O Operário que Discursou Para o Papa - Parte 2

JANJÃO

Fui conhecer pessoalmente o Homem que discursou para o Papa no 04 de Julho de 1980, quando da primeira visita de João Paulo 2º ao Brasil, 15 anos depois. O operário, que vi pela TV, agora é um senhor aposentado, mas que não aposentou a fé no Cristianismo, nem tão pouco a disposição em lutar por uma sociedade justa e igualitária.

Nos conhecemos, em uma das atividades do PT, em Campinas. Pude conhecer a figura simples, humildade e de um otimismo a toda prova. Continuava e continua até hoje como coordenador Nacional da Pastoral Operária. Escreve em vários jornais alternativos, entre eles o correio da cidadania.

Minha admiração pelo Waldemar Rossi, se explica por sua História de vida, dedicada aos pobres. Natural de Sertãozinho (SP), iniciou na cidade sua militância na Juventude Operária Católica (JOC), onde segundo ele mesmo despertou sua consciência critica e sua opção em contribuir com a organização dos trabalhadores, para enfrentar a exploração do Capital sobre os trabalhadores.

No final dos anos 60, veio para São Paulo Capital, onde foi trabalhar como Metalúrgico. Tinha naquele momento 27 anos e inicia sua militância na Oposição Sindical Metalúrgica.

O Sindicato dos Metalúrgicos, o maior da América Latina, sofreu com o golpe de 64, intervenção dos militares, sendo dirigido a partir de então, por diretorias, comprometidas com o regime e com os patrões. A luta então passa a ser a de organizar os operários no interior da fábrica, para derrubar o peleguismo instalado no sindicato.

Dias dificieis esperavam nosso personagem. Nada que pudessem significar organizar para lutar era permitido naqueles tempos.

O Sindicalismo de então servia como esteio para o terror e a exploração patronal sobre os trabalhadores, não só aceitando tudo que os patrões queriam, como aos dirigentes sindicais, cabia colaborar com a ditadura, entregando os trabalhadores que ousassem desafiar o regime.

Assim era preciso organizar de forma clandestina e subterrânea, onde salões de igrejas e casa de trabalhadores eram utilizados para preparar a luta.

Waldemar encabeçou chapas de oposição as diretorias pelegas, três vezes: 1967, 1971 e 1981. Perdeu as três, onde em todas elas ocorreu fraudes e violência, tudo para evitar vitórias da Oposição.

Nosso Metalúrgico pode sentir por 4 meses a mão truculenta do regime. Em 1974, denunciados pelo Sindicato, todo o grupo de Oposição, foi preso e barbaramente torturado pelo órgãos de repressão da Ditadura.

Mas Waldemar não se inclinou aos ditadores e continuou participando ativamente das lutas operárias, como a greve de 1978, conhecida como “Braços cruzados, máquinas paradas”, movimento este retratado no filme homônimo do cineasta Renato Tapajós. Chorou a morte do amigo Santo Dias, membro da Oposição e da Pastoral Operária, assassinado por um Policial Militar na porta de fábrica da Silvanya, durante a greve geral metalúrgica de 1979.

O Operário que falou com o Papa, trabalhou em 16 fábricas durante o regime militar.

Como um timoneiro de uma barco de descobridores, Waldemar prossegue, firme e forte em sua caminhada, rumo a uma terra de justiça e igualdade.

dialetico
Enviado por dialetico em 25/10/2007
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