Lógica primária e sua relação com anti e pseudo intelectualismos

Lógica primária é um termo que inventei e se refere a uma ideia ou pensamento que aparenta ser lógico, no sentido de coerente e factual, mas apenas em um primeiro olhar, deixando de fazer sentido a partir de um aprofundamento crítico e analítico.

Um exemplo de lógica primária é o simples raciocínio de que, mais tempo de aula resulta em mais conhecimentos absorvidos pelo estudante, que foi a base para a decisão do governo brasileiro de aumentar o tempo de aula nas escolas públicas, isto é, para um modelo mais "integral". É uma lógica primária por também se basear em uma correlação entre o predomínio de escolas em tempo integral e o nível de desenvolvimento socioeconômico de um país. No entanto, existem outros fatores que, não apenas contribuem, mas também são mais relevantes para o desenvolvimento de um país, especialmente aqueles aos quais temos menor poder de controle, como as capacidades cognitivas médias da população, que não são reflexos exclusivos da educação "recebida" (ou alcançada), se, na verdade, é a própria educação que reflete, não de maneira absoluta, nossas inteligências. Essa é uma lógica primária baseada em uma crença de causalidade entre nível educacional e socioeconômico, como se apenas uma "educação de qualidade" que contribuísse para o desenvolvimento de um país, desprezando o fator cognitivo, mais intrínseco ou menos sensível à intervenções sociais.

Anti e pseudo intelectualismos

A negação explícita (anti) ou implícita (pseudo) da razão ou do pensamento lógico-racional, que geralmente se manifesta, respectivamente, pela religião e por ideologias políticas, tende a ter como característica principal, se aplicando o conceito de lógica primária, justamente um predomínio da mesma na construção de suas bases de argumentos, de afirmações aparentemente lógicas ou que fazem sentido, que são primariamente coerentes, mas que deixam de fazer ou ser a partir de uma análise crítica mais profunda.

Exemplos: a lógica primária de que, como toda criação tem um criador, então, o universo, que supostamente seria uma "criação", tem que ter um deus "criador";

A lógica primária de que nossa condição humana também nos faz iguais em nossas capacidades cognitivas e são as diferenças do meio em que nascemos e vivemos que, unicamente, nos diferenciam nesse aspecto, tal como as desigualdades socioeconômicas ou de acesso a uma "educação de qualidade".

Além desse termo, outro, que propus em um texto recente, semanticalismo, que se refere a uma ênfase ou importância excessiva na palavra do que no elemento ou fenômeno que simboliza, também está presente em sistemas de crenças ou ideologias baseados em um predomínio de pensamentos ou ideias que poderiam ser classificados como lógicas primárias. O próprio caso das religiões monoteístas e a crença na existência de um único Deus criador do universo, em que a palavra Deus é considerada uma realidade por si mesma, mesmo se está associada a uma crença de existência sem qualquer rastro de evidências de que exista, puramente baseada na lógica primária de que toda "criação" tem que ter um "criador" (as próprias palavras "criação" e "criador" também têm um peso desproporcional aí e até podem ser consideradas inapropriadas nesse contexto, se o ideal seria denominá-las, respectivamente, de causa e efeito).