Lugar Comum da Vida

É fácil sonhar, imaginar que o mundo é perfeito ou, como diria Renato Russo, “que todas as pessoas são felizes” ou compartilham da nossa felicidade. O difícil é encarar a realidade de frente, aceitar que somos meros aprendizes nesse mundo cruel e injusto. É por isso que nos iludimos, para fugir de nossos defeitos, de nossos problemas ou obrigações. O medo de sofrer faz com que nos isolemos em uma ‘redoma de vidro’ e, julgando-nos protegidos, esquecemos que o vidro quebra. É quando ocorre o inevitável encontro com as verdades que tanto temíamos.

Depois desse primeiro choque, o mais complicado é ter coragem para sair do lugar comum da vida, aquele ambiente convencional com o qual já estamos habituados. Aí vem o ‘espantamento’ com as novas concepções, diferentes daquelas que nos foram ensinadas, mas que, mesmo contra a nossa vontade, somos obrigados a aceitar. Neste ponto, somos como o bebê que, depois de engatinhar durante meses, começa a dar os primeiros passos com as pernas trêmulas. Estamos aprendendo a ser independentes, a andar com nossas próprias pernas, correndo atrás do que queremos, buscando sempre melhorar. Começamos a adquirir certa liberdade que nunca havíamos provado, em decorrência da superproteção a qual sempre estivemos submetidos.

Tudo o que possuíamos até então eram falsas experiências, resultado de uma liberdade ilusória, de um mundo imaginário. Só experimentamos realmente a sensação de liberdade quando recebemos nosso primeiro salário, fruto de nosso esforço e dedicação. É quando torna-se válida a idéia de que o trabalho dignifica o homem. Mas e o resto? Onde fica o que produzimos a nível artístico, filosófico e social, tantos anos de estudo, tanto conhecimento acumulado... será que vai tudo para o lixo? E a nossa formação cultural, será que foi em vão? O mundo capitalista nos faz pensar que tudo aquilo que não gera divisas não possui valor, assim, a Arte, a Filosofia e a Literatura, que são ciências contemplativas, passam a ocupar um papel secundário, por vezes até insignificante.

Diante de tantas informações, impostas principalmente pela mídia, talvez não estejamos aptos a distinguir o útil do inútil, o prático do desnecessário. Valorizamos aquilo que é supérfluo, sem nos deter a uma análise mais profunda do conteúdo das coisas e dos fatos. Qualquer reflexão exige muito esforço, uma vez que a maioria das pessoas não se dispõem a entender e aprender coisas novas, limitando-se apenas a reter o essencial (ou menos do que isso).

Apesar de tudo, creio que ainda podemos reverter a situação, orientando corretamente as próximas gerações, formaremos cidadãos críticos e conscientes, capazes de exercer suas funções dentro da sociedade. Para tanto, é necessário que a mudança comece agora, a partir de nossos próprios atos.

Joyce Amorim
Enviado por Joyce Amorim em 25/11/2005
Reeditado em 08/01/2008
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