vasco da Gama para a Índia, navegou para o sul da África sempre pela costa e ai fez a manobra Volta do Mar e seguiu para o leste contornando o Cabo da Boa Esperança deixando Oceano Atlântico e entrando no Oceano Índico. Uma questão ainda sem resposta não explica como Pedro Alvarez Cabral saiu da costa brasileira e retomou seu destino já que havia se “perdido” e não sabia onde estava. Outra questão é que a carta de Caminha foi mandada a Portugal em um dos navios da frota para levar a D. Manuel I a noticia da posse da nova terra. Esse navio retornou a Portugal e seu capitão, Gaspar de Lemos, entregou a carta ao Rei porque navegou com segurança e precisão até Lisboa. “E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.” A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu para o Rei - somente descoberta em 1773, mantida inédita por mais de 200 anos, e somente publicada no Brasil em 1817 - pelo que contém, pelo que narra e pelo pedido que faz e pelas sugestões que dá, não mostra nenhuma surpresa significativa. Mostra, pela narração, que se cumpria um projeto, uma missão. Talvez sigilosa ou pelo menos, discreta;por precaução, quem sabe. A carta que Caminha escreveu para D. Manuel I não trata das questões técnicas da navegação; trata apenas dos aspectos curiosos do “achamento”. Os capitães dos navios também fizeram seus relatos. Esses porém sobre “as singraduras”: “Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.E portanto, Senhor, do que hei de falar começo: E digo quê: A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março...”

Caminha relata o desaparecimento de uma das naus que durante a viagem se perdeu da frota, apesar do “mar calmo e das boas condições de navegação”, única referência que faz sobre um fato que não estava aos aspectos paisagísticos da nova terra e de sua gente. Nunca mais se teve notícia desse barco e de sua tripulação. “...se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser ! Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !”

Nossos nomes: Brasil, brasileiro, índios.

Os portugueses da esquadra de Cabral ao avistarem terra imaginaram que fosse uma ilha; e ao monte redondo que se sobressaia no horizonte, o Capitão-mor deu o nome de Pascoal, estavam na páscoa, e a terra, batizaram de Vera Cruz.Nosso nome definitivo, Brasil, não se sabe quando surgiu. O termo e a idéia de Brasil foram sendo aos poucos construídos no imaginário europeu e, particularmente, no dos portugueses. Várias hipóteses e muitas lendas referen-se a origem do nome do Brasil. Uma delas diz que a palavra brasil tem origem celta.Os fenícios mantiveram um intenso comércio de um corante vermelho, cor de brasa, extraido de um mineral cujos principais fornecedores eram os celtas, povo minerador que explorava jazidas na Península Ibérica.

Outra hipótese diz que na Idade Média alguns artesãos usavam um corante vermelho extraído de um tipo de madeira que em Veneza chamavam "berziy", e em Gênova "brazi", nome que logo foi usado para designar também a madeira de onde era extraído.Na Espanha essa madeira ficou conhecida como "palo brasil", e em Portugal como “pau-brasil”. A industria textil européia, então, passou a usar a resina dessa árvore porque ela dava aos tecidos uma cor mais bem definida, de qualidade superior aos corantes de origem mineral. Além dessa utilidade a madeira vermelha pau-brasil era aproveitada na marcenaria para a fabricação de todo tipo de móveis finos e arcos de violinos.Para suprir o enorme mercado europeu, havia cada vez mais necessidade de extrair essa arvore das matas brasileiras. Assim, em menos de um século não havia mais árvores para serem abatidas na quantidade que o mercado exigia.

Nada mais se sabe a respeito da origem do nome brasil; mas, sabe-se que os nossos nativos habitantes nunca fiseram referencia a nehuma árvore chamada “pau-brasil” Há uma história que conta que os portugueses viram alguns nativos girando em torno de uma árvore e gritando “brasil, brasil”, daí terem concluido ser o nome da árvore. A arvore que eles chamaram brasil era a “ibira pitanga” que significa madeira vermelha na lingua tupi falada pelos nossos nativos habitantes. Outra versão dessa história, que colabora para a origem do nome brasil, é que os nativos invocavam um espiruto da floresta em volta de uma árvore. Chamavam o espírito de brasil.

