A Medida da Nossa Criação
Charlles Nunes

Dependendo do momento da vida em que estamos, os assuntos que ocupam nossa mente são um pouco previsíveis.

 

Os jovens, pensam em estudo, namoro e sair com os amigos. Os adultos, pensam no trabalho, casamento, na criação dos filhos, no complemento dos estudos, na construção de um patrimônio. Os de meia idade refletem sobre as experiências do passado, enquanto planejam uma forma de ter uma aposentadoria tranquila. E os idosos, cuidam dos netos, da casa, se ocupam com a saúde e alguns até viajam e realizam atividades com as quais sempre sonharam.

 

Em cada etapa, pode acontecer de a pessoa estar tão ocupada com os afazeres do dia, ou tão distraída com o bombardeio de informações que recebe, que acaba deixando para segundo plano um projeto muito importante: o desenvolvimento dela mesma, como pessoa.

Quando traçamos metas, sejam financeiras, físicas ou profissionais, e nos empenhamos em sua execução, costuma haver progresso. Mas quando deixamos nosso barco à deriva, vivendo sem planejamento ou esforço, pode acontecer de ficarmos agarrados num platô e nunca passarmos para o seguinte.

 

Algumas habilidades, aprendemos de forma rápida. Outras, passamos a vida toda tentando nos aperfeiçoar.

 

Gostaria de partilhar dois momentos nos quais acredito ter sido ensinado do alto. Foram momentos nos quais aprendi algo muito mais pessoal do que o que estava sendo ensinado. E essas lições se gravaram no meu intelecto e no meu espírito.

 

A primeira aconteceu quando eu tinha 18 anos. Meu pai havia falecido há 6 anos, e como minha mãe precisava trabalhar para sustentar os três filhos pequenos, fui aprendendo lições um pouco duvidosas na chamada escola da vida. Quer dizer, além da sala de aula convencional, nós também frequentávamos a escola da rua. Algum amigo mais velho se encarregava do papel de professor.

 

Como era de se esperar, os meninos mais velhos nos ensinavam a interagir com as garotas. Mas o repertório deles era bastante limitado. Por isso, as aulas eram improvisadas mesmo.

 

Nessa época, não tínhamos Internet. Passávamos o tempo livre jogando futebol, brincando ou conversando. E já estava trabalhando há 4 anos, quando esse episódio aconteceu.

Num final de tarde, nos sentamos na cabeceira de uma ponte, e ficamos esperando as moças passarem. Eu era o mais novo dos quatro rapazes. Quando as moças passavam, os mais velhos assoviavam: 'Fiu-fiu'. Às vezes, uma delas olhava. Mas a maioria não dava a mínima.

 

Quando chegou a minha vez, assoviei para uma moça. Se me lembro bem, ela nem olhou. Mas o sentimento que tive me fez decidir que aquilo não era pra mim. Que eu me sentiria mais feliz jogando bola.

 

Nesse mesmo curso da rua sobre as garotas, um colega argumentou que iria ficar solteiro a vida toda. Como solteiro, ele estaria livre pra sair com quem quisesse, quando bem entendesse. A ideia me pareceu melhor do que ficar assoviando na cabeceira da ponte.

Fiquei imaginando como seria levar uma vida inteira de solteiro. Cheguei a pensar: "Se alguma garota quiser se casar comigo, vai ter que ralar muito. Meu plano é ficar solteiro mesmo."

 

E assim o tempo foi passando. Uma lição aqui, outra ali, na nossa escola da rua. Um dia, quando eu tinha 18 anos, fui a uma reunião da igreja. Uma Conferência do Sacerdócio da Estaca. Nessa reunião, os homens e rapazes acima de 12 anos se reúnem para serem instruídos sobre suas responsabilidades.

 

Tomei banho, coloquei uma camisa branca e gravata, e lá fui eu para a reunião de treinamento.

 

Antes do início da reunião, apareceu na porta um homem alto, com aparência de estrangeiro, aparentando uns 50 anos. Ele era o Presidente da Missão Brasil Rio de Janeiro. No exato momento em que ele colocou a cabeça na porta e deu um sorriso, senti que ele trazia consigo algo de bom.

 

Durante a reunião, ouvimos mensagens bem preparadas e inspiradoras. Mas na hora em que o Pres. Knighton começou a falar, aconteceu algo diferente.

 

Durante a fala dele, senti minha mente ficar iluminada. Não prestei mais atenção na mensagem. Parecia que estávamos sozinhos naquela sala. De algum lugar, que não provinha da boca dele, recebi uma mensagem simples, clara e inconfundível:

"Esse é um homem que atingiu a medida plena da sua estatura. Ele é um homem casado, cuida da própria família e tem uma profissão."

 

Naquele momento, percebi que estava aprendendo algo sobre meu próprio potencial. Refiz minha decisão, e decidi que um dia iria me casar e formar minha própria família. Dali pra frente, não haveria conversa de amigos na rua que me dissuadisse de que esse era o caminho certo. Eu havia sentido, vislumbrado, e estava decidido a agir quando chegasse a hora.

 

Já tive diversas experiências semelhantes a essa, sobre assuntos e decisões importantes na vida. Gostaria de registrar outra que tive muitos anos depois - em 2023 - quando participei da conferência da Estaca Itaguaí, no Rio de Janeiro-RJ.

 

O formato era parecido. Os oradores fizeram discursos muito inspiradores, como sempre. Quando chegou a hora do Pres. Cavalcante - que preside a missão Brasil Rio de Janeiro - fazer seu discurso, uma experiência semelhante aconteceu.

 

O Pres. Cavalcante tem aproximadamente a minha idade, e enquanto ele falava, tiva a seguinte impressão espiritual:

 

"Eis aí um homem que está a caminho de atingir seu pleno potencial como Filho de Deus. Ele não se tornou essa pessoa por acaso. Foi fruto de muito trabalho e de diversas decisões acertadas."

 

A impressão não se referia ao cargo que ele ocupava, como presidente de missão.

 

Tampouco se referia ao seu papel de marido, filho ou pai. Naquele momento o percebi como um Filho de Deus, que vinha aprendendo ao longo de toda uma vida. E essas experiências faziam dele aquela pessoa que ele estava se tornando.

 

Essa percepção me inspirou a fazer alguns ajustes na minha jornada também. Me trouxe o desejo de seguir a Cristo com mais comprometimento.

 

Após a reunião, fui cumprimentá-lo, e disse:

 

- Presidente, parabéns pelo discurso. E muito obrigado por ter tomado as decisões que o trouxeram até aqui. Eu sei que elas não foram fáceis.

 

Ele parou por um momento, refletindo. E seus olhos se encheram de lágrimas. Demos um abraço. Depois, conversamos sobre a época em que servimos missão, no nordeste do Brasil. Ambos servimos na Missão Brasil Recife. Eu terminei em um ano, e ele chegou no ano seguinte.

 

Já se passaram 36 anos desde que ouvi o Pres. Knighton. E apenas oito dias desde que ouvi o Pres. Cavalcante. Acredito que as duas lições me foram ensinadas pelo mesmo Espírito, e vão permanecer comigo por toda a vida.

 

Espero que você também possa ter experiências semelhantes - e que reserve um momento para registrá-las.

 

E caso sinta que - assim como eu - está na hora de fazer alguns ajustes também, desejo que você entre em ação e consiga alcançar todo seu potencial como Filho de Deus.

 

Angra dos Reis-RJ, 27 de Março de 2023.

 

= = =

 

Para saber mais sobre Jesus Cristo, ou sobre a igreja, pode entrar em contato comigo, que terei imenso prazer em conversar. Ou se preferir, pode visitar o site oficial de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias:
https://www.churchofjesuschrist.org/?lang=por

Charlles Nunes
Enviado por Charlles Nunes em 24/04/2023
Código do texto: T7771530
Classificação de conteúdo: seguro