Das águas do passado ao denuncismo atual. Por Meraldo Zisman

Das águas do passado ao denuncismo atual

Ao ser decretada a conversão ou expulsão dos descendentes hebreus do Reino de Portugal, uma multidão se aglomerou no cais do porto de Lisboa, pois os expulsos não desejavam ser batizados à força e preferiam deixar o Reino. Os navios que atracavam nos ancoradouros lisboetas não comportavam a multidão, que ficou a ver navios passarem sem poder entrar.

Houve até mesmo um batismo coletivo com água benta armazenada em tonéis transportados por carroças, aspergida no povaréu de judeus, que assim se tornaram cristãos-novos, pavimentando o caminho que os levaria diretamente às fogueiras do Tribunal do Santo Ofício, pois, após o “batismo”, tornavam-se cristãos-novos, sujeitos à jurisdição direta do Inquisidor Mor.

Os cristãos-novos eram judeus convertidos à fé católica, em sua maioria de maneira forçada, em território português a partir da última década do século XV. Alguns estudiosos dos costumes luso-brasileiros, principalmente no Sertão Nordestino ou na região de Belmonte, no Norte de Portugal, onde essa expressão é mais empregada, afirmam que tal costume é motivado pela grande concentração de judeus e cristãos-novos em Portugal. Essa forma de perseguição seria um resquício do temido Tribunal do Santo Ofício, que aceitava denúncias anônimas, e todos precisavam estar atentos para falsas denúncias inquisitoriais.

O medo era intenso, inclusive entre os pobres artesãos e entre os ricos mais ainda, devido a seus bens, que eram confiscados para a coroa e a Igreja. Portanto, como descendente de judeu, acredito ser melhor concluir esta crônica convidando o leitor por essas mal traçadas linhas, a imaginar o temor do denuncismo, das gravações, dos denunciados em nossa classe política e outros em Brasília e em todo o Brasil (salvo as exceções de praxe).

Lembrem-se de que quando a História se repete, pode se tornar uma grande farsa. É importante recordar que o antissemitismo é o preconceito mais duradouro na História do Mundo e nada tem a ver com o genocídio e apartheid.

É bom lembrar que o vocábulo genocídio foi um termo utilizado para descrever a prática sistemática e intencional de eliminar, total ou parcialmente, um grupo étnico, nacional, racial ou religioso. O genocídio envolve ações como assassinato em massa, perseguição, deportação forçada, esterilização forçada, tortura e outras formas de violência física e psicológica com o objetivo de destruir a existência do grupo alvo. Sob o apartheid, foi promulgada uma série de leis que segregavam a população com base em sua raça. As pessoas eram classificadas como brancas, negras, mestiças (coloureds) ou asiáticas e recebiam diferentes direitos e oportunidades com base em sua classificação racial.