Os primitivos habitante dessa nossa terra nunca foram chamados índios pelos portugueses, já que não estavam enganados achando estarem na Índia, pois a conheciam muito bem e sabiam onde ficava. Pero Vaz de Caminha não os chamou de índios em toda a sua Carta ao Rei. No século XVI eram chamados de brasileiros apenas aqueles que comercializavam pau-brasil. Aos poucos costumeiramente o termo brasileiro passou a identificar os nascidos na colônia portuguesa para diferenciá-los dos que tinham vindo para cá de Portugal. Os nascidos no Brasil só foram chamados oficialmente de brasileiros muito tempo depois, em 1824, época da nossa primeira Constituição. Antes do Brasil ter seu nome oficial, foi chamdo de muitos nomes: além de ilha de Vera Cruz, terras de Santa cruz, nossa terra já foi conhecidas como terra dos papagaios, monte pascoal, Nova Lusitânia e Cábralia. “Chamaram de Brasil por ser vermelho (a madeira) e por ter semelhança de brasa e daqui ficou essa terra com esse nome de Brasil” escreveu o cronista portugues Pero de Magalhães Gandavo, na época colonial.

Caminho conhecido.

Um outro indício de que os portugueses sabiam da existência dessa nossa terra é que em 1498 D. Manuel I encarregou Duarte Pacheco Pereira, um navegador militar, geógrafo e cosmógrafo, de reconhecer as terras situadas a 370 léguas a oeste das Ilhas do Cabo Verde. Duarte Pacheco Pereira foi quem assinou, “na qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal”, o Tratado de Tordesilhas, que já em 1494 estabelecia a divisão, entre Portugal e o recém formado reino de Espanha, das terras que viessem a serem encontradas a oeste da Europa, chamada de Novo Mundo. O objetivo da viagem era reconhecer as terras situadas numa linha imaginária de demarcação. Essa expedição, saindo de Cabo Verde, chegou na costa dos atuais estados do Pará e do Maranhão em dezembro, tendo navegado até a foz do rio Amazonas. O Tratado de Tordesilhas não garantia a Portugal apenas as terras, que nem eram tão importantes naquela época, garantia-lhe, porém, sobretudo, o domínio das águas do Atlântico Sul, onde faziam a manobra náutica chamada “volta do mar”. Essa manobra era feita para evitar as correntes marítimas que empurravam os barcos portugueses para o norte quando navegavam junto à costa sudoeste africana, permitindo assim a passagem do cabo da Boa Esperança rumo a Índia. Pedro Alvarez Cabral conhecia muito bem essa manobra, pois antes de sua partida Vasco da Gama tinha lhe feito várias recomendações e passado muitas informações sobre sua ida a Índia numa viagem que levou 309 dias para ir até Calicut e 315 outros dias para retornar a Lisboa.

O caminho para chegar ao Brasil não era desconhecido. Naquele mesmo ano de 1500, entre 20 de janeiro e 2 de fevereiro, o navegador espanhol Vicente Yanez Pinzón chega ao litoral do Ceará onde hoje está a cidade de Aracati. Um mês depois outra expedição, essa capitaneada por Diego de Lepe chega ao litoral cearense em um local que o navegador espanhol batizou de “Rostro Hermoso”, onde é o atual porto do Mucuripe em Fortaleza. Esses espanhóis chegaram ao Brasil praticamente junto com os portugueses, apenas um mês antes de Pedro Alvarez Cabral, que aportou na costa baiana com uma poderosa frota naval numa expedição oficial para tomar posse da terra em nome da Coroa Portuguesa

A passagem para o Mediterrâneo

Ceuta é uma ilha no estreito de Gibraltar, na costa africana. Tem 18,5 km² e, hoje, 75 mil habitantes. É um enclave espanhol em Marrocos, norte da África.Para ir do Atlântico para o Mediterrâneo tem-se que passar por Ceuta. Em 1415, certamente com muito menos habitantes, todos muçulmanos, a ilha foi tomado pelos portugueses. As causas para a conquista de Ceuta não são suficientemente claras, pois muitos historiadores divergem e não esclarecem. Uma delas é que os infantes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, da alta nobreza portuguesa, deveriam ser armados cavaleiros por um feito de guerra; e não havia nenhuma naquele momento. Entre outras causas uma diz que Ceuta era uma cidade rica e abria o tráfego português para o Mediterrâneo, a única “rota das especiarias”, tão caras e tão importantes pela dificuldade em consegui-las e trazê-las para a Europa. Pois os portugueses invadiram e tomaram a pequena ilha, com 19 mil soldados embarcados numa esquadra de 240 navios de transporte e de guerra. Os Mouros, seus habitantes, não ofereceram resistência, conta a história oficial. A pequena guarnição da cidade correu para fechar as portas, mas foram vencidos.

