Qual o limite do bem?

Fomos educados para colocarmos sempre as pessoas acima de nós mesmos. De tal forma que temos imensa dificuldade em falar não.

Hoje, muitos de nós, percebendo o quão maléfico é esse comportamento, agimos no outro extremo, tentando não nos apegar, não aceitar relacionamentos duradouros. Sejam eles de qualquer natureza, os relacionamentos de casal, que começam com um namoro e vão até o casamento, assim como os relacionamentos entre amigos. Somos apenas colegas hoje, somos autossuficientes na teoria e sofremos desesperadamente numa solidão em meio a tantas pessoas.

A necessidade do equilíbrio parece ficar evidente sempre depois de experimentarmos os dois polos, inclusive. O equilíbrio que nos mostra, por exemplo, que tudo é uma questão de entender os conceitos, de não levar as palavras ao pé da letra. De não cometer a loucura de supor que a verdade seja exclusividade nossa, que alguém que não concorde conosco esteja totalmente incapaz de possuir um pouco dela. Pior, no contexto religioso, imaginar que Deus tem um lado nas guerras, sejam elas grandes ou pequenas, com armas de fogo ou de palavras e pensamentos.

Pode parecer um pensamento confuso, mas é necessário refletir, fazer uso dessa ferramenta fantástica que é nossa capacidade de racionar, sem abrir mão dos sentimentos, incluindo a intuição. Mas uma vez é preciso lembrar do equilíbrio. Basta, para começamos refletir sobre isso, fazermos as seguintes pergunta a nós mesmos: quão importante eu sou para Deus? O quão importante meu inimigo ou desafeto é para Deus?

A questão 642 do Livro dos Espíritos tem um material para que possamos meditar bastante sobre esse tema. Não basta ler e procurar uma versão da questão que vá de encontro com as nossas verdades. Somos craques nisso, mas aquilo que não nos modifica não contribui para nossa evolução. Temos que sair dessa reencarnação melhores que entramos, ou não teria sentido estarmos aqui. A não ser que fossemos um espírito de primeira ordem cumprindo uma missão aqui e não tendo mais nada a aprender. Eu tenho certeza que não sou um desses, porque tentei repreender o vento e a chuva esses dias e eles nem me deram bola.

A resposta da questão 642 diz que o limite de fazermos o bem é o limite da força. Logo, não devemos fazer nada que nos prejudique, embora, muitas vezes, sem que tenhamos consciência disso, vamos ser prejudicados por pessoas e por situações onde agimos de boa fé. E está tudo bem. Nada de levar nada ao pé da letra. Vamos aprender e seguir em frente, agindo melhor e com mais prudência. Sem deixar o nosso coração endurecer por essas situações que tem sempre como objetivo, por parte da providência divina, nos ensinar alguma coisa.

Precisamos entender que a vida é extremamente complexa e que ainda estamos muito no início da jornada evolutiva. Temos que buscar trabalhar nossa relação conosco mesmo, inclusive com ajuda de terapia, sem fanatismo, sem imaginar que os religiosos tem todas as respostas, para que possamos viver sempre fazendo o bem no limite das forças. Sem que isso perturbe nossa saúde mental e nossa alegria de viver.