UM PADRE VISÍVEL ANTE FORÇAS INVISÍVEIS

Iniciado o tempo novo muitas são as vicissitudes a partir do Divino, para quem crê, e de bons prenúncios para outras pessoas que acreditam diversamente.

O ano principia apinhado de coisas velhas, entulhos que se vão formando a partir da ganância e descaso de muitos, especificamente daqueles que detêm poderes, os chamados constituídos que, ao final, só desconstituem aos que menos têm.

E mais uma vez a luta se trava a partir do desprezo aos mais pobres e a quem os defendem como se a lição de Jesus já não tivesse mais nenhuma valia.

Recentemente o País assistiu um tanto perplexo, pedido de investigação sobre a figura do padre Júlio Lancellotti, um cura ligado à arquidiocese de São Paulo e que elegeu para o desempenho de seu múnus sacerdotal os moradores de rua. Em contraste um vereador acusa ao monsenhor Lancellotti de comunista e protetor de bandidos. Esqueceu-se tal parlamentar de cumprir com suas obrigações no âmbito da atuação do seu mandato cuidando de outras pautas caras à municipalidade.

A questão maior é a remoção dos pobres e a tudo o que eles representam em meio ao capitalismo selvagem de quem só visa o lucro quanto meta principal. Não foi o padre Júlio o artífice da pobreza; ele a combate com tenacidade e por tal é também tenazmente combatido até com calúnias e ameaças a partir de denúncias ‘requentadas’ e sem nenhuma comprovação.

Os seus pobres são invisíveis e quando há quem lhes dê voz e vez esse alguém é vilipendiado até mesmo dentro da Igreja por aqueles mais católicos que o próprio Papa. Assim tem sido também com o pontificado de Francisco, duramente atacado na seara intraeclesial e defendido extra muros por ateus que mais confessam a Deus que os ‘cristãos’ que O renegam a partir das próprias ações diabólicas, pois separam mais que unem.

Convivendo em andrajos, fétidos e descuidados pela classe política são os hipossuficientes, relegados a viverem sob as pontes, brumadinhos, favelas e praças com suas crianças e quando alguém lhes dá visibilidade há a tentativa de sufocamento também aos que fazem a opção preferencial por quem sempre costumeiramente perde.

Jesus foi um marginal para o Império Romano e assim foi tratado na crucifixão. Os pobres, na sua hipossuficiência, também são cruciados todo o tempo por um sistema perverso, desumanizante e concretizado na expressão de um vil parlamentar que dá mostras de não ter o que fazer, senão, perseguir a quem caminha com aqueles que são os indesejados do Sistema, sem fortuna.

O labor evangelizador do padre Lancellotti tem analogia em Damião de Molokai, apóstolo dos leprosos, Hélder Câmara, bispo dos pobres, José Antonio de Ibiapina, apóstolos do Nordeste, Antonio Conselheiro, o beato de Canudos que ousou sonhar com um mundo igual, Dulce dos Pobres, um anjo bom na Bahia de todos os santos, Tereza de Calcutá e Maria de Araújo, negra, inculta e pobre em Juazeiro, palmatoada em sua condição de nordestina mística.

Andar com os sem fortuna significar estar ao lado de quem submerge sistematicamente, dos que nada têm e nem terão! É professar um amor sacrificial que poucos abraçam e compreendem, dadas as condições de despojamento e abandono em si mesmos ao perceber o Cristo no descendimento da cruz cotidianamente. É ser incompreendido perante uma igreja surda que já não ouve os reclamos do seu povo e que silencia repudiando a profecia do anúncio e da denúncia.

Forças não tão ocultas se sublevam todo o tempo contra os malqueridos invisíveis e a quem lhes der apoio e guarida. Caminhar com os que não tem visibilidade é lembrar que ‘bem aventurados são os pobres, deles é o reino de Deus’, disse-o assim o mestre Jesus.

José Luciano
Enviado por José Luciano em 28/01/2024
Reeditado em 29/01/2024
Código do texto: T7986933
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