A história oficial considera a tomada de Ceuta como o início das conquistas portuguesas e que resultaram em “descobrimentos”. Porém desde 1279 no reinado de D. Dinis os portugueses ocupavam as Ilhas Canárias, na costa sudoeste da África, hoje pertencentes à Espanha, e até o reinado de D. João III, em 1557, navegaram e tomaram posse de muitas terras, sempre motivados a encontrar acesso direto a fontes fornecedoras de trigo, de ouro, de escravos e de especiarias orientais. Além dessa motivação econômica, para alcançar essas fontes de produtos escassos e até raros e principalmente muito caros, na Europa, os portugueses estavam ainda empenhados em debilitar o grande poderio islâmico, até que conseguissem seu extermínio definitivo. Assim, os portugueses juntaram à estratégia militar, a diplomática e o espírito cristão/evangelizador; uma herança das Cruzadas. O islamismo era o grande adversário da Cristandade. Não propriamente de seus fiéis seguidores, mas inimigo da Igreja organizada e de seus chefes que não podiam perder o poder milenar que detinham sobre reinos e cidades/estados em todo o ocidente. O poder não vinha apenas do ouro, dos escravos, e de produtos raros, mas principalmente de terras. A posse da terra e ampliação de territórios com tudo o que houvesse neles – tudo literalmente - sempre garantiu poder e supremacia. As especiarias, consideradas o ouro da Índia, eram a canela o gengibre e a pimenta. E trazê-las de lá até a Europa, além de custar uma fortuna, ainda havia os muitos riscos de roubos e assaltos. D. João II para reduzir os custos das trocas comerciais com a Ásia e monopolizar o comércio, deu início ao caminho marítimo para a Índia para, por ele, buscar na fonte de origem, eles mesmos, os produtos de que precisavam. Assim, também deixavam de correr riscos de perdas por roubos, de pagar preços absurdos, propinas e outras contribuições a comerciantes, mercenários e atravessadores, como se diria hoje, por suas mercadorias. Um mercador português assim, descreveu a rota das especiarias da Índia até a Itália «Desta terra de Calecute vai a especiaria que se come em Portugal e em todas as províncias do Mundo; vão também desta cidade muitas pedras preciosas de toda a sorte. Aqui carregam as naus de Meca a especiaria e a levam a uma cidade que está em Meca que se chama Judeia. E pagam ao grande sultão o seu direito. E dali a tornam a carregar em outras naus mais pequenas e a levam pelo Mar Ruivo a um lugar que está junto com Santa Catarina do Monte Sinai que se chama Tunis e também aqui pagam outro direito. Aqui carregam os mercadores esta especiaria em camelos alugados a quatro cruzados cada camelo e a levam ao Cairo em dez dias; e aqui pagam outro direito. E neste caminho para o Cairo muitas vezes os salteiam os ladrões que há naquela terra, os quais são alarves e outros.

Aqui tornam a carregá-la outra vez em umas naus, que andam num rio que se chama o Nilo, que vem da terra do Preste João, da Índia Baixa; e vão por este rio dois dias, até que chegam a um lugar que se chama Roxete; e aqui pagam outro direito. E tornam outra vez a carregá-la em camelos e a levam, em uma jornada, a uma cidade que se chama Alexandria, a qual é porto de mar. A esta cidade de Alexandria vêm as galés de Veneza e de Génova buscar esta especiaria, da qual se acha que há o grande sultão 600 000 cruzados; dos quais dá, em cada ano, a um rei que se chama Cidadim 100 000 para que faça guerra ao Preste João.»

