Amigos estranhos que perdi III.

Cássia era nissei mas morava no Japão.

Não era bonita mas tinha um rosto interessante e um charme sutil.

Casada, graças ao marido podia dedicar-se integralmente a um filho com síndrome de Down. Infelizmente para os dois ele era do tipo que quase não tinha independência, até o banho era com ela. Considerando que ele estava na adolescência e era maior do que a mãe, dá para imaginar o tanto de força empregada nesta empreitada.

Cássia era bipolar, mas estava numa fase estável. Tínhamos longas conversas na madrugada, onde confidências eram trocadas.

Eram bons momentos.

Teve um dia que ela me manda uma foto de um lugar paradisíaco, o mar com rochas ao redor, formando uma piscina natural. Brinquei com ela:

- Já pensou nós duas e nossos bebês aí nesta água, só relaxando?

Ela adorou a ideia.

Infelizmente por problemas de saúde o médico suspendeu seus remédios para a bipolaridade, e minha amiga começou a surtar.

E as agressões para mim cresceram ao ponto de um dia ela me expor no face, dizia que eu era do mal, que tinha algo muito errado comigo.

Não tendo a maturidade que hoje tenho eu reagi e bloqueei a amizade.

Um amigo em comum intercedeu, pediu para eu chamá-la inbox porque ela não estava bem pela retirada das medicações.

Contudo eu estava me sentindo agredida e não fiz.

Hoje me arrependo, não foi humano da minha parte, mas agora é tarde.

No entanto, a Cássia da minha memória é a mulher forte, guerreira, boa de conversa e com a qual dei muitas risadas.

Cássia, que você esteja bem e recuperada dos teus problemas de saúde.

Sinta meu abraço à distância.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 03/09/2021
Código do texto: T7334656
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