A origem de alguns sobrenomes mineiros: Rodrigues, Ávila e Nominato

A origem de alguns sobrenomes mineiros: Rodrigues, Ávila e Nominato

por Márcio de Ávila Rodrigues

[06/02/2024]

O genealogista José Eduardo Guimarães Medeiros publicou no setor de artigos (um blog) do site www.geneaminas.com.br um excelente artigo sobre a origem dos sobrenomes (link https://geneaminas.com.br/genealogia-mineira/blog.asp?codblog=26). Em suas pesquisas, ele verificou que o uso de sobrenomes na identificação das pessoas começou no final da Idade Média.

O site intitulado Geneaminas é um dos principais bancos de dados de genealogia do Brasil e certamente está entre os quatro ou cinco maiores em volume de dados. Trata-se de um maravilhoso projeto do próprio José Eduardo com formato cooperativo, pois os dados são lançados por usuários através de um cadastro simples.

E a própria rede mundial de computadores, a internet, é fundamental para o sucesso do empreendimento pois alcança a maior parte da população humana e seus dados não se perdem. É uma forma de perpetuidade. Levantamentos genealógicos que estavam guardados em anotações, publicações mimeografadas e livros foram incorporados e abriu-se um campo para atualizações e correções. Ganharam sobrevida.

Na data em que fiz a primeira pesquisa de totalizações (04/02/2024) encontro a informação de que o banco de dados já registra 564.493 pessoas e 6.800 sobrenomes.

O autor do artigo inicia informando que, “em linhas gerais, os sobrenomes começaram a surgir no final da Idade Média. Até então, as pessoas eram identificadas apenas por um nome. A vida urbana, que então florescia, passou a exigir que pessoas com o mesmo nome fossem diferenciadas por algum critério”.

O autor destaca três fatores usados na escolha dos sobrenomes: a informação do nome do pai, a diferenciação pela profissão e os que eram identificados pelo local de onde provinham.

Escolhi três dos sobrenomes comuns em minha família para uma análise resumida, relacionando suas origens com a minha árvore genealógica: Rodrigues, Ávila e Nominato.

Rodrigues

No caso específico de minha família, o sobrenome mais comum nos registros brasileiros é Rodrigues. Sua origem é facilmente explicada no artigo de José Eduardo, que informa que “os sobrenomes que provêm do nome do pai são chamados de patronímicos. São muito comuns. Temos Rodrigues, que significa filho de Rodrigo”.

É um sobrenome frequente também na língua espanhola, que apenas substitui o “s” final pelo “z”. No banco de dados do Geneaminas, figura na data de 04/02/2024 como o oitavo mais frequente, com 2.289 registros. Em matéria recente (29/05/2023) na revista Exame (https://exame.com/pop/qual-a-origem-dos-5-sobrenomes-mais-comuns-no-brasil/) o sobrenome Rodrigues é citado como um dos cinco mais comuns no Brasil. A revista Exame cita o site Forebears como fonte da informação.

É tão comum que em minha árvore genealógica ele aparece tanto na linha paterna quanto na materna, que são originárias de regiões diferentes de Minas Gerais. Na linha paterna, o registro mais antigo que eu encontrei foi meu bisavô Joaquim Antônio Rodrigues, que deve ter nascido em meados dos anos 1840 já que participou da Guerra do Paraguai (1864 – 1870).

Na linha materna, o registro mais antigo é do bisavô Antônio Rodrigues Jorge de Freitas. A data de nascimento dele é estimada em 1832, o que obviamente dificulta uma pesquisa que vise entender a escolha, pois Rodrigues seria um terceiro sobrenome. Os descendentes somente herdaram os dois últimos sobrenomes, Jorge e Freitas, sendo que a situação de Jorge já é bem atípica, pois normalmente é um prenome, mas continuou sendo usado como sobrenome na descendência dele por uma ou duas gerações. .

Ávila

Este sobrenome se encaixa na relação com a cidade de origem que, neste caso, é uma cidade antiga da Espanha que foi importante na era medieval. Segundo a Wikipédia, Ávila é localizada na comunidade autônoma de Castela e Leão, certamente a área mais importante da história do país. Foi fundada no século 11 pelo Rei Afonso VII. A muralha - obra indispensável na Idade Média - que cerca a área central é considerada uma das mais bem conservadas da Europa. A população atual é de cerca de 60 mil habitantes.