Por essa tortuosa rota as especiarias da India chegavam a Veneza e Génova de onde eram então enviadas para todas as outras cidades da Europa com acréscimos e mais acréscimos em seu custo. Além disso não havia nenhuma garantia de que chegassem as mãos de seus compradores. Para os portugueses, portanto, estabelecer uma rota marítima era garantir suas mercadorias contra os assaltos e contra a cobrança de direitos de uso de portos, transportes e pagamentos a reis,sultãos e atravessadores. Abrir caminho marítimo para navegar pelo planeta era portanto recompensador e demonstrava que haveria grande rendimento financeiro e econômico à Coroa, uma vez que Portugal iria ligar as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa.

D. João II então rei de Portugal desejava dominar as rotas comerciais marítimas e expandir o reino de Portugal que com sua solida presença marítima estava se transformando em Império. Alguns conselheiros da corte e grande parte da alta nobreza eram porém contra esse projeto de D. JoãoII porque além de estarem satisfeitos com o comércio da Guiné e do Norte da África, temiam não poder sustentar e manter outros territórios e arcar com os altos custos das expedições. O Velho do Restelo, de Os Luziadas, de Luis de Camões, trata disso na partida de Vasco da Gama para a Índia.

D. João II já havia morrido e coube então a seu sucessor D. Manoel I continuar com o projeto de expanção apesar dos protestos de muitos conselheiros e influentes fidalgos. É nessa partida que entre a multidão o Velho do Restelo faz seu protesto:

"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

O caminho marítimo para a Índia

Alguns anos antes de Vasco da Gama sair de Lisboa para descobrir o caminho para as Índias, os portugueses, em 1481, estabeleceram em Benin, no Golfo de Guiné, uma feitoria, escravizando seu povo. De lá, muitos deles, foram trazidos para o Brasil quando era colônia de Portugal. Foi em Benin que souberam que havia um reino para o oriente, o Reino de Ogané, cujo príncipe cristão era muito venerado por seu povo e tinha grande poder. D. João II animou-se com a notícia e em 1487 mandou um padre, frei Antônio de Lisboa e Pedro de Montarroio buscar mais informações sobre esse lendário reino. A missão foi um fracasso e os dois enviados apenas conseguiram chegar a Jerusalém de onde regressaram para Portugal porque não sabiam falar árabe e não entendiam nada do que seus habitantes diziam. Temendo o pior, os enviados de D. João II retornaram a Lisboa, uma viagem de ida e volta por terra.

Esse reino era onde está hoje a Etiópia habitada por cristãos monofistas da Abissínia e por cristãos nestorianos da Ásia Central. Seu soberano era portanto cristão mas não era Católico Apostólico Romano como os portugueses. As lendárias notícias diziam que ele era descendente de Baltazar, um dos Três Reis Magos, e que lá havia monstros de todos os tipos, entre eles homens com cabeça de cachorro e paisagens iguais as do Jardim do Éden. Mais entusiasmado ainda D.João II preparou, com cuidado e secretamente, dois homens de sua inteira confiança para retomarem as buscas. Afonso de Paiva partiu para a Etiópia e Pedro de Covilhã para a Índia a partir de Valência passando por Barcelona, Nápoles, Rodes, Alexandria, Cairo e Áden, onde se separaram e seguiram, cada um, caminhos diferentes; um para a Etiópia outro para a Índia usando diversos meios de transporte. Esses homens, porém, nunca retornaram, mas mandaram informações suficientes para que D. João II se assegurasse de que a épica aventura marítima poderia ser realizada.

No caminho para a Índia.

Para garantir a missão por mar, ao longo do caminho foram sendo instaladas feitorias e fortalezas. Vasco da Gama, capitão da armada de quatro naus e, ao todo composta por 170 tripulantes, levava muitos presentes para serem distribuídos aos reis que encontrasse. Os marinheiros levavam as “cartas de marear” onde toda a costa africana estava marcada em detalhes. Levavam quadrantes, astrolábios, tabuas de cálculos e as Tábuas Astronômicas de Abraão Zacuto. Uma das naus, a que era comandada por Gonçalo Nunes, levava apenas mantimentos; biscoitos, feijão,carne seca,vinho,farinha,azeite,salmoura e muitas outras “coisas de botica”, suficientes para três anos.

