Senhor, queres que ordenemos desça fogo do céu( Lc 9, 54)

Nos últimos vinte dias tenho freqüentado com certa assiduidade um chat católico de alcance nacional, pelo menos o único que conheça, disponibilizado num site de um Instituto de Vida Consagrada; instituto assim classificado, para diferenciar-se dos tradicionais Institutos Religiosos, por congregar em si não somente sacerdotes e/ou leigos celibatários consagrados, mas também leigos casados, igualmente consagrados.

Ontem à noite, por volta das 21h, entrou nesse chat alguém, com um nick ou apelido blasfemo contra Jesus Cristo, vomitando imediatamente num jorro ininterrupto e demorado as mais sujas blasfêmias contra a Virgem Maria e Jesus Cristo; xingava-os com palavrões do mais baixo calão: palavras pornográficas do mais baixo nível! Tentei deter a sua fúria satânica com orações exorcísticas que qualquer fiel católico pode fazer e com orações à Virgem Maria, além de professar os artigos de fé contra os quais o agressor blasfemava. Porém a minha reação aumentou de tal forma a sua fúria que a repetição que ele fazia das mesmas blasfêmias se tornou uma seqüência tão numerosa e ininterrupta que travou o chat: ninguém mais falava ou respondia; só apareciam as blasfêmias satânicas do agressor; diante do que fui forçado a sair da sala II do chat para a sala I.

Na sala I, relatei aos presentes o que havia acontecido na sala II. A única resposta que obtive foi de uma moça que me disse: “Ele (o blasfemador) já fez isso no meu nick. Não podemos fazer nada. A ( nome do Instituto de Vida Consagrada) não faz nada.”

Alguns minutos depois, apareceu nessa sala uma outra pessoa, auto-denominada “revoltada”, que começou a xingar todos e um por um de “Bando de falsos, bando de falsos, (...)”; repetidamente e insistentemente. Disse a ela então que dissesse porquê éramos falsos. Ela respondeu: “Vocês só falam, mas não fazem nada; vocês só falam, mas não fazem nada, (...)”; também repetidamente e insistentemente, para depois voltar à repetição da afronta inicial até chegar à uma seqüência tão numerosa e ininterrupta que também travasse o chat nessa sala: ninguém mais falava ou respondia: só os insultos da “revoltada” tinham lugar. Mas