Existem dias que um dia é pouco

Existem dias que um dia é pouco

Luiz Alberto Silveira

Existem dias cheios de sol, repletos de cores que pintam ocasos e manhãs, alegram amores. Raios de luz que banham sentidos, mostram flores, dão à vida esperança e ao espírito alimento. Existem dias cheios de sonhos plenos de amor. De acreditar, de não desistir, de encontrar, de superar, de buscar felicidade. Sonhos carregam amanhãs, dão sentido ao futuro em perfumes e sabores. Tudo não é nada mais do que sonhos que acordam realidades. Existem dias cheios de dúvidas que perguntam. Dúvidas são orações de socorro. São respostas para uma mesma pergunta. Dúvidas na alma que sente, que punciona caminhos inseguros na busca do solo firme, que esvurma pensares de dor, cismares da vida, inquietudes do ser. Que se dá conta do abismo hiante que nos separa de outras dimensões. Existem dias cheios de cansaços. De mim, de tudo, de todos. Cansaços das rotinas dos dias e das noites, sensação de falta do que e para que, por quanto tempo. Cansaços das saudades que não cessam. De tanto dizer e não saber, de tanto saber e não dizer. Cansaços do corpo vencido após volúpias, lascívias e prazeres que explodem desejos e gemem sentidos. Cansaços da missão cumprida que solicitam repouso em pulvinares de paz que aceita o finito. Existem dias cheios de chuva, suores que brotam a vida e jorram frescores. Desfazem nuvens, precipitam miasmas, trazem das árvores perfumes e com gotas acariciam a fronte, escorrem momentos, dançam ao vento. Temporais, que caem e não param, são bátegas de alarme, sugerem lamentos, revelam forças que reagem em prantos, rejeitam insultos que sofrem, explosão de socorros. Existem dias cheios de mim, de minhas dores, dos meus detalhes, das minhas lágrimas, alegria e amor. Dias cheios dos meus aís e “que bom”. Cheios de penares e gozos. Dos lugares que não se esquece, dos momentos que incorporam. Existem dias cheios de distrações e esquecimentos em falar de amor. Dias cheios de força e estupor com olhar obstinado em resistir. Existem dias cheios de ti. De tua beleza que não admite ausência. Cheios de ti que consagras enlevos. Existem dias cheios de nós, do poema que escrevemos a quatro mãos. Dos horizontes a dois e um só coração. Com olhares que se cruzam e inundam emoções. Existem dias cheio de amigos e perceber o que neles há e sentir como somos. Existem dias cheios de amigos que nos desvendam e não se apagam jamais. Dias sem amigos é escuridão e vazio, é espera que não se dá, é caminhar sem encontrar. Existem dias cheios de família. Espíritos que se cruzam para aprender juntos, perdoar as diferenças, comungar alegrias. Existem dias cheios de famílias na dor e no amor. Finalmente, existem dias cheios de tudo. De abrir caminhos de luz, apostar no amanhã, lutar pela justiça, de realizar desejos, de gritar dores, sentir carinhos e embriagar-se em olhares que sentem. Dias cheios de tudo que queremos ser. Que eu sou, que tu és, que ele é, que nós somos, que vós sois, que eles são. Tudo, são dias que um dia é pouco.