Os diários de bordo das naus relatam que ao longo da viagem pela costa africana encontraram rica fauna e flora e curiosidades surpreendentes para europeus como as tribos que comiam lobos-marinhos, baleias, gazelas e raízes de ervas; homens que se cobriam de peles de animais e portavam como armas, simples lanças de madeira. Também impressionou os europeus homens que tocavam flautas rústicas de forma coordenada. Porém havia outro lado, além desse, cheio de curiosidades e exotismos. A frota também assaltava navios fazia prisioneiros para trabalhar como pilotos e realizar outros trabalhos. Em Mombaça o capitão-mor, Vasco da Gama, trocou prisioneiros por pilotos cristãos. E pelo caminho, navegando sempre pela costa, faziam paradas para colocar “padrões”, marcos de pedras com as armas da coroa portuguesas, afirmando a soberania de Portugal no local onde estavam colocados.

Em Calicut, Vasco da Gama, o primeiro europeu a chagar a Índia por via marítima,tratou de negociar com o soberano Samutiri Rajá, em 18 de maio de 1498. Para comprovar o encontro, o Rajá elaborou uma carta ratificando o encontro: “Vasco da Gama, fidalgo da vossa casa, veio à minha terra, com o que eu folguei. Em minha terra, há muita canela e muito cravo e gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que quero da tua é ouro e prata e coral e escarlata”.

Vasco da Gama retorna a Portugal. D. João II, o grande idealizador da viagem marítima, já havia morrido. O rei D. Manoel I que havia mandado que a exploração fosse realizada, recebeu Vasco da Gama com grande contentamento dando-lhe o título de Dom e muitas recompensas. Logo em seguida avisou aos reis de Espanha, orgulhoso do grande feito, que as rotas descobertas seriam exploradas pela Coroa Portuguesa.

África

Os portugueses sempre tiveram interesse nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, não só por sua posição estratégica na costa africana, mas por representarem terras de forte potencialidade econômica. A disputa por essas terras e a forte motivação expansionista, levou Portugal e Castela ao primeiro conflito na península ibérica. Os portugueses perderam as Canárias para Castela e colonizaram o arquipélago da Madeira adotando o sistema de capitanias, em 1424, mais de um século antes de implantá-las no Brasil Colonial. O Império Português foi o primeiro, e o que durou mais tempo, de todos os impérios coloniais; mais de 500 anos estabelecendo rotas comerciais em escala global, ocupando e explorando terras desconhecidas da maioria dos reinos do mundo. Na Madeira tiravam cedro e outras madeiras nobres, e a anileira de onde extraíam um corante azul. Em pouco mais de 20 anos a Madeira tornara-se um importante centro produtor de cereais. Porém, entrando em decadência, por ordem do infante D. Henrique, a produção de cereais deu lugar à cultura de cana-de-açúcar, considerada naquela época, uma especiaria. A cultura da cana-de-açúcar e a industria de produção de açúcar desenvolveu-se até o século XVII, quando então é transferida para o Brasil. A Madeira desde então passa a produzir apenas seu hoje famoso vinho.

No arquipélago dos Açores, na época desabitado, os portugueses trataram de povoá-lo com o mesmo sistema de capitanias e passam a produzir açúcar,vinho,trigo e gado.

Os portugueses querem toda a áfrica; o infante D. Henrique dirige todas as explorações como se fosse seu patrimônio pessoal. Assim pensava poder chegar a Jerusalém e expulsar os Muçulmanos, recomeçando as Cruzadas.

As explorações marítimas portuguesas, entretanto, não podem ser creditadas a atuação exclusiva desse infante porque por trás dessas ações de conquista de terras estavam muitos mercadores, comerciantes, traficantes de escravos, armadores ricos, judeus milionários expulsos de Castela, os Papas e muita gente mais participando das navegações cada vez mais aprimoradas com novos instrumentos de navegação e com o desenvolvimento e a construção de novas embarcações. E assim foi: primeiro a África, depois a Índia. E o outro lado do Atlântico, assim que fosse possível.

