PROMOTOR PREOCUPADO COM FUGAS NO PRESÍDIO DE GOIANÉSIA

Atos Peixoto e Ilson de Camargo Vieira, condenados há dois meses por homicídio, e outros quatro presos, condenados por tráfico e furto, fugiram do presídio de Goianésia na madrugada de domingo (29). Romperam o teto e, usando uma corda feita de lençol, ganharam as ruas. Até o momento nenhum deles foi recapturado.

Nenhuma das dezenas de câmeras de segurança do presídio foi capaz de alertar os plantonistas de que algo errado estava acontecendo. O Ministério Público, por meio do promotor de Justiça, Luciano Miranda Meireles, está investigando o caso. "Fui pego de surpresa com uma notícia dessas, principalmente da forma como foi. Os presos não tiveram dificuldade nenhuma para sair do presídio", afirma o promotor.

"Não posso pré-julgar, mas parece que houve certa omissão por parte dos agentes. Algumas normas de rotina de segurança do presídio não foram seguidas o que facilitou a fuga", adiantou Luciano. O promotor sustenta que o problema é mais amplo. "A verdade é que os presos não fogem porque não querem. Chega a ser cômica um plantão com três agentes cuidando de 250 presos. A situação não está pior porque os presos não querem", declara. "O presídio de Goianésia é uma bomba-relógio, é a sexta maior população carcerária do Estado".

"Já foi aberto procedimento pelo MP. Iremos descobrir se houve algum crime por parte dos agentes. Oficialmente vamos começar a ouvir as pessoas agora. Ainda não podemos dizer se houve conduta criminosa. Uma fuga está ligada a uma série de fatores", informa. "Se as normas do presídio tivessem sido seguidas os agentes teriam percebido a movimentação suspeita". Para o membro do Ministério Público "ninguém sai de um presídio, desce de um muro, faz uma corda com lençol, seis presos fogem, gerando uma grande movimentação e ninguém percebe".

A situação é grave, mas, segundo Luciano pode ficar ainda pior. "O meu medo é de a gente perder o presídio para o crime organizado. Até hoje quem comanda o presídio são os agentes da lei. Temo que isso se inverta e os presos passem a comandar a unidade", ressalva.

"Há outros fatores que passam despercebidos pela população. Não existe servidor efetivo no presídio. Houve uma queda de 40% no número de agentes. Hoje só temos um. O Estado não faz concurso, não está preocupado com a questão", critica.

A falta de efetivo gera, segundo o promotor, graves consequências. "Todos eles trabalham com excesso de carga de serviço.

A rotina é muito exaustiva, não é um trabalho comum, é desgastante", destaca. Luciano garante que tomará medidas contra o que considera omissão das autoridades responsáveis pelo sistema prisional. "O Estado será acionado pelo Ministério Público. A gente espera que o Judiciário seja sensível ao pleito. E que se o Estado for condenado que assuma seu papel", pede. "A sensação que temos quando uma fuga dessas acontece é de impotência. Há menos de dois meses ajudamos a condenar duas pessoas por homicídio. Foram condenados e agora estão nas ruas. Às vezes damos o nosso melhor e por um erro do sistema nosso trabalho é jogado no lixo", finaliza.

* Matéria publicada em dezembro de 2015 no jornal Diário do Norte.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 01/05/2022
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