A ERA DOS TÍTULOS

Félix Carbajal, de quem tive o privilégio de ser amigo, foi companheiro de curso do grande pintor Salvador Dali; também foi Doutor pela Souborne; matéria do Jornal de Santa catarina por várias vezes e passou os últimos dias de sua vida no asilo São Simeão, “sem família, sem pátria e sem religião”, como o próprio jornal colocou em manchete em uma de suas edições. Dizia-me, que a Educação para ele era o tesouro mais importante a ser cuidado, porque o resto é o resto. O medo que Carbajal tinha fez-o lutar até nos últimos dias de sua vida, inclusive a meu convite palestrando em algumas escolas e universidades sobre a importância e o impacto do estudo na vida cotidiana das pessoas e do perigo da educação descambar para a ânsia da busca de um diploma como status social. Em muitas conversas, o Pedagogo Carbajal , preocupava com o caráter dos futuros formandos, em qualquer área, pois um péssimo profissional poderia causar danos sociais irreversíveis. Por outro lado eu sempre dizia a Carbajal que o nascimento de universidades sem boa aparelhagem, seja do corpo docente, laboratórios ou bibliotecas,trouxe para os campus uma gama de alunos sem preparação, e a luta desenfreada em busca do diploma de nível superior superou a busca real pelo saber. As pedagogias aplicadas no Ensino Fundamental e Médio, não convergiram com o tipo de ensino que as faculdades lecionam, onde tratam os alunos de forma homogênea, sem a valorização das inteligências múltiplas, desenvolvida por Gardner e que deveria nortear qualquer tipo de avaliação escolar. O resultado é desastroso, como as pérolas do ENEM e a reprovação em massa nos exames da OAB, só para citar alguns exemplos. Aliado a tudo isso, muitos acadêmicos também desistem de seus cursos por não dispor de uma renda compatível com o preço da Educação no Brasil. A opção de estudar numa Universidade Federal; sem as mensalidades; para os moradores do interior, esbarra em outro fator crucial: o preço para se manter longe da família numa cidade distante. Outro fator agravante da educação brasileira começa lá na base, onde as escolas públicas atualmente estão se deteriorando, jogadas ao esquecimento. Para conseguir uma reforma, existe a necessidade dos jornais denunciarem (casos das escolas blumenauenses, mostradas em reportagens do Santa), sendo que, nas moradias de políticos são autorizadas rapidamente. Carbajal, que era marxista, se estivesse vivo, provavelmente diria que tudo isso era efeito do capitalismo, que dilacera as emoções humanas e conduz as massas atrás do vil metal, e como sempre, acertaria, pois foi um homem que apesar de tantos títulos e tantos diplomas, optou por uma vida simples, sem status, mas primou pela solidez do conhecimento para o desenvolvimento de uma sociedade melhor, ao contrário da grande massa que hoje detém uma cultura de verniz, que ao menor toque, escancara a verdade que assola nosso país, demonstrada nas urnas em períodos eleitorais.