Professores versus ensino de literatura

Professores versus Ensino de Literatura

No presente texto, proponho uma reflexão sobre o fracasso do sistema educacional, principalmente, no ensino de Literatura e na formação de leitores que é o nosso objeto maior, tendo por base a formação dos professores.Para elucidar melhor essa questão transcrevo Edgar Morin“Estou cada vez mais convencido de que os conceitos de que nos servimos para conceber nossa sociedade-toda a sociedade-estão mutilados e conduzem a ações mutiladoras” P.13.

Partindo do pressuposto que estamos formando seres mutilados e mutiladores, eu me pergunto qual o nosso papel?Qual o papel da Universidade? Formar cidadãos e principalmente na Literatura formar leitores? Como? Talvez renunciando a cultura acadêmica e apropriando-se da estigmatizada cultura de massa, muitas vezes, a única em que os alunos possuem acesso, e através dela, inseri-los na Literatura para então formá-los leitores.No livro Estudos Culturais, no artigo de Richard Johnson, ele coloca a questão dicotômica da codificação acadêmica versus o saber popular.

Acredito que somente posso transformar os meus alunos sendo uma leitora do mundo. Isto é, não tendo idéias pré-concebidas sobre Internet, jornais, revistas, televisão, filmes, historia em quadrinhos e principalmente, dominando-os para mais tarde, transformá-los numa ferramenta de trabalho a serviço da Literatura e da formação de leitores.

No entanto, o sistema educacional mostra os professores sabotados pela a “escola do Luto” ao qual nos fala Edgar Amorin no seu livro O Método I: a natureza da natureza, já não conseguem enxergar o aluno como um ser em formação que vive em um universo com acesso a tudo. O mundo virtual está em suas mãos, resumos, resenhas, esquemas, tudo está pronto e concluído.O que fazer? Temos a afetividade, quem sabe ensinar dando significação ao nosso objeto de trabalho: o livro.

Contudo, sempre me pergunto se não perdemos a semente dos sonhos ao qual Rubens Alves fala tão lindamente: “O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho”.Esquecemos, pois a nossa formação é fragmentada, superficial, não rompemos nossos horizontes, saímos das universidades com verdades absolutas com muitas teorias e vazios de vida.

Sendo assim, não temos como romper os horizontes dos alunos, porque somos formados na escola do muro triplo ao qual Edgar Morin fala: “Esbarramos, pois, depois desta primeira volta a pista, com um muro triplo: o muro enciclopédico, o muro epistemológico e o muro lógico”.P.16

Então me desfaço pensando que o nosso ensino de Literatura nas escolas é própria escola do luto, matamos o leitor que existe em cada aluno, mas é um luto que não dá nada em troca, não conseguimos fazer uma reconstrução não propiciamos um novo saber.Quando Edgar Morin diz que a Universidade como uma escola de investigação é a escola do luto, pois temos que fazer uma escolha, o que investigar e sendo assim temos que deixar outras tantas de fora.No entanto, no ensino da Literatura, o aluno não faz uma escolha para estudar uma parte, a Literatura é ensinada como um objeto estanque.

Por que ensinamos assim?Saímos das Universidades com verdades absolutas, temos o saber erudito, acadêmico, o saber que não aceita o novo, o popular.Então temos medo da incerteza, da confusão, da dúvida. Ensinamos para os alunos somente o saber pronto. Não sentimos que estamos na contramão do ensino de Literatura, a partir do instante, em que não nos apropriamos do saber popular dos alunos e mostramos o caminho da formação do leitor através desses saberes gerando incerteza, dúvida, hesitação.Segundo Edgar Mori:

“A dúvida sobre a dúvida dá a duvida uma dimensão nova, a dimensão da refletividade...” P.19.

Marisa Cardoso Piedras

Mestre em Teoria Literária.

Professora de Literatura