Na África, em 1441, Nuno Tristão chega ao Cabo Branco, na Mauritânia. Navegando por um rio, o Rio D’ouro, encontra e dele tira ouro em pó. Desse ponto da costa atlântica africana, os portugueses pensavam estabelecer grandes atividades comerciais suficientes para garantir suas necessidades econômicas e financeiras. Com os escravos e o ouro que traziam de Guiné e de Mina, trocados por tecido e trigo da Madeira, a moeda portuguesa tinha grande valor. Em Lagos, na Nigéria, funcionava um depósito de escravos e de produtos de Guiné e de Mina, a Casa de Guiné. Em 1444, Dinis Dias descobre Cabo Verde que será depois povoada por negros da Guiné, estabelecendo-se a cultura do algodão. Uma década depois, em l455 o Papa Nicolau V emite a bula, “Romanus Pontifex”, declarando que as terras e mares já descobertos ou a serem descobertos pertencem aos reis de Portugal. Um ano antes, esse Papa já havia concedido, também através de bula, o monopólio das expedições marítimas ao Infante D. Henrique.No ano em que os portugueses chegam a Serra Leoa, em l460, morre o Infante D. Henrique e as explorações marítimas são relegadas e somente retomadas 5 anos depois. O rei D. Afonso V entrega a um mercador de Lisboa, Fernão Gomes, a missão de continuar com as explorações marítimas. A condição imposta era de que durante 5 anos “em cada um desses cinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante, léguas de terras, de maneira que ao cabo do seu arrendamento, desse (totalizasse) 500 léguas descobertas”.

A partir de Serra Leoa, os portugueses tomam posse de Benin,Calabar, Gabão, ilhas São Tomé e Príncipe onde passam a produzir açúcar com a mão de obra dos escravos de Angola. E assim seguem na conquista da África até 1486 com a fundação de uma feitoria na Nigéria.

Abraão Zacuto

Abraão Ben Samuel Zacuto era um judeu rabino, astrônomo, matemático e historiador. Zacuto foi professor de astronomia nas universidades de Salamanca, Saragosa e Cartagena, na Espanha. Em 1492 os judeus são expulsos da Espanha e Zacuto refugia-se em Portugal onde é nomeado pelo rei D. João II, Astrônomo e Historiador Real. Na Corte o rei também lhe consultou sobre a possibilidade de se viajar por mar até a Índia. Ele não só confirmou a possibilidade como ainda encorajou o rei mostrando que isso era possível navegando com seu astrolábio melhorado, agora de metal, e com suas tábuas astronômicas. Zacuto ensinou, com esses instrumentos, os navegantes portugueses a utilizá-los para orientarem-se em alto mar com suas velozes caravelas. Vasco da Gama, e Pedro Alvarez Cabral utilizaram as Tabuas Astronômicas que Zacuto preparou para os anos de 1497 a l500.

D. Manoel I

Em 27 de outubro de 1495 D.Manuel I é aclamado como o 14º rei de Portugal. É nesse reinado que inicia-se nosssa história brasileira. D. Manoel I, O Venturoso, O Bem-Aventurado ou O Afortunado, era assim congnominado pelos importantes eventos ocorridos durante seu reinado, como a descoberta dos caminhos marítimos para a Ìndia e para o Brasil. D. Manoel continuou apoiando decisivamente os descobruimentos portugueses e o desenvolvimento dos monopólios comerciais. Durante seu reinado, Vasco da Gama retorna de seu caminho marítimo para a Índia em 1498 e Pedro Álvares Cabral confirma a existência de terras do outro lado do Atlântico em 1500.Também no seu reinado organizam-se outras viagens para o ocidente, tendo-se chegado à Groelândia e a Terra Nova. O reinado de D. Manoel decorreu num «contexto expansionista, já preparado por seu antecessor, D. João II, e pelas consequências políticas e económicas que advieram desses acontecimentos. Foi o primeiro rei a assumir o título de Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia”.

A extensão de seu reinado “permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, autocrática, detentora de um programa político de potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática até ao seu mais ínfimo detalhe”. D. Manuel decide-se por uma política de expansão e põe em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a realização da viagem de Vasco da Gama em 1497, apesar da oposição de grande parte da nobreza e do seu conselho real. D. Manuel construiu de um Estado absolutista e um governo iluminista - movimento intelectual filosófico que sómente apareceria na segunda metade do séculoXVIII - como uma espécie de contraponto ao centralismo de seu antecessor D. João II.

A política expansionista de D. Manuel contribuiu para a constituição do Império Português, fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa naquela época. D. Manuel utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino, sendo seus mais famosos exemplos o Mosteiro dos Jerônimos e a Torre de Belém. A completa consagração europeia de D. Manuel aconteceu em 1513 quando enviou ao papa Leão X magníficos presentes Eram pedrarias, tecidos, jóias e animais raros, entre eles um cavalo persa, um elefante e um rinoceronte da Índia. Isso encantou as cortes européias.

Na política interna, D. Manuel, que reinou 26 anos, dedicou-se à reforma dos tribunais e do sistema tributário, adaptando-os ao progresso econômico que Portugal então vivia.Investiu uma boa parte da fortuna do reino na construção de igrejas e de mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colônias através dos missionários católicos. Entretanto, o reinado de D. Manuel também deve ser lembrado pela perseguição feita a judeus e muçulmanos entre os anos de 1496 a 1498. Esta política extremista talvez tenha sido tomada para, de alguma forma, agradar aos reis católicos de Espanha, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, já que era uma das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, a princesa Isabel de Aragão. Dessa intolerância com judeus e muçulmanos resulta o Massacre de Lisboa, também conhecido como a matança da Páscoa de 1506. Uma multidão movida pelo fanatismo religioso perseguiu, violou, torturou e matou entre duas mil a quatro mil pessoas, acusadas de serem judias. Isto aconteceu nove anos depois de 93 mil judeus terem sido forçados a converção católica por ordem de D. Manouel depois de terem sido expulsos da Espanha pelos reis católicos, e antes da Santa Inquisição Católica estabelecer-se em Portugal.

Massacre em Lisboa.

A matança começou no Mosteiro de São Domingos no dia 19 de abril, um domingo, quando, na missa, os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste que devastavam Portugal, alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado. Para os católicos presentes, aquilo, que parecia ser um fenômeno, foi interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias. Era, portanto, um milagre. Nessa missa estavam muitos cristãos novos, os judeus convertidos a força ao catoliscismo sob pena de serem mortos caso se recusassem a fazê-lo, e um deles tentou explicar que aquela luz iluminando o rosto de Cristo no altar era apenas o reflexo da luz de uma lamparina. Os católicos passaram, então, a acusar os judeus de serem os responsáveis pela seca, pela fome e pela peste que castigava Portugal, pois eram hereges. Incitados por frades franciscanos que prometiam absolvição dos pecados cometidos nos últimos cem dias para quem matasse os hereges, milhares de judeus foram massacrados durante 3 dias.

Por causa da peste, a corte estava em Abrantes quando o massacre começou. D. Manuel, avisado dos acontecimentos, logo mandou magistrados para tentar pôr fim ao banho de sangue. Porém os poucos representantes da autoridade, eram também acusados de hereges e foram obrigados a fugir. Abandonados e sem nenhuma defesa milhares de judeus,homens, mulheres e crianças, foram torturados, massacrados, violados e queimados em fogueiras improvisadas no Rossio. Os cristãos novos eram acusados de serem os responsáveis, entre outros "males", da causa da seca e da peste que assolava Portugal, e de deicídio. A matança dos dias 19,20, e 21 de abril em plena Semana Santa de 1506, só acabou quando foi morto um judeu que era escudeiro do rei D. Manuel, João Rodrigues Mascarenhas, com a chegada das tropas reais para acaba com o conflito. D. Manuel I puniu os envolvidos, confiscando-lhes os bens. Os padres dominicanos, os instigadores da matança com suas promessas de absolvição de todos os pecados a quem matasse pelo menos um judeu, foram condenados à morte.

O Massacre de Lisboa foi o ínício do crescente anti-semitismo em Portugal antes do estabelecimento do Tribunal da Inquisição que funcionou de 1540 até 1821. Muitas famílias judaicas fugiram ou foram expulsas do reino, sendo o destino mais acolhedor a Holanda e um destino secundário, mas importante, o Brasil. Mesmo expulsos, os judeus só podiam deixar Portugal mediante o pagamento de "resgate" à Coroa. Os judeus abandonavam suas propriedades ou as vendiam por preços irrisórios e viajavam apenas com a bagagem que conseguissem carregar. O Massacre de Lisboa de 1506 ficou como que apagado da memória coletiva, um pedaço de vergonha esquecida que não está nos livros de História, caiu no esquecimento e são poucos os historiadores que lhe fazem referência. O horror e a violência apenas foram descritos e reproduzidos por uma meia dúzia de autores, entre eles Damião de Góis, que escreveu a “Crônica do Felicissímo Rey D. Emanuel da Gloriosa Memória”, por estranha encomenda do Cardeal D. Henrique em 1558.

“No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, tirando-os delas de arrasto pelas ruas, com seus filhos, mulheres, e filhas, os lançavam de mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos, e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes. Tornaram terça-feira este danados homens a prosseguir a sua crueza, mas não tanto quanto nos outros dias porque já não achavam quem matar, pois todos os cristãos-novos que escaparam desta tamanha fúria, serem postos a salvo por pessoas honradas, e piedosas que nisto trabalharam tudo o que neles foi.»

O Massacre de Lisboa de 1506 foi uma das consequências da falência da política pérfida de D. Manuel: primeiro as conversões forçadas como uma tentativa de manter os judeus como cristãos e depois por ter mandado seu embaixador em Roma, em missão secreta, pedir ao papa, em 1515, a permissão de estabelecer a Inquisição em Portugal.D. Manuel I morreu em 1521 e está sepultado no Mosteiro dos Jerônimos em Lisboa.

A Dinastia Filipina

Terceira Dinastia da Monarquia Portuguesa de l580 a 1640 é conhecida como a Dinastia Filipina. Isso porque os 3 reis, durante 60 anos, chamavam-se Felipe. O rei de Portugal também era o Rei de Espanha. Então, os domínios da dinastia filipina, juntos, formaram o maior Império que já existiu no mundo, com territórios em quase todos os continentes. America do Norte (México) América Central, América do Sul, África, Índia (Goa, Diu, Calicut) Filipinas, China (Macau),Sul da Itália, Sicilia, Corsega, Sardenha, Indonésia (Timor-Leste e Molucas) e o Sacro Império Romano-Germânico, já que Filipe II era da dinastia dos Habsburgos. A União Ibérica teve todo o poder do comércio e do desenvolvimto tecnológico da época. O Império da União das Coroas de Portugal e Espanha foi muito maior que o Império Romano, o Império Mongol ou o Império Macedônio. Depois de 1640, já em decadência a Dinastia Filipina da lugar a Dinastia de Bragança com aqual o Brasil já tem muito a ver pois reinou no Império do Brasil entre l822 e 1889. Em Portugal a Casa de Bragança deixa de reinar com D. Pedro IV – o nosso D. Pedro I – e a monarquia acaba com seu último rei, D. Manuel II, 21 anos depois, como já tinha sido no Brasil, derrubado do trono por um golpe republicano em 5 de outubro de l9l0. No Brasil, a monarquia já havia acaba com D. Pedro II sendo derrubado do trono por um golpe militar republicano em 15 de novembro de 1889.

O Império Português ou Império Colonial Português foi o primeiro e o mais duradouro dos impérios coloniais da Era das Explorações Marítimas Colonizadoras, de 1415, com a tomada de Ceuta, até 1999, quando em 30 de agosto o povo de Timor Leste decide, em referendo, por sua independência.

O termo “descoberta” é mal aplicado para determinar a tomada e posse de nossa e de outra terras, e as primeiras navegações portuguesas entre continentes por novas rotas marítimas. Acreditar que o Brasil foi “descoberto” por acaso é manter a visão eurocêntrica do século XV e não considerar a existência dos diversos povos que viviam em grupos sociais organizados, já naquela época, 1500, habitando o litoral brasileiro há pelo menos 200 anos.

Este artigo não pretende ser mais do que é; nem ensaio,nem tese. Pois sem o rigor academico que é exigido nesses trabalhos, em sua pesquisa e na construção de sua narrativa, faz um breve relato histórico do ambiente onde e quando se deu a chegada dos portugueses em nossa terra. Não por acaso mas, sim, para tomar posse, dominar e explorar as riquesas naturais existentes e o povo primitivo. E assim fizeram: com o pau brasil, com o ouro e escravisando e matando milhões de pessoas com a colonização que perdurou por quase 400 anos. E nos deixaram um idioma e uma cultura que misturada com a dos primitivos e originais habitantes e combinada com a dos escravisados africanos nos deu a identidade atual de cafuzos e mamelucos, mulatos, sararas, brancos e negros desde que os conquistadores portugueses tomaram posse dessa terra em 1500.Não foi por acaso.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 08/10/2007
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