Análise do texto Carta de Júlia Lopes de Almeida.

Weverton Duarte Fragoso

Pós Graduação – Literatura Brasileira.

Orientador: Hugo Monteiro Fereira

Resumo: Este artigo propõe analisar o texto Carta, publicado por Júlia Lopes de Almeida em 1907. Verificaremos aqui os prós e contras do texto que foi direcionado a educação básica de sea época.

Palavras-chave: Educação, literatura, escola.

INTRODUÇÃO

Texto escrito por Julia Lopes de Almeida, Carta, foi publicado no livro Histórias da nossa terra. 1907. A autora publicou romances, contos, literatura infantil, teatro, jornalismo, crônicas e obras didáticas. É considerada uma mulher avançada para seu tempo, pois se declarava escritora quando não era de bom-tom uma mulher dedicar-se à literatura. Demonstrou em sua época ter idéias novas quanto ao feminismo e a sociedade.

O texto em questão pertence ao gênero cartas. Para esclarecimentos quanto a este termo devemos primeiramente entender a definição de “gênero”. Para Marcuschi (2001), a definição dos gêneros é de natureza sóciocomunicativa, baseada em parâmetros pragmáticos e discursivos, visto que sua sedimentação se dá por meio de práticas sociais que visam a determinados propósitos comunicativos.

Agora, ao analisar o gênero carta, Silva (1997) afirma que esse gênero discursivo permite uma variedade de tipos de comunicação, tais como: pedido, agradecimento, conselho, congratulações, desculpas, informações, intimação, prestação de contas, notícias familiares, etc.

Embora hajam diferenças entre tipos variados de cartas eles são subgêneros e trazem, ainda segundo Silvia (1997), apresentam traços comuns, sua estrutura básica: a seção de contato, o núcleo da carta e a seção de despedida.

O texto de Julia Lopes tem como protagonista e autora da carta Isaura, uma menina em idade escolar, que conta para sua irmã Olímpia, como tem sido sua vida agora que não a tem mais em seu convívio.

Encontramos na narrativa a descriçãodas atividades diárias de Isaura, que são pautados pela obediência:

“Em obediência ao bom regime estabelecido em casa de mamãe, continuo a levantar-me às seis horas da manhã.”

Pela boa conduta:

“Depois de tomar o meu banho frio e de arrumar o meu quarto”

E por bons exemplos:

“...levo as minhas lições bem sabidas e considero a minha professora como uma amiga a quem minha presença vai dar prazer.”

O texto mostra um caráter educativo. Seu principal objetivo é mostrar às crianças, qual é o comportamento adequado para uma criança, partindo de casa até a escola.

Alem de mostrar um modelo de comportamento través de Isaura o texto também mostra uma professora amável, amiga e que nunca ameaça ou agride seus alunos. Essa concepção de professora estava entre as idéias destacadas de Júlia Lopes, pois na época de publicação da obra os castigos físicos em sala de aula eram comuns e aceitos pela sociedade. Segundo Lima (2004) A perspectiva judaico-cristã sempre foi favorável por uma educação por meio de castigos físicos e a palmatória era um símbolo de disciplina na educação da geração do Brasil Colonial. Mas foi ainda muito usada depois da Independência.

Os castigos físicos foram abolidos da legislação nos anos 30, segundo Galvão (2005), mas ainda se mantiveram por muitos anos nas escolas e ainda persiste em algumas instituições.

Porém a professora descrita no texto de Julia Lopez é incapaz de cometer atitudes destas:

“Com a sua voz já enrouquecida, ela grita, zanga-se, mas... nunca a sua mão ameaçou ninguém nem de um beliscão!”

Mas, talvez pela aceitação social que o castigo tinha e porque o texto seria usado em escolas que usavam dessa atitude, a autora deixa margem para um questionar a moralidade do castigo:

“A verdade é que bem os merecemos às vezes!”

Antes de uma análise mais crítica do texto há de se fazer uma observação histórica. Na época, os textos produzidos para crianças estavam deixando de ser meras traduções e para se tornarem criações de autores nacionais, entre eles Julia Lopes. Os textos traziam consigo valores burgueses, nacionalistas e familiares. Segundo Lajolo (1988) a escola era destinatária principal deste tipo de obra e por isso emigra para o interior dos textos. Exerce uma função pedagógica e fazendo referencias quanto ao bom e ao mal aluno.

O comportamento apresentado para uma criança em idades escolar parece ser o mais adequado possível. Isaura, a protagonista, deixa claro que é este comportamento que dá a ela um bom relacionamento com a família e com a professora, e inclusive é uma receita para ter sossego e boa saúde.

“A este método inalterável que tenho para tudo, é que devo o ter tão boa saúde e tanto sossego”.

Há de se convir, no entanto, que o texto parece irreal, pois . está longe de entrar no universo infantil. Não tem no texto uma linguagem literária, pois não traz consigo a crítica ou a interpretação, apenas a exposição de uma idéia: a de um comportamento adequado. Segundo Perrotti (1986) “a linguagem da arte possui caminhos próprios que não se confundem com a catequização”.

A escolha das palavras também não tem a simplicidade infantil.

“e foi com imenso júbilo que beijei a nossa adorada mãe.”

È mais fácil imaginar que uma criança escreveria tal carta apenas se estivesse cumprindo com alguma tarefa escolar. Nunca espontaneamente.

CONCLUSÃO.

No período em que foi escrito o texto serviu para seu propósito. O processo da aprendizagem da criança passa pela rebeldia e pela formação de valores tanto quanto pela obediência e imposição de limites. A escola não deve esperar crianças perfeitas e nem procurar formar adultos padrões, mas sim criar os espaços para que cada indivíduo alcance sue lugar no mundo.

BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFÍA

LAJOLO, MARISA, Um Brasil para crianças (Para conhecer a literatura infantil brasileira: história,autores e textos) [co-autoria com R.Zilberman] SP.Global. 1988.

GALVÃO, ANA MARIA DE OLIVEIRA, ANTÔNIO AUGUSTO GOMES BATISTA A leitura na escola primária brasileira:alguns elementos históricos, in http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/escolaprimaria.htm, visto em agosto de 2005

MARCUSCHI, L. A Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e

eventos comunicativos. In: I. Signorini (org.) Investigando a relação oral/escrito.

Campinas: Mercado de Letras, 2001.

PERROTTI, E. . O Texto Sedutor NaLiteratura Infantil.. SAO PAULO: ICONE, 1986.

RAYMUNDO DE LIMA Palmada educa?, Revista Espaço Acadêmico, Nº 42 , novembro de 2004 in http://www.espacoacademico.com.br/042/42lima.htm

Sharpe, Peggy A viúva Simões, Júlia Lopes de Almeida in http://www.editoramulheres.com.br/apresenta16.html visto em agosto de 2005.

SILVA, V. L. P. (1997) Variações tipológicas no gênero textual carta. In: I. G. V. Koch e

K. S. Monteiro de Barros Tópicos em Lingüística de Texto e Análise da Conversação.

Natal: EDUFRN, p. 118-124,

Saturnino Segrel
Enviado por Saturnino Segrel em 10/11/2005
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