POLITIZAÇÃO DA NOTÍCIA

Há um pouco mais de uma década, o arquiteto austríaco, de origem iraniana, Yadegar Asisi passou meio ano na Amazônia fotografando animais, plantas, rios e toda a vida da floresta. Fez uma exposição no antigo gasômetro de Dresden na Alemanha, criando um cenário amazônico virtual. Mais de vinte mil fotografias, segundo o próprio. As pessoas visitavam um mirante e sentiam o clima da selva, muito próximo do natural, sem passarem por espinhos, mosquitos, arranhões ou outros desconfortos. Para obter as imagens, ele subiu em árvores, esperou horas na beira dos rios, se transformou num nativo. Transportou e vendeu o cenário amazônico na Europa. Quase ninguém ficou sabendo da passagem dele por aqui. A equipe dele não era muito grande, nem ele falou mal da Amazônia ou do Brasil.

O caso dele só ficou muito conhecido para os europeus. Não tenho dados para avaliar o sucesso de seu empreendimento, nem por quanto tempo manteve a exposição. Porém, a repercussão foi menor do o caso do jornalista inglês assassinado. Contudo, não foi o único tema abordado por aquele artista, mas sabe-se que fez esse tipo de apresentação em vários lugares pelo mundo. Se tivesse acontecido alguma coisa a este artista em plena selva, quem seria o culpado? Ele aqui veio para colher material para seu negócio, como milhares de outros estrangeiros fazem o tempo todo.

Mais de 50 pessoas desapareceram na Amazônia durante o governo o Luiz Inácio da Silva. Sabemos de pessoas que, durante a noite, teriam pulado ou caído de embarcação e nunca mais foram encontrados. O que alguém, pelo que se sabe, armado apenas de uma câmera foi fazer em “defesa” dos povos indígenas, num região perigosa sem estar escoltado? Se os objetivos eram tão claros e nobres, por que não buscou o apoio das autoridades antes de dar início?

Todos querem a Amazônia preservada para dela usufruir de maneira gratuita. Evidente que na floresta não existem comodidades. Na Europa devastada, as comodidades são cobradas custam caro. Aqui, impõem a manutenção da floresta e não pagam nada por isso. Acreditam que podem entrar sem fazer check in e sair sem que ninguém verifique a bagagem para saber se estão levando algum patrimônio dela. Ainda falam mal quando alguma coisa está fora do que esperavam. Ou, como no caso, deixam o governo levar a culpa própria imprudência.

Os motivos pelo qual o fotógrafo e seu guia foram mortos, nada tem a ver com a selva inóspita. Entre os que defendem a existência de um mandante para o crime, estão aqueles que defendem a ideia que o agressor de Bolsonaro agiu sozinho em 2018. Contudo, essa linha de raciocínio deve ser considerada pelos responsáveis pela apuração das mortes. A verdade é que todos lamentam a morte trágica, ainda mais provocada, de qualquer pessoa. É triste e, se não for apurada, vergonhosa.

O que é paradoxal, nesses momentos, é o argumento que tudo deve ser apurado por órgãos internacionais: polícia inglesa, interpol e até ONU. A ingerência em assuntos internos é solicitada até por aqueles que querem uma Amazônia independente. É parecida com a posição do pacifista que só passa a apoiar a pena de morte quando ele próprio é o agredido. Todavia, culpar o governo federal do Brasil pelos assassinatos nos confins da selva, é semelhante a culpar o governo inglês por algum crime parecido que aconteça num boteco na Escócia. Crimes acontecem em todo o mundo, infelizmente. Até quando são elucidados, deixam marcas permanentes. (Luiz Lauschner)