O principal evento econômico do século 18 no Brasil colonial foi o Ciclo do Ouro. A região minerária de Minas Gerais tornou-se a grande fonte de riqueza dos territórios portugueses. Aventureiros de vários países europeus também sonhavam enriquecer-se na região de Ouro Preto, Diamantina, Sabará, Serro, Conceição do Mato Dentro e Itabira, as mais conhecidas.

Os portugueses e seus descendentes tiveram destaque absoluto na onda migratória para a região, e entre as exceções apareceram alguns espanhóis como os da família Ávila. A razoável semelhança linguística e a colonização espanhola nos demais países do continente sul-americano facilitaram um pouco.

São muitos os cidadãos com sobrenome Ávila que habitaram o Serro e imediações naquela época, mas a origem deles ainda permanece no campo das hipóteses. Uma versão que chegou às gerações atuais diz que teriam chegado alguns espanhóis analfabetos na região e as autoridades exigiram o cadastramento. Como eles não tinham (ou não teriam) documentos e nem mesmo sobrenome, foram registrados com o prenome seguido da cidade de origem: Fulano de Ávila. Portanto a preposição "de” teria um uso bem específico, e provavelmente o formato da época seria a letra “d" seguida do apóstrofo (D’Ávila).

Outra historinha citada entre descendentes dos antigos Ávila serranos é que os formadores da família seriam dois irmãos espanhóis procedentes daquela cidade, que conseguiram se estabelecer na região mineradora.

Em minha árvore genealógica, o antepassado mais antigo que eu identifiquei com este sobrenome foi um trisavô de nome João de Ávila Santos, que provavelmente morreu no início do século 20, já idoso. O grande empecilho para as pesquisas relativas ao século 19 e anteriores é a não obrigatoriedade do registro público em cartórios. A igreja católica se encarregava da maior parte dos registros, mas a região metalúrgica de Minas Gerais se caracterizou pela descentralização populacional. As cidades se compunham de numerosos distritos e vilas, e vários deles foram emancipados formando novos municípios independentes Os registros estão pulverizados, em sua maioria, em muitas igrejas e capelas da região.

Nominato

Este é um caso bastante curioso da genealogia do Serro e de Conceição do Mato Dentro. Quando iniciei as pesquisas genealógicas, em torno de 2005, não encontrei na internet referências ao sobrenome Nominato em nenhuma outra região de Minas ou do Brasil. A primeira novidade que apareceu foi uma mensagem do advogado diamantinense Francisco Emiliano Pimenta Nominato, a quem não conhecia e ainda não conheço pessoalmente, cujo pai Oswaldo Nominato era primo em primeiro grau de minha mãe Genny.

Meu primo estava pesquisando especificamente o sobrenome Nominato e queria documentos que comprovassem que o nosso bisavô Antônio Nominato Marinho Lauro seria italiano. O nome completo dele provavelmente estava correto pois aparecia com frequência neste formato nos documentos antigos, principalmente atestados de óbito.

A partir desta informação verifiquei, na internet, a aparente inexistência de outra família com este nome no Brasil ou mesmo na Itália. A tradução mais adequada para a palavra “nominato” é nominado, no sentido de que recebeu um nome. Mas também observei que o formato brasileiro de nome-sobrenome da mãe-sobrenome do pai, em sequência, também é comum na Itália.

Dentro dessa lógica, formulei uma hipótese onde Antônio Nominato seria o prenome composto do meu bisavô e Marinho Lauro os sobrenomes de família. O sobrenome Marinho é comum no Brasil, pelo menos na atualidade, mas a situação de Lauro é diferente: no Brasil é usado exclusivamente como prenome e na Itália é um nome de família bem conhecido, principalmente na região da Campânia, que tem em Nápoles sua capital e cidade mais importante.

E a hipótese resultante é que o antepassado italiano optou por transformar a palavra Nominato em sobrenome familiar por causa da estranheza que a palavra Lauro causaria. Ou talvez quisesse esconder o sobrenome, motivação frequente em imigrantes.

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.