FUTEBOL

Quando é que o Brasil ou qualquer país do mundo vai criar juízo e parar de se comportar como se o futebol fosse uma religião? Ou será um vício ?

Não é possível que um povo pobre, que não tem futuro para oferecer aos filhos, mal uma inocente criança acabe de nascer e a enfiem em uma camisa de clube. Será que esse pai e essa mãe não vêem que estão matriculando o filho para ser gandula, torcida organizada desorganizada, fogueteiro, biriteiro, vândalo _ qualquer coisa dessas _ porque Pelé só tem um, Maradona, só tem um e Romário também. Só Ronaldinho que tem dois. Quem tiver de ser craque será, não precisa de escola. Pelo que se sabe, os maiores jogadores de futebol se fizeram nas periferias e campinhos de areia.

É impressionante ver senhoras de cinqüenta, sessenta e até mais anos de idade ficarem em filas para comprar ingressos e em outras filas para entrar no inferno de um estádio cheio. Pais com filhos no colo em meio à aglomeração de enlouquecidos torcedores. Homens que não derramam uma só lágrima por qualquer motivo e choram copiosamente porque o time perdeu. O que ganham essas pessoas com a vitória do time? Será que não percebem que voltam para suas casas em ônibus superlotados _ e que até são apedrejados _ enquanto os jogadores, técnicos, juízes voltam em confortáveis aviões? Será que alguns não se envergonham profundamente quando o filho não tem um pão para o café da manhã (o pai priorizou o bilhete para o jogo) enquanto muitos jogadores comem lautamente em hotéis de luxo?

Os jogadores de futebol que vivem em mansões e nadam em dinheiro não são tantos, mas inúmeras pessoas perdem seus dias de vida desejando que o filho venha a ser um desses, o que é uma utopia.

É uma lástima ver crescerem as estatísticas da violência nos estádios, as inúmeras mortes, as tristes cenas de enterros de jovens mortos no vício do futebol _ e tudo continuar como se fosse algo natural. Triste é também o quanto milhares de pessoas gastam, sem a menor cerimônia e sem nenhuma dor na consciência _ rios de dinheiro _ adquirindo camisas, shorts, bebidas, comidas para comemorar partidas de futebol, e são, às vezes, incapazes de dar um pão a quem tem fome.

Até quando o povo vai ouvir com emoção o Hino Nacional em eventos esportivos, confundindo nação e povo com competições de qualquer tipo?

Nem Freud explicaria uma aberração como a que presenciamos, a alegria de tantas pessoas que gritam "O Brasil ganhou" quando na verdade o Brasil perdeu, amanheceu quebrado e ressacado, além de só conversar sobre um tema. O Brasil é uma coisa e a Seleção de futebol é outra totalmente diferente. E não quero que me represente, não autorizo.

Uma professora, indivíduo de uma classe descaracterizada, humilhada, pisoteada não precisa ser assim representada.

Não sei se o futebol é "um mal necessário", não desejo mal aos jogadores. Devem ganhar pelo que fazem, mas a educação precisa colocar as consciências no lugar e mostrar que cidadania é um bem que deve ser igualmente distribuído entre todos os profissionais. Um país deve pensar menos redondo e criar possibilidades para todos os seus filhos. Que invista em futebol, mas não em primeiro lugar.

Na Grécia antiga, os meninos que não serviam para a guerra deveriam ser sacrificados. Se a moda volta...