COMPARTILHAR

Uso essa palavra diariamente e só hoje me ocorreu de escrever sobre ela. Talvez, exatamente, por fazer parte do dia a dia, que tenha me passado despercebida e não ter dado a devida atenção que ela merece. Digo que ela merece porque é uma palavra que tem uma importância maior do que o seu significado, pois COMPARTILHAR significa simplesmente repartir ou dividir algo com alguém ou com outras pessoas, enquanto que esse gesto de dividir, repartir o que se tem com as pessoas é algo imenso, é algo nobre, é um ato de coragem e demonstração de um bom coração, de um coração quebrantado e que tem amor pelas pessoas.

Hoje o que mais se vê e percebe-se, são as pessoas cada vez mais egoístas, mais individualizadas, separatistas, olhando apenas para si mesmas, sem o mínimo senso de compartilhamento sem a mínima vontade de dividir, sem a mínima questão de repartir, apenas tem o que tem para si mesmo e não dão importância alguma, não ligam, se alguém está precisando de algo, ou apenas de um aperto de mão. Nem isso querem compartilhar mais, pois pode representar uma fraqueza e pensam que as pessoas podem se aproveitar da situação e abrir um precedente, do momento, do gesto, um simples gesto de apertar a mão, por consideração por conhecer, por rever, por estar na presença de tal pessoa, e assim começarem a se prevalecer, se aproveitar e quererem tomar conta. Infelizmente, é esse pensamento que permeia a mente das pessoas, principalmente aquelas que conseguiram se sobressair, se destacar em alguma função, alguma empresa, algum órgão, na tal expressão SE DERAM BEM NA VIDA, e acabam ficando com a nóia de que as pessoas se aproximam dela por interesse. Conheci muitas pessoas com esses pensamentos e agindo de forma fria, gelada, sem emitir expressão alguma, como se a presença de outras pessoas não fossem importante e muito menos necessária, tudo por se achar num patamar acima das outras pessoas, tanto em situação intelectual quanto profissional e mais ainda financeiramente.

Quando a situação é financeira então a coisa piora - não compartilham nem mesmo um olhar, pois tem medo de que lhe roubem até mesmo o olhar, e muito menos um sorriso, pois pode denotar acesso, liberdade para aproximação - e assim vão se tornando pessoas apáticas, gélidas, inexpressivas e sem alegria alguma, sem liberdade nem para olhar para si mesmo, nem para sorrir para si mesmo. As pessoas transformam-se e ficam presas no seu casulo que tanto lutou - ou não - para tê-lo, e depois não consegue se desvencilhar pois tem medo do que tem lá fora - na verdade tem medo de si mesmo e no que se transformou - e assim vivem numa vida infeliz, se auto enganando, pois dinheiro algum compra felicidade. O dinheiro pode comprar tudo, mas tudo que consegue comprar é fake, é falso, generalizando e sendo dramático, claro. Dinheiro é bom e necessário? claro, com certeza, mas também aprisiona quem tem demais. E, como consequência, quem tem demais, não consegue compartilhar mais nada com ninguém. E o pior de tudo, é que essas pessoas não se dão conta, não percebem o que estão fazendo, não percebem no que se tornaram.

Compartilhar seja o que for é fácil quando a pessoa faz isso sabendo que não vai perder nada e que não vai lhe comprometer. Até isso agora já está sendo mudado. Quem compartilhar noticias, vídeos, áudios, textos, tudo o que for, nas redes sociais ou seja lá onde for, que é considerado fake, falso, sofrerá uma punição. Penso que isso é exagero, a ideia é outra e estão querendo punir por algo que não vai de nada a lugar algum. Eu recebo diariamente muita coisa fake e compartilho, quem lê, ou ouve, que tenha o discernimento de identificar ser falso ou não. Não compartilho para disseminar o bem e muito menos o mal, simplesmente repasso para que saibam o que anda circulando por aí, e que não devemos acreditar em tudo que vemos e lemos. Tem pessoas que se deixam levar, se abalam por qualquer tipo de notícia, por qualquer vídeo mais avassalador, sem nem mesmo ponderar, pensar se aquilo é real. Todos nós temos um sensor crítico dentro de nós, basta acioná-lo.

Jesus disse a um rico, abandona tudo que tens, distribui entre os pobres e siga-me. Mateus largou tudo e o seguiu tornando-se apóstolo, mas esse rico não teve coragem, assim como a maioria não tem, preferem viver infelizes, nadando no dinheiro, mas com um imenso buraco de um vazio que nada nem ninguém consegue preencher. Compartilhar, dividir, repartir, quando se tem pouco é complicado porque se fica com menos ainda, e pode ficar sem, ou faltar, para quem tem pouca fé, para quem não acredita em si mesmo; compartilhar, dividir, repartir o muito muito que se tem é mais complicado ainda, pois pensa que batalhou, se esforçou para conseguir e vai ter que dar para pessoas que nada fizeram? Esses são os pensamentos que as pessoas tem atualmente - aliás, desde sempre - e a situação está piorando porque até as relações interpessoais, relações familiares, amorosas, são interrompidas, são rompidas, são rasgadas, estraçalhadas por apego exagerado ao ter, ao possuir, bens, dinheiro, suplantando todo e qualquer tipo de sentimento forte, antigo e duradouro que tenha havido, rompendo por algo que não viemos e nem levaremos. Nascemos sem nada e sem nada morreremos.

Se nascemos sem nada e conseguimos ter algo, o suficiente para nos mantermos vivos e bem, com conforto, com paz, com felicidade, porque não compartilhar o excedente com quem precisa? A natureza humana diz não - há exceções, sabe-se disso - e se apegam em demasia aos bens materiais subjugando os sentimentos.

Escrevi no inicio que compartilhar é um ato nobre, mas não faz parte de nobreza, não faz parte da riqueza, não faz parte de quem é alguém que galgou algo na vida. Compartilhar coisas banais é fácil. Compartilhar notícias é fácil, o difícil é compartilhar amor verdadeiro para as pessoas e com as pessoas.

O que tu pensas sobre isso? Consegues compartilhar? Analise-se e veja bem, lá dentro de ti. Não minta para si mesmo, bote o dedo na consciência e aceite a resposta que estás recebendo de ti mesmo. Se a resposta foi boa, vibre, comemore; se a resposta for negativa, pense e comece já o processo de mudança. Nunca é tarde para compartilhar com amor.

(Texto escrito em 03/02/2024 – 15h38)