ARTHUR DE SALLES NO OLVIDO - AS DUAS MORTES

“Duas vezes se morre/Primeiro na carne/Depois no nome”. É assim que o poeta Manuel Bandeira, no poema “OS NOMES”, define os dois tipos de morte: a física e o esquecimento. Da primeira não podemos escapar, uma vez que somos também matéria que se finda. Entretanto, pessoas adquirem consistência de eternidade através de obras, mitos e registros, como o próprio Bandeira e milhares de personalidades de diversos campos: ciências, artes, política, etc. Infelizmente, no cenário baiano, um nome vem sendo cada vez mais esquecido: Arthur de Salles que, junto a Castro Alves e Gregório de Mattos, completa um dos lados do mais ilustre triângulo da poesia baiana.

Poeta, tradutor, professor e bibliotecário, Arthur Gonçalves de Salles nasceu no bairro de Pilar, em Salvador à 7 de março de 1879. Começou a escrever aos 13 anos e, em 1901, seus poemas foram publicados em várias revistas de Salvador. Participou do movimento Nova Cruzada com outros intelectuais baianos. Em 1908, foi nomeado bibliotecário da Escola Agrícola da Bahia, em São Francisco do Conde e, em 1911, professor do Aprendizado Agrícola da Bahia. Na Associação Brasileira de Escritores, foi presidente da seção da Bahia e um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, junto a Rui Barbosa, Otávio Mangabeira, Afrânio Peixoto, Miguel Calmon, entre outros. Na década de 30, lecionou no Instituto Bahiano de Ensino e traduziu MACBETH, de Willian Shakespeare, primeira em versos alexandrinos da língua portuguesa e considerada uma das melhores traduções em português. Em 1947, na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, ministrou a aula inaugural de um curso sobre Castro Alves. Em 1948, sofreu grande impacto com a morte do filho Fernando Salles, também poeta. Morreu aos 73 anos, em junho de 1952.

Ao ler seus versos, percebe-se a influência que o MAR exerce em sua poética. O poema Ocaso no Mar é considerado um dos mais belos poemas descritivos da língua portuguesa, rendendo comentários, inclusive, do crítico literário Agripino Grieco: “se toda a poética nacional se perdesse num naufrágio, e só restasse 'Ocaso no mar', o crítico literário, lendo-o, exclamaria: 'Aqui viveu um grande povo! ' ”

Apesar de tanta representatividade, Arthur de Salles é conhecido e valorizado apenas nos meios acadêmico e literário. Em 2002, foi homenageado no Nº 35 da Revista da Bahia-FUNCEB e, recentemente, um de seus poemas foi recitado por Maria Bethânia no show “Tempo tempo tempo tempo”. Atualmente, seu nome resume-se a fachada de Escola Pública em Salvador; Praça e Biblioteca, em São Francisco do Conde. Milhares de baianos cantam o Hino ao Senhor do Bonfim sem saber que um dos autores é o poeta que nos deixou um acervo relativamente pequeno, porém de grande valia para a literatura brasileira, o que deveria ser motivo de orgulho e não de esquecimento para toda a população baiana.

Obras: “POESIAS” (1920), “SANGUE MAU” (1928), “POEMAS REGIONAIS” (1948).

PUBLICADO NO JORNAL "A VOZ DO CEPA" - SALVADOR/BA EM JULHO DE 2006