AS PESSOAS E AS DROGAS

Temos um cérebro muito complexo, tanto que somos incapazes de entender o que ele pode nos oferecer de ajuda, prazer, dor... então ficamos a mercê do meio em que vivemos, dos estímulos, das frustrações, da força interna que nos move.

Algumas pessoas não aguentam o peso da realidade e um dia alguém do mal, oferece uma bebidinha, um cigarrinho, um pozinho, um comprimido, um pico, e um mundo colorido, cheio de "paz", sem dor, se apresenta, o infeliz tem a ilusão que é feliz.

Uma nova família se apresenta, seus iguais, eles riem muito juntos, caminham em bando em busca de mais e mais, daquilo que os faz sair da dura realidade, nesse momento o bolso fura e o dinheiro desaparece, aqueles amigos que antes dividia com você, agora também busca o seu quinhão, então é hora de vender o corpo, por qualquer preço, ou vender o produto do roubo, primeiro de dentro de casa, quando não há mais nada de valor em casa, é hora de tirar dos outros, qual o problema? Nesse momento as barreiras da auto censura, da ética, da empatia, não existe mais, só existe o desejo de voltar a sentir a sensação sentida pela primeira vez, mas isso não é mais possível, porque o cérebro que antes estava limpo, agora se acostumou e exige altas doses para viajar cada vez menos, ele quer mais, muito mais, o corpo vai definhando, a alma já não o habita totalmente, o indivíduo vira meio que um zumbi, não escuta ninguém que fale algo diferendo, a pessoa se acha inteligente, se tiver algum talento então, se acha um gênio, olha os demais, como caretas, pessoas menores.

Essa escravidão pode durar uma vida inteira, essas pessoas perdem a noção de todos os limites, tudo é permitido, os abusos são normais, consigo mesmo, com os que o cercam, tudo faz parte do seu novo universo.

Tem pessoas que conseguem se mascarar de um jeito que vivem em família, tem um trabalho, quase ninguém percebe seu lado obscuro, mas a maioria não conseguem, e passam a viver desleixado, sem higiene pessoal e do seu lar, uns acabam surtando e agridem os que estão entorno, batem na mãe, esposa, filhos, animais, outros tentam tirar a própria vida, se olham no espelho e descobrem que perderam a essência do seu eu, isso é o pior de tudo, todo o amor recebido na infância, escora na urina e nas fezes, deixando o corpo vazio de sentimentos, agora só o que importa é o barato das drogas, então é preciso buscar muito mais, até que um dia o corpo deixa de responder a qualquer dose, esse ser que um dia foi alguém, sai de cena sem nada, destruído, deixando no seu lugar um suspiro de alívio dos que viviam sufocados com a sua existência. ESSAS PESSOAS, estragaram suas vidas e como uma fruta podre, apodreceram as que estavam próximas de si, deixando-as marcadas para sempre.

Se você está pensando em experimentar, tome o antidoto que minha vó me ensinou, lá nos anos 70, DIGA NÃO, não se permita brincar com essa roleta russa.

Eu vivi dentro de muitos camarins de teatro, circo, tv, já vi muita gente talentosa, bonita, famosa, se perderem usando isso ou aquilo, antes de entrar em cena, muitos doutores também se permitem essa experiência, essa coisa está espalhada tão fortemente em nossa sociedade, é como um animal com muitos tentáculos que sorrateiramente se instala entre nós e vai sugando lentamente as almas sem que se perceba, quando nos damos conta, temos apenas cascas vazias.

As drogas são o que destrói o nosso planeta, mas elas oferecem fortuna a quem produz, e ilusão a quem consome, isso infelizmente é um círculo sem fim, resta a nós pobres seres que percebemos o perigo, tentar fazermos a cabeça dos nossos filhos para nunca desejar experimentar, digo tentar, porque a decisão é deles, cabe a nós depois dela, decidirmos se vamos adoecer juntos ou deixá-los seguir o seu caminho de runas e dor.

Para uma mãe isso é o mesmo que a morte em vida, é uma escolha de Sofia.

Mas para quem vive essa dor agora, ainda tem uma luz no fim do túnel, eu já vi de tudo nesse sentido, pois trabalhei muitos anos em comunidades carentes, isso me fez conviver com essa realidade bem de perto, já vi muita dor e tragédia, mas também vi milagres como mulheres que conseguiram largar o vício do craque, por seus filhos, que passaram a trabalhar, e cuidar daquele Serginho com o maior amor, com o apoio de suas mães, foram poucas, mas vi. Dentro de cada um de nós há um bote salva vidas, se realmente desejarmos, podemos nos salvar, mas a custa de muita dor. A REALIDADE dói, não é tão bonita a primeira vista, mas é o único caminho seguro, depois de um tempo, passamos a viajar e perceber que o belo as vezes está no comum, na simplicidade, no ócio, no vazio existencial, na arte.