"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé." - 2 Tm 4

Imagine você sentado em uma poltrona de avião. Olha para o relógio, parece que o voo está atrasado. Se irrita impacientemente pela espera. Fecha os olhos na tentativa de simplesmente, desligar sua ansiedade. Porém, ela não passa. Entre um balançar e outro das suas pernas, um senhor um pouco gordo e careca senta ao seu lado. Carrega uma maleta de couro marrom. Coloca sobre a perna dele e retira um paninho para

enxugar sua testa suada.

- Dia calorento, não é amigo? - Tenta ele puxar conversa.

Você faz cara de poucos amigos, sorriso meio sem graça para não ser um chato.

Então, ele tira uma bíblia e um panfleto da pasta. Pronto!

Você pensa consigo mesmo. Um evangélico chato. Espera ele puxar conversa novamente, mas parece que o folheto que lê, o fez ignorar totalmente sua existência.

Curioso, você espiona o tal folheto. Ele parece estar em uma língua asiática. Não consegue entender nada do que diz, mas nota que as figuras são bonitas. Talvez, do tal paraíso.

Ele nota sua atenção e puxa novamente conversa. O carisma dele te prende num incrível dialogo que te faz esquecer totalmente que o avião já decolou.

Ele te conta que é um missionário. Esteve em diversas viagens pelo mundo, em países que você nunca ouvira falar. Porém, mais que isso, nota que aquele senhor barrigudo é muito inteligente. Lhe conta sua formação acadêmica. Formado nas melhores faculdades, largou tudo depois que recebeu um chamado a qual denomina “divino”.

Estava demorando, pensa você. Vai começar a pregar seu Deus.

Entretanto, ele não faz isso. Volta para suas aventuras. Conta que já passou fome, porque faz suas missões por conta própria, sem ajuda de ninguém. Inúmeras vezes apanhou por pregar uma crença diferente daqueles povos. Fora preso também.

- Preso?

- Oh, várias vezes. Mas aproveitei para anunciar o evangelho aos detentos e guardas. - Diz ele com maior naturalidade, acompanhado por uma gostosa risada que te deixa sem reação.

Você não sabe o que pensar. Se acha aquilo fantástico ou maluquice. Mas, antes que você possa opinar, ele prossegue te contando da vez que o avião que estava, caiu no mar. Após horas de desespero, fora arrastado para uma ilha. Se não bastasse o azar, foi picado por uma cobra e milagrosamente, sobreviveu. Ele avança em diversos relatos, você vai mergulhando naqueles contos fantásticos que parecem ter sido tirados de algum conto do Mágico de Oz.

Seu fascínio por aquele homem cresce a cada nova história. Pois, tudo isso, todos esses relatos em sua maioria trágicos, não tira o vigor e determinação daquele senhor que aparentava já passar dos 40 anos.

Poderia ser ficção, entretanto a narrativa acima é sobre a vida do maior apóstolo da igreja primitiva cristã, Paulo de Tarso.

Um homem que tudo dando certo ou errado, prosseguia. Prosseguir. Como é difícil não?

Continuar uma jornada quando todos os sinais apontam para a desistência. Quando literalmente parece que te abandonaram e você deve jogar a toalha para o alto. Mas, ele jamais desistiu.

Já no final de sua vida, pronto para ser decapitado pelo Império romano, Paulo escreve sua última carta ao seu filho na fé.

- Olha Timóteo – fico eu a reconstruir a cena – Estou partindo. Cabe você agora prosseguir a caminhada sem mim. Todavia, saiba que eu não chutei o balde nenhuma vez. Combati o bom combate. Dei tudo de mim. As vezes, fui ao nocaute. Mas não me permiti ficar caído. Me levantei, bati a poeira e lutei de novo. E de novo. Novamente. Até me impedirem.

Agora, já velho e cansado, estou preso num quartinho a três anos. Ganhei certo conforto e liberdade para pregar o evangelho de Cristo, porém sinto que minha hora chegou. Acabou minha carreira. Só um pequeno detalhe, meu filho amado, a fé não ficou pelo caminho. Ela não morreu. Ela não diminuiu, só cresceu. Me vou, mas a fé vai junto comigo.

A fé, o serviu como escudo em todo seu percurso. O defendeu de palavras desanimadoras. De pensamentos negativos. O fez ver além das situações aparentes. O alimentou quando a desesperança fez morada. Sussurrou no seu ouvido, só mais um pouco. Mais um passo, um metro, uma légua. Vamos, não desanime!

A fé o fez se tornar o segundo homem mais importante do cristianismo. Suas cartas, ainda são lidas após 2 mil anos. A fé o manteve determinado e deu fruto. Seu galardão, talvez não o tenha adentrado para um tal paraíso longe daqui. Mas o tornou o percursor das bases ocidentais até hoje.

A fé, seja em Deus, religião, na vida, na lei do retorno, em si mesmo, tem o poder de fazer em nós o mesmo que fez em Paulo. Nos carregar só mais um pouco para poder um dia, germinar e dar frutos.

Como disse Steve Jobs para os formandos de Stanford em 2005:

“É claro que conectar os pontos era impossível, na minha era de faculdade. Mas em retrospecto, dez anos mais tarde, tudo ficava bem claro.

Repito: os pontos só se conectam em retrospecto. Por isso, é preciso confiar em que estarão conectados, no futuro. É preciso confiar em algo - seu instinto, o destino, o karma. Não importa. Essa abordagem jamais me decepcionou, e mudou minha vida.”

Resumindo, é preciso ter fé. Bom, assim como Paulo, escolhi guardar a fé até que eu possa, um dia, ligar os pontos.

Thiago Justo
Enviado por Thiago Justo em 15/07/2020
Reeditado em 15/07/2020
Código do texto: T7006450
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