NÃO JULGUEIS!

É curiosamente perversa a forma pela qual nós, cristãos, permitimos que declarados inimigos do Evangelho determinem quem somos, o que podemos e devemos fazer, pensar e sentir, o modo de criar nossos filhos, nossa participação na vida política e na decisão dos rumos da sociedade à qual pertencemos, como cidadãos que supostamente somos.

O cerceamento à liberdade de opinião já não é velado, assume toda a sua grotesca dimensão explicitamente tão logo seja detectado algum vestígio de qualquer elemento que se assemelhe, ainda que remotamente, a símbolos do cristianismo, particularmente à perspectiva cristã tal e qual se encontra nas Escrituras.

A Bíblia, conforme todo incrédulo sabe, é “preconceituosa e opressora”, não devendo ser interpretada como religiosos costumam fazer, pelo viés de sua própria hipocrisia, como instrumento de condenação daquilo que julgam inadequado em terceiros ou, imaginem, “pecaminoso”. Cabe à lucidez dos esclarecidos definir o que é aceitável e o que deve ser extirpado da cultura geral em termos de verdades sagradas procedentes de tão perigosa literatura, ora essa.

A isenção do cético salvará o futuro de uma nova Idade das Trevas...

Todo cristão cedo ou tarde tomará contato com o mantra preferido dessa gente razoável e tolerante : “Não julgueis e não serás julgado” , ou coisa do tipo... O fato é que a óbvia menção à condenação ao juízo temerário – pronunciada pelo próprio Cristo – não passa de apropriação indevida de recorte das Escrituras ao que convém ao processo de imposição de silêncio ao cristão. Também é recorrente o uso do “Se Jesus disse que não veio julgar, por que você, que se diz cristão, julga?”

Em ambos os casos há o uso indevido de um texto que foi, está claro, mal lido e portanto mal interpretado. Daí a ser mal aplicado é questão de oportunidade, como bem podemos constatar o tempo todo, nesses dias. O texto em Mateus 7 é uma advertência contra a hipocrisia do julgar de forma precipitada, o juízo temerário. O texto em João 12 diz respeito à própria dinâmica do anúncio das boas novas, e como o modo como o pecador reage ao Evangelho determina o seu destino na eternidade.

Ambos são textos fundamentais, em se tratando de Novo Testamento, e nenhum deles admite a acepção defendida pela exegese deformada da mentalidade politicamente correta da turma da “tolerância”. Confiram:

Mateus 7:1-5

Não julgueis, para que não sejais julgados.Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.

João 12:47,48

E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.

O ato de julgar, por si só, não está ‘sob julgamento’, aqui, não há nenhuma restrição ao ato tomado em si mesmo, já por razões óbvias : toda tomada de decisão de um ser racional parte de alguma apreciação com critério, aplicação de discernimento , ou seja , julgamento. A noção mesma de inteligência, a partir de sua raiz latina ‘intelligere’ , admite como possível sinônimo, vejam bem, ‘DISCERNIR’.A impossibilidade de exercer o escrutínio com base na razão é a demência, e é particularmente curioso que tão doutos sabichões metidos a intérpretes da Bíblia não percebam isso.

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 09/07/2020
Reeditado em 09/07/2020
Código do texto: T7000714
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