ESCRAVOS DO SISTEMA
A ANALOGIA
Parece que sou parte de uma multidão presa em um prédio cuja construção se é proibida alterar, em um elevador que já superou o limite de passageiros, elevador que tem andares certos para o qual me obrigam ir, em que não posso nem apertar o botão do andar, pois o tal ascensorista o faz, sem nem, ao menos, me cumprimentar; e parece que os passageiros não ligam ou foram ensinados a não perceber nada.
OS ARGUMENTOS
Retrato da “globalização”: cada vez mais gente ao nosso redor, cada vez mais tecnologia, comunicação, mídia, mas o homem está é se “isolando” mais.
Parece que tudo está fugindo tanto ao que é o nosso natural, que não existe mais harmonia entre nosso ser e o resto. Pensamentos insossos, conversas vazias, atitudes predeterminadas. Como diz a letra da bela música do Silvio Brito: “Tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra morrer, tem que pagar pra viver”: viramos apenas multidões de marionetes pagadoras de impostos ou recebedoras de direitos, que nascemos sem poder decidir se queremos ou não nos alistar nessa confusão chamada sociedade.
Obriga a pagar, obriga a votar, obriga a ter documento, obriga às leis respeitar, obriga a ver, obriga a aceitar. Será que isso representa constituir uma sociedade? Ou é uma ditadura que finge ser surda e tenta nos deixar mudos?
Claro que, como indefesos animais que somos, temos que nos organizar para não perecer. Mas nascer já com a idéia de que está tudo organizadinho, terceirizado, que tem alguém para processar e fornecer facilmente água, energia, luz e transporte onde quer que esteja um Homo sapiens (sem nem imaginar o trabalho que teria se fosse tentar buscar/produzir), que irão curar qualquer doença que porventura surgir, que sempre tem alguém para resolver os problemas que sofremos e causamos, já sabendo que somos apenas mais um da lista, que já está determinado o que vai acontecer, já tem os limites, as regras, que já tem um jeito certo para tudo que formos fazer, não nos torna cidadãos e, sim, escravos do sistema.
A INSPIRAÇÃO
Esta semana estava eu em um prédio comercial, aguardando um elevador, junto a outras pessoas que estavam mais espalhadas. Um dos elevadores abriu, e dentro havia um senhor acompanhando uma senhora em uma cadeira de rodas, os dois já com mais de 80 anos. Então entrei e foi chegando, chegando e chegando mais gente, sem ninguém falar nada... e a senhora olhava as pessoas que iam chegando. Todos entraram, o elevador ficou cheio e fechou.
Subimos alguns andares e o silêncio ainda reinava, até que ela não agüentou mais:
– Esse é o elevador dos que falam..! – murmurou de forma simpática, fazendo todos rirem.