O jovem é capaz de amar?

A música “Pais e filhos” costumava embalar as tardes juvenis de uma imensa massa de sonhadores. Composta por Renato Manfredini Jr. (Acho mais chique), o Renato Russo na década de 80, a mesma revela-nos um conteúdo rico de interpretações.

O amor e as suas implicações começam na família. Na relação entre pais e filhos. Uma diversidade de possíveis relações é retratada pela música. Filhos abandonados, filhos que se abandonam, pais que abandonam os filhos, filhos de pais separados, filhos que não têm pais etc.

Naquele tempo os jovens costumavam romantizar a música, cantando em uníssono o verso “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Até que um dia o próprio Renato Russo perguntava para a sua platéia em um programa televisivo:

_____Por que vocês gostam tanto dessa música, ela fala de suicídio? Conta-nos a história de uma jovem que se suicidou.

Ele se referia ao trecho inicial da música que diz:

“ Estátuas e cofres e paredes pintadas

Ninguém sabe o que aconteceu...

Ela se jogou da janela do quinto andar

Nada é fácil de entender...”

Será que os jovens foram sadomasoquistas ou nunca pararam para pensar na letra?

Não importa. Talvez a música fosse feita para os pais. Estes adultos que têm a responsabilidade de refletir sobre o amor que se desperta, pois é potencialidade inata no espírito. A construção se dá na relação.

Escutemos os nossos jovens, eles têm algo a dizer.

Eles não entendem quando nós adultos dissemos o não sem explicação.

Mas como escutá-los?

Criemos momentos agradáveis sem barulho ou com um barulho diferente do cotidiano. Um silêncio opositor ao silêncio costumeiro. Elevemos os nossos pensamentos ao alto, pedindo a Deus, como cada um O concebe, a coragem e a aceitação de ajudar este ser em transição.

Tenha paciência. Explique por que que o céu é azul, a grande fúria do mundo.

Não estou dizendo que seja tarefa fácil. Vivemos em um universo social onde os padrões de comportamento necrosados pelo machismo são guias de atitude. Um adolescente para ser adolescente tem que seguir o senso comum, tem que se enquadrar num modelo porque senão sofre a exclusão, a rejeição. Compreender isso aí sim, é tarefa, teoricamente, daqueles que já passaram por isso, os maduros adultos.

Sendo educador por “invocação” experienciei um momento agradável com os jovens estudantes de uma escola particular. Naquele dia acordei apreensivo. Será que eles aceitarão o momento reflexivo sobre a relação entre pais e filhos?

Depois que passou, confesso, foi enriquecedor para mim e para eles. Sem juízo de valor pude conhecê-los melhor. Suas angústias, suas dificuldades de se relacionar com os pais, suas emoções de filhos... Partilhamos os nossos sentimentos. Foi ótimo. Um momento prazeroso, quem diria?

Por que demorei tanto? O tempo era esse. A fruta só estava pronta para ser devorada naquele dia. A borboleta só poderia sair da crisálida naquele dia.

Um tempo de transição, tempo que os jovens precisam para crescer. Muitos dos nossos jovens estão quebrando a crisálida antes da hora. Tornam-se adultos precoces. As conseqüências, na maioria das vezes, são dolorosas causando danos para eles mesmos e para a sociedade como doenças, drogadição, gravidez precoce e desequilíbrio emocional.

Então, “O que você vai ser quando você crescer?”.