Somos Máscaras e Mascarados por Excelência

SOMOS MÁSCARAS E MASCARADOS POR EXCELÊNCIA

Existe atualmente um conceito bastante difundido e veiculado pela mídia, por psicólogos, por terapeutas, por teólogos da alma, sobre a questão de encontrar o “ verdadeiro eu ” do ser humano, de despertá-lo, de acordá-lo, pois se pensa que neste “ verdadeiro eu ” está escondido a verdadeira essência do homem, a verdadeira identidade do homem. Contudo essa motivação por partes destes

“ médicos da alma humana ” de se buscar o verdadeiro eu, é baseada a princípio por uma crença, por uma convicção de que realmente existe este “ ser verdadeiro” que dorme na alma humana.

Mas estes médicos da alma humana não levam em conta um fator indispensável a ser considerado: e se o eu verdadeiro e original não existir, melhor ainda, nunca existiu, e se a busca por este ser verdadeiro não foi, e ainda o é, alicerçada apenas por uma crença especulativa de que “ ele reside e dorme dentro de cada indivíduo” ?

E se digamos que eu encontre este eu verdadeiro do daisen, do meu ser, como eu poderia ter certeza de que se trata realmente e inconfundivelmente do tal “ eu verdadeiro” que tanto se comenta?

Toda busca por algo é motivada primeiramente pela fé e pela esperança de que este algo possa existir. Claro que não é porque eu não veja ou sinta algo que isso vai me levar a concluir de modo irrefutável que esse algo não exista. Mas ele será ele? Pois afinal quem diz que ele é ele sou eu, sou eu quem vai definir e interpretar ele como sendo o algo que eu tanto procurei.

A busca por algo que eu cogito que possa existir não prova que a coisa procurada exista de fato, pois esta busca é influenciada principalmente por uma intuição de que esse algo possa existir, e nós bem o sabemos que as intuições podem ser enganosas, e nos levar a uma dedução e conclusão equivocadas.

É claro que algo sempre será encontrado pelo homem, seja dentro de si, ou fora de si, seja uma resposta, uma dúvida, um nada, uma pergunta, uma nova palavra, mas todas as coisas procuradas e também encontradas estão também inseridas no campo da possibilidade de serem um erro, um conjunto dialético de enganos, tudo é passível de ser uma mentira, uma ficção produzida pelo narcisismo dúbio do homem.

Por exemplo, quando eu digo:

_ Eu sou uma Pessoa.

Mas o que é ser uma pessoa, o que é uma pessoa antes de tudo?

A palavra pessoa vem do latim “ persona”, a qual é derivada da palavra grega “ Prósopon” que significa máscara.

Basicamente o que estou querendo dizer é que quando digo que eu sou uma pessoa, estou consequentemente afirmando que eu sou uma máscara.

É bem diferente de dizer: _ Eu uso uma máscara, eu estou de máscara.

O verbo “Ser” indica essência íntima, individual e completa, por tanto ao dizer que eu sou uma persona(máscara), eu indico que tudo em mim é mascarado, porque sou por completo uma máscara,

uma persona, uma pessoa.

Na antigüidade grega, os atores utilizavam máscaras( prósopon em grego) para interpretar um determinado personagem. Todos os atores da peça teatral utilizavam máscaras, e o que permitia a platéia distinguir cada ator era justamente a voz, daí a palavra latina que corresponde ao vocábulo grego máscara ter sido a expressão persona, per + Sona, isto é, pelo som, através do som , por meio do som da voz é que se permitia identificar um determinado ator mascarado da peça teatral.

“ Eu sou uma pessoa, eu sou uma persona, Per + sona, eu sou uma máscara” , por tanto eu não escondo um “ eu verdadeiro” dentro de mim, porque eu não uso uma máscara que poderia ser arrancada do meu rosto e assim revelaria o rosto verdadeiro e autêntico do meu ser, pois na verdade eu sou completamente uma máscara, por tanto desmascarar-me é acabar comigo, é rasgar a essência do meu ser o qual é por inteiro mascarado.

Ninguém tem um ser puro e verdadeiro que pode ser desvelado, que pode ser descortinado, pois todo o meu ser é uma máscara. Com isso quero dizer que nenhum homem tem uma identidade original, escondida no âmago de seu ser, porque somos máscaras, e consequentemente seres mascarados. E como máscara que sou, tudo o que se expele de mim é pura interpretação, sou todas as pessoas e coisas e personagens que eu queira ser, que eu queira interpretar e dramatizar em minha vida.

Minha pessoa, minha persona(máscara) adapta todos os eus representativos que eu queira vivenciar.

Por isso mesmo que ninguém pode compreender um ao outro, e nem a si mesmo. Tudo em nós é pura superfície, como bem observou Nietzsche, pois somos máscaras em todo o nosso comportamento e individualidade.

_ O que você vê diante do espelho? È o teu rosto verdadeiro? Como você pode ter tanta certeza a respeito disso? Teus olhos nunca mentiram pra ti?

Você vê a ti, ou você vê a máscara que esculpiram desde tua infância em todo teu ser?

Você reconhece quem você é realmente mesmo?

Somos máscaras, somos superfícies, somos a representação de nós mesmos, e por isso mesmo que tudo que é expelido pelo homem se reduz a simbologias interpretativas. “ Não há fatos, mas tão somente interpretações’ dissera Nietzsche.

Neste ponto concordo também com Sartre, ao afirmar que no caso dos seres humanos, “ a existência precede a essência’. E por que? Como máscaras e mascarados que somos, a nossa essência é construída depois da escolha do que se quer ser, do que se quer se tornar, do personagem que se irá vivenciar no dia-a-dia. Ao contrário dos demais seres que existem no mundo, “ cujas essências precedem sua existências”, pois os animais, as árvores, os microorganismos, uma cadeira, uma caneta, todos eles já possuem um papel específico a desempenhar no mundo antes mesmos de ganharem existência, de serem fabricados, de serem expelidos pela natureza, e pela vida.

O homem, como sendo máscara e mascarado simultaneamente, só vai decidir seus papeis a serem desempenhados, vivenciados, a serem interpretados, somente depois que ele passa a existir, e a ter consciência de sua existência. Depois de ganhar sua existência é que ele vai escolher o que poderá se tornar.

Somos máscaras,

A máscara almeja e necessita de um personagem,

O personagem necessita de um palco e de uma estória para poder entrar em ação;

O personagem quer ter sua vida própria, quer se mostrar convincente e autêntico em seu ato de interpretar para o mundo, e para consigo mesmo.

O personagem vivenciado quer ser tão convincente, e aparentar ser o mais espontâneo possível na sua representação cotidiana, ao ponto de ele mesmo não permitir desconfiar em hipótese nenhuma que ele é precisamente a máscara personificando um determinado personagem. Convencer-se numa tal proporção e habilidade de jamais desconfiar de que eu não sou eu mesmo.

Palmas para cada um de nós.

gilliard alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 28/11/2007
Código do texto: T756675
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