Uma conversa sobre "1984"

Estou na reta final do livro “1984”, de George Orwell, e achei que o livro daria um bom tema para o texto de hoje. Tudo bem que não posso (e não devo) falar tudo sobre ele, pois ainda não sei como a trama se resolverá. Mas creio que não será nada destoante da mensagem geral do livro.

Os conceitos trazidos pela obra realmente são atualíssimos: o cinismo do “duplipensamento”; a “Novafala” que restringe cada vez mais a linguagem, e o pensamento, na Oceânia; dentre outras criações de Orwell que o tempo mostrou que, de um jeito ou de outro, acabaram sendo proféticas. Este louro ninguém pode tirar da cabeça do escritor inglês que, cuja obra, por sinal, desde 1º de janeiro deste ano, se encontra em domínio público, já que Orwell morreu em 1950.

Porém, não me impressionei, sinceramente, com a forma de escrever de Orwell. Ela não é ruim, claro; mas achei mais fraca que a pujante mensagem política que o livro carrega consigo, e que a própria criatividade do escritor. Mas isso não é um grande problema neste caso específico, afinal Orwell era um escritor político: “quando eu sento para escrever um livro, eu não digo para mim mesmo: ‘eu vou produzir uma obra de arte’. Eu escrevo porque há alguma mentira que eu quero expor, algum fato para o qual quero chamar a atenção, e minha preocupação inicial é conseguir um receptor.” Estas são palavras do próprio Orwell, escritas no ensaio “Por que eu escrevo”, e que eu retirei de um vídeo do canal The School of Life.

Mas, acho que há uma coisa que tenho que ressaltar, e que talvez seja até maior do que o próprio escrito em si. Algo que é fundamental para entender o sucesso que este livro conseguiu e consegue, mesmo num mundo tão polarizado como o de hoje: Orwell criou uma obra tão independente ideologicamente, que qualquer pessoa que não possua crenças políticas totalitárias, vai poder se identificar com a mensagem política da mesma. Seja você um socialista democrático (como Orwell era), ou um centrista, ou um libertário, ou um conservador; não importa. Mesmo não concordando com tudo que encontrarás no livro, assim como eu não concordei com algumas coisas que vi nele; você irá se identificar com aquele “escrito político que virou arte.”

Texto publicado em fernandosaliterze.wordpress.com

Fernando Saliterze
Enviado por Fernando Saliterze em 20/09/2021
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