AUSÊNCIA DE SAPIÊNCIA

 

O mundo está diferente, muito modificado. Tudo é igualdade e o grande apelo é dinheiro. As intolerâncias avolumam-se e os conflitos multiplicam-se sem cessar. Algo mudou para pior. Os últimos 40 anos criaram pessoas amargas, indiferentes e possuidoras de uma poluição mental espetacular. As dificuldades sucessivas anestesiaram o cidadão. É o novo milênio. Novos caminhos e direções.

As pessoas não tem tempo para nada. Os pais esquecem os filhos. Os filhos desconhecem os pais. Os conflitos internos da família sofreram incremento gigante. A materialidade abraçou a todos nesse final de século 20 e nos primeiros anos do século seguinte. Muito consumo, conversas vazias, relações frágeis, amizades frívolas, e um egoísmo colossal. O resultado de tudo isso desagua em: injustiças continuadas, depressões, ansiedades, transtornos de todo o tipo e um sem número de doenças que afligem a humanidade.

O humano, aos poucos e programadamente, vem perdendo a sua essência natural. Percebe-se que aquele homem anterior à Revolução Industrial se voltava aos recursos rurais e comungava suas reflexões com as matas, os rios, as montanhas, as aves e os animais. Seus exemplos e interações eram coisas da natureza. O que vinha de dentro repercutia fora e o que acontecia fora impactava por dentro. Havia reis, ricos e pobres – todos com espiritualidade mais aguçada do que o tangível material.

Claro que o pensar científico e suas descobertas trouxeram benefícios à humanidade. A aplicação dos conhecimentos na comunidade é fator de sobrevivência e, no mínimo, gera bem-estar social. As mudanças nos processos e as instalações de máquinas para acelerar a produção também são utilidades no seio da sociedade. Geração de emprego, trabalho e renda é salutar.

Mas nem tudo é benefício. Há efeitos colaterais previsíveis e outros bem abstratos. A busca desenfreada por mais dinheiro, mais bens e acumulação de bens e capital foi separando a humanidade em faixas financeiras e, paulatinamente, quem detinha mais bens e capital subordinou vilas, cidades e os humanos nobres encastelados no poder. O poder absolutista deslocou-se para as repúblicas, os detentores de bens e capital seguiram esse novo modelo de governar pessoas. Alojaram-se dentro e fora de suas dimensões. Grandes contratos e parcerias continuadas animaram sucessivos governos republicanos. As empresas – pertencentes a famílias ligadas ao poder e outras vinculadas aos novos donos do Estado nacional – fincaram raízes e lotearam a receita oriunda dos impostos para suas contas bancárias. O dinheiro dos impostos, em muitos governos, deveria servir (na concepção dos mandatários dos governos) aos poderosos, aos empresários próximos e aos diversos apoiadores desse sistema feudal.

Há tempos que esses desatinos acontecem. Desde o final do século 19, quando grandes conglomerados se estabeleceram, e durante todo século 20, o sistema poder-simpatizantes (SPS) – simpatizantes aqui são todo tipo de pessoas jurídicas ou físicas – desenvolveu-se, evoluiu e chegou-se nesse disparate onde a riqueza acumulada de 1% das pessoas mais abastadas da população mundial equivale à riqueza dos 99% restantes – conforme pesquisa da Oxfam (organização não-governamental britânica/2015). Recentemente (2020), a mesma ong afirmou o seguinte: 1% das pessoas mais ricas do mundo detêm mais do dobro da riqueza possuída por 6,9 bilhões de pessoas. Poucos falam dessa desigualdade enorme e avassaladora.

Após o ano 2000, o advento do globalismo – incentivado e propiciado pela dinâmica da telemática – mostrou as garras desse SPS. Pessoas multimilionárias influenciaram sobremaneira governos, grupos políticos, mídia, tribunais, universidades, parlamentos, empresas etc., no sentido de conseguir seus intentos de um único e centralizado governo mundial. Quais são as intenções desse globalismo?

O Iluminismo foi um divisor de águas. Depois irromperam as grandes revoluções de cunho sócio-político. Chegou-se na Revolução Industrial e caminhou-se para a derrocada dos reinados e a implantação das repúblicas nos países. Uma vez consolidadas durante os últimos 100 anos, essas repúblicas (integradas ao SPS e, mais recentemente, por narcotraficantes) passaram a ser financiadas por grande parte daquele 1% acima mencionado. Não se contentam mais em dominar somente empresas multinacionais, cidades e Estados, querem subordinar a humanidade do planeta às suas aspirações megalomaníacas... É a hiperbolização do poder. E com qual intento?

Difícil afirmar as reais motivações que levaram parte dos integrantes desse 1% a engendrar esse constructo repugnante chamado globalismo. Teoricamente, a origem está no egoísmo humano e na ausência da espiritualidade cósmico-divina. Dinheiro e poder sem freios pode levar a desastres incomensuráveis, como os desatinos de decidir por uma guerra sem sentido para muitos ou a inoculação de vetores hostis no corpo dos indivíduos ou ainda a legalização das drogas. Ademais, conhecimento foi idealizado e estruturado para animar a vida, gerar segurança e perpetuar a espécie homo sapiens na ecosfera terrestre. No entanto, o que se percebe é a ausência de autoconsciência, racionalidade e sapiência em parte da humanidade – pense em alguns integrantes daquele 1%. In Deo gloria nostra!

 

Obs.: a foto acima é de um arco chamadoTorii (marca a entrada de templos no Japão). Os Estados Unidos jogaram a bomba atômica em Nagasaki/Japão, em 9 de agosto de 1945, e o arco sobreviveu. Vem o tsunami em março de 2011 e destrói a cidade de Otsuchi, um outro Torii também resistiu.