A BOCA FALA DO QUE ESTÁ CHEIO O CORAÇÃO

 

Toda pessoa não suficientemente realizada em si mesma tem a instintiva tendência de falar mal dos outros. Qual a razão última dessa mania de maledicência?  Quem fala mal de outro traz dentro de si um complexo de inferioridade unido a um desejo de superioridade.  Então essa pessoa no afã de ser aceita de sentir-se notada e ter nela o sentimento de superior, exasperadamente começa a diminuir o valor dos outros por que pensando agir assim, dará a ela a grata ilusão de aumentar o seu valor próprio. 

 

A imensa maioria das pessoas não está em condições de medir o seu valor por si mesmo. Acaba criando uma necessidade de medir o seu próprio valor pelo desvalor dos outros. Essas pessoas julgam necessário apagar as luzes alheias a fim de fazerem brilhar mais intensamente a sua própria luz. Elas pensam que enxovalhando a vida alheia terá a sua valorizada.  São como vaga-lumes que não podem luzir senão por entre as trevas da noite, porque a luz das suas lanternas fosfóreas é muito fraca. Quem tem bastante luz própria não necessita apagar ou diminuir as luzes dos outros para poder brilhar. Quem tem valor real em si mesmo não necessita medir o seu valor pelo demisso valor dos outros. Quem tem vigorosa saúde espiritual não necessita chamar de doentes os outros para gozar a consciência da saúde própria. É triste saber que na maioria das vezes as nossas reuniões sociais, os nossos bate-papos são, em geral, academias de maledicência.

 

Falar mal das misérias alheias é um prazer tão sutil e sedutor – algo parecido com uísque, gin, ou cocaína – que uma pessoa de saúde moral precária facilmente sucumbe a essa epidemia. A palavra é instrumento valioso para o intercâmbio entre os homens. Ela, porém, nem sempre tem sido utilizada devidamente. A palavra tem poder de dar a vida, porém, mata com a mesma intensidade.

 

Numa cidade pequena, numa determinada igreja, uma pessoa que chamaremos de André, espalhou uma calúnia difamando outro, o Gerson. Como em toda cidade de interior a difamação de André espalhou-se rápida e nocivamente não havendo ninguém mais que não comentasse o fato. Gerson, vítima da calúnia e não aguentado a injuria e o agravo, adoeceu emocionalmente,  adquiriu um câncer que o levou a óbito. Morreu!

 

Dias antes do seu falecimento, André o autor e veiculador da difamação foi à Gerson, sentado em seu leito rogando-o, pediu que o perdoasse. Gerson direcionou seu olhar perdido, fitando-o disse que o perdoaria com uma condição. Que André apanhasse um saco enchesse de penas de galinha, subisse o morro mais alto da cidade e num momento de vento intenso ele espalhasse todas as penas ao vento. André mais que depressa se prontificou a fazer. Gerson ainda com o olhar fixo, disse, tem outra coisa: que depois você desça e apanhe todas as penas devolvendo-as, uma, a uma, até que o saco se encha novamente. André disse ser impossível o que ele estava a lhe pedir, e que por mais que tentasse, jamais conseguiria. Então André com olhos lacrimejados lhe disse: é isso que quero que você entenda. Ainda que eu te perdoe, o mal que você me causou nunca, nem você, nem ninguém poderá reparar. É como aquelas penas espalhadas ao vento. Poucos são os homens que se valem desse precioso recurso para construir esperanças  balsamizar dores e traçar rotas seguras. Fala-se muito por falar, para “matar tempo”. A palavra, não poucas vezes, converte-se em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência e em bisturi da revolta. Destroem vidas, igrejas, famílias. Uma destruição sem volta. Prejuízos irreparáveis. 

 

Semelhantes a luz que nos revela todas as impurezas, as boas palavras dirigem conflitos e resolvem dificuldades. Falando com sabedoria e dirigidos pelo espírito do Senhor reformularemos os alicerces do pensamento humano. Hitler hipnotizou multidões, enceguecidas, que se atiraram sobre outras nações, transformando-as em ruínas. Guerras e planos de paz sofrem a poderosa influência da palavra. Há muita gente que pronuncia palavras doces com lábios encharcados pelo fel. Há aqueles que falam meigamente, cheios de ira e ódio. São enfermos em demorado processo de reajuste. Portanto, cabe às pessoas espirituais, guiadas por um mover dos Mestres dos mestres, Jesus, serem lúcidas e de bom senso, não dar ensejo para que o veneno da maledicência se alastre, infelicitando e destruindo vidas. Pense nisso! Desculpe a fragilidade alheia, lembrando-nos das suas próprias fraquezas. Evitemos a censura. Evitemos a crítica. A maledicência começa na palavra do reproche inoportuno. Se desejamos educar, reparar erros, não os abordemos estando o responsável ausente. Toda a palavra torpe, como qualquer censura contumaz, faz-se hábito negativo que culmina por envilecer o caráter de quem com isso se compraz. Enriqueçamos o coração de amor e banhemos a mente com a palavra de Deus. Ela no ensina que “a boca fala do que está cheio o coração” 

 

Texto extraído e adaptado do livro “A Essência da Amizade” – Humberto Rohden.