VIOLÊNCIA: UMA SITUAÇÃO INSUPORTÁVEL (2001)

VIOLÊNCIA: UMA SITUAÇÃO INSUPORTÁVEL (2001)

A vida é o maior de todos os bens e deve ser respeitada. A população brasileira assiste boquiaberta todos os dias às cenas de violência explícita e de profundo desrespeito aos direitos humanos. O caso mais recente, o sequestro, envolvendo a simpática Patrícia Abravanel e ato contínuo, o seu pai, o magnata da comunicação brasileira, o empresário Silvio Santos, culminou com a morte de dois investigadores da polícia civil do estado de São Paulo. O episódio parou o país, provocou debates acalorados, mas acima de tudo, revelou a total vulnerabilidade a que as pessoas – pobres, ricas, negras, católicas, evangélicas, apedeutas e intelectuais – estão submetidas a viver.

Considera-se abominável todo e qualquer tipo de violência; e constatamos que ela grassa em todo o mundo de forma indomada. Na nossa ótica, o importante consiste em reconhecer a verdadeira razão da violência. Para Dom Luciano Mendes, ex-presidente da CNBB, aqui no Brasil, a causa principal reside na miséria. Necessária se faz uma reflexão sobre nossa situação.

Pesquisas revelam que no final da década passada, 15% da população brasileira integrava famílias situadas abaixo da linha de indigência, enquanto 34% compunham famílias consideradas pobres. Em relação à população urbana, 28% encontram-se inferior à linha de pobreza; no meio rural, a crise é mais aguda, são 58%. Como a população do nosso país, na sua grande maioria, vive nas cidades, estas concentram 65% do total de pobres.

Sabe-se que, na maior parte de nossas cidades, a falta de serviços públicos básicos, como os de educação e saúde, especialmente, dirigidos às camadas mais pobres, o déficit habitacional e a falta de saneamento básico não permitem que sejam garantidas às pessoas um padrão aceitável de qualidade de vida. Outro fator agravante, o desemprego, este gera a desagregação familiar, a desesperança no homem, na mulher, impedindo que o filho tenha acesso à educação adequada, consequentemente, favorecendo o aumento da marginalidade, ampliando as desigualdades sociais, a injustiça, principalmente, para com as crianças, os idosos e os portadores de necessidades especiais.

Assistirmos passivos a uma situação que condena seres humanos a viverem de forma degradante não constitui uma postura de respeito ao outro. É o óbvio ululante.

Urge a superação desses problemas. Temos que lutar contra a miséria, investir na família, na promoção de condições dignas de vida, na ação educativa que ensine o valor da pessoa, o reto uso da liberdade e a fidelidade às exigências éticas.

Esse investimento na família é fundamental porque ela se constitui na célula-mater da sociedade e, é nela, que se estabelecem os principais padrões de conduta, além de promover a integração dos homens à vida, à história de sua gente e ao meio físico-social de sua região.

Já a educação deve assumir a missão de educar para a honestidade, o trabalho, a vida e a paz social. Aos governos e à sociedade cabe a promoção do crescimento econômico, a geração de emprego e renda, criando condições para a redução da pobreza. A provisão de meios para manter e recuperar a saúde, para permitir o acesso à habitação, ao alimento, a níveis mínimos de renda, podem gerar condições para o desenvolvimento de empreendimentos de pequena escala, convertendo-se em políticas públicas de grande efeito no combate à pobreza.

A conclusão a que chegamos para uma freada nesta escalada de violência é a indispensabilidade urgente de uma ação forte, e que planos governamentais como bolsa renda, bolsa escola que realizam transferência direta de renda tenham maior alcance; que as parcerias com a sociedade sejam mais abrangentes, a fim de que possam se consolidar, progressivamente, numa ponte entre a utopia e o possível.

É preciso que entre os que detêm o poder de administrar seja inaugurada, de forma corajosa, firme, a inversão da lógica de aplicação dos recursos públicos, passando a serem aplicados em favor da melhoria da qualificação da vida, sobretudo, dos excluídos, priorizando concretamente o social.

Se o poder for exercido desta forma, ele estará sendo utilizado a serviço da vida e a vida, que está sendo violentada, agradecerá.

FRANCISCO CICUPIRA DE ANDRADE FILHO

Chiquinho Cicupira
Enviado por Chiquinho Cicupira em 10/10/2021
Código do texto: T7360334
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