Cópias repulsivas, e antinazismo à brasileira

Antes de qualquer coisa, gostaria de ratificar o meu pedido de desculpas por não ter postado o texto semanal ontem, como de costume. Mas este assunto do qual irei escrever pode e deve ser tratado a qualquer momento, pois faz parte da história humana (infelizmente). No dia de ontem, o youtuber Monark afirmou, em seu podcast, que “nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei”. Obviamente, esta frase não passou despercebida, e uma onda de reações e respostas contra o posicionamento do podcaster ocorreu e ainda está ocorrendo. A fala lamentável de Monark nos lembra um dos episódios mais tristes do século XX; no qual a loucura, a canalhice e a irracionalidade se fundiram para formar um regime de morte e destruição, comandado por Adolf Hitler. E em particular, me faz lembrar também de dois tópicos que acho que valem a discussão.

O primeiro tópico é a falta de amor próprio de alguns brasileiros, que preferem viver numa sociedade copiada, ao invés de ajudar a construir uma própria. Várias pessoas defendem implementar em nosso país, ideias e regimes, sociais e/ou políticos, de outros países, de forma integral, sem sequer considerar adaptações para a realidade brasileira. E uma dessas ideias, é o conceito de “liberdade de expressão” adotado nos Estados Unidos. No país ianque, qualquer “opinião”, mesmo por mais controversa e errada que seja, está totalmente protegida (até onde eu saiba). Isto permite que grupos abertamente racistas e neonazistas desfilem pelas ruas das cidades estadunidenses, sem serem incomodados. Como dá para perceber, a liberdade irrestrita é mutuamente independente do respeito ao direito alheio, dado que o início do último marca o fim do nosso próprio direito. Um estado de liberdades e direitos sem qualquer restrição, é tão ruim quanto uma tirania. Só ver qualquer desfile público da Ku Klux Klan para comprovar isso. E aliás, já ocorreram centenas destes ao longo da história dos Estados Unidos, desgraçadamente.

Agora, o segundo tópico é sobre um comportamento exclusivamente brasileiro. É uma espécie de antinazismo peculiar, que só existe aqui. O nosso antinazismo claramente repudia o regime de Hitler e seus simpatizantes…exceto um simpatizante específico, que governou nosso país por cerca de 18 anos; sendo um ditador por grande parte desse período: Getúlio Vargas. Muita gente se esquece (ou finge que esquece) que antes de ser praticamente forçado a se juntar às forças aliadas, na Segunda Guerra Mundial; ele era simpático aos regimes nazista e fascista. Tanto é que a CLT foi criada, tendo como inspiração, a Carta del Lavoro, documento do governo de Mussolini. E como se isso não bastasse, Getúlio foi conivente com o Holocausto, promovido por Hitler; vide o caso de Olga Benário. Será que em algum país sério, um governante tão vil e tirânico seria tão homenageado, da forma que Vargas é, no Brasil? Há até uma fundação com o nome dele! As tão citadas conquistas trabalhistas da era getulista anulam todo o mal cometido por Getúlio Vargas? Enquanto a resposta da maioria da sociedade brasileira for “sim”, não estaremos sendo verdadeiramente antinazistas.

Estes dois tópicos adicionais merecem ser abordados com mais frequência. O primeiro, pelos perigos evidentes; o segundo, pelo duplo padrão que representa. Embora eu não caia na ilusão de que é possível acabar, um dia, com o racismo, antissemitismo e outros preconceitos; acredito que cada um de nós deve fazer sua parte: não ser preconceituoso e falar contra os preconceitos. O que Monark fez passou dos limites, em um regime de liberdade de expressão saudável (que o Brasil não possui, diga-se), e ele precisa responder por seus atos.

Texto postado em fernandosaliterze.wordpress.com

Fernando Saliterze
Enviado por Fernando Saliterze em 08/02/2022
Reeditado em 08/02/2022
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