ANTOLOGIA REFLEXÕES SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL

ANTOLOGIA DA ASLE-Academia Saltense de Letras

REFLEXÕES SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL

(Nota Autor: O texto foi escrito baseando-se em parte da letra da música Romaria (autor Renato Teixeira)

Vida pregressa: uma sucessão de ilusões e desilusões na família, nos relacionamentos, nas aventuras e nos negócios.

O meu pai foi peão (1)

Minha mãe, solidão

Meus irmãos perderam-se

Se há sorte, eu não sei, nunca vi na vida

À custa de aventuras

Descasei, joguei,

Investi, desisti

O século era o vigésimo primeiro, e naquele planeta azul, que fica no meio de um dos braços da galáxia, a 30 mil anos-luz do núcleo, a meio caminho entre a borda e o centro, chamado Terra, os seus habitantes eram animais racionais, denominados humanos, e século a século foram fazendo descobertas científicas, e o planeta virou um imenso canteiro de obras. O homo sapiens criando.

Na divisão social da Terra surgiram tribos, grupos, clãs, reinados, até chegar a países, colocaram cercas nos domínios, cada qual com seu linguajar, e no progresso desenfreado o homem descobriu que na riqueza estava a chave para a imposição. Ser rico não é pecado, subjugar pela riqueza sim.

A classe dos trabalhadores, camponeses, quer seja na Roma antiga, como na Revolução Industrial, sempre foram a maioria, mas sob comando de uma casta rica, e assim atravessam séculos, o peão sustenta o trabalho, tal qual o jogo de xadrez, o de menor valor trabalha para os Reis, Damas, Bispos, etc.

Chegamos ao século vinte e meu pai foi peão.

O homem atravessou eras, em constantes transformações tecnológicas, que o leva a pensar que é Deus, no momento que a engenharia genética capacita a criar até seres vivos, a ciência falando alto, no contraponto das relações humanas, que caminha há muito tempo como coadjuvante. O saudável convívio social foi substituído pelo convívio com máquinas, o celular, o computador, é por aí que o homem faz seu novo jeito de viver: redes sociais, conversas virtuais, pagamentos, recebimentos, negócios, tudo.

Nesta era virtual não temos tempo para o outro, a conversa virtual é fria, tira o calor das palavras, os trejeitos, o riso ou choro, sozinho enclausurado num quarto diante de uma tela a pessoa não vê a vida passar. A humanidade da relação passa longe, isso quando essa arma não é usada para ludibriar um desavisado, que cai nas armadilhas virtuais. É a solidão que toma conta, feito a mãe que acarinha o filho. Minha mãe, solidão

Neste cenário, de cada um por si, vive-se uma nova realidade, como dizem “a nova normalidade” a estrutura familiar se desagregando, a violência, parece, crescendo, basta acompanhar os noticiários, os caminhos apresentam-se sombrios, e os fracos de espírito se perdem no labirinto do tudo em vão, ou seguem pelas ruas do nada, abrigam-se em casas vazias e alimentam-se das ilusões perdidas. Assim de aventuras em aventuras segue a vida, mas que vida é essa? Os abismos se abrem sob os pés dos incautos, valores invertidos, o planeta dizimado, e falsos profetas surgem como heróis. O mundo virou um imenso cassino onde jogam o que não tem. Assim, assistimos as desventuras de nossos irmãos perdendo pela vida os valores que embasam o homem, e que desnorteados entregam-se ao “Deus dará”.

Andei por aí busquei também os sentidos da vida, o momento nos faz refletir quem somos, a que viemos, e diante de tanta dor e sofrimento concluímos, não somos ninguém de forma isolada. A vida não é uma roleta de jogo onde a sorte ou azar determina o seu caminho, a vida é mais, e como pregava o Mestre Ariano Suassuna: “O sonho é que leva a gente para frente, se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado”. Porém, entendo, há momentos em que a razão deve ser a senhora.

Chegamos ao ponto de ouvir, que devemos viver uma nova normalidade, adaptar-se ao novo modo de vida, mas que vida é essa? Que nova normalidade é essa? As diferenças nunca cessarão, e como diz a letra do cantor Falcão: “o homem é homem, mulher é mulher, baitola é baitola” o pobre continua pobre, o rico mais rico, a saúde vai mal obrigado, o racismo existe, a educação é débil, a segurança insegura, o sem teto é sem teto, e as mentes brilhantes continuarão a brilhar sob o céu do planalto. No mais estou indo embora, já cantava Zé Ramalho.

17/07/2021

AUTOR: ANDRADE JORGE, ACADÊMICO DA ACADEMIA NCIONAL DE LETRAS DO PORTAL DO POETA BRASILEIRO E ACADEMIA SALTENSE DE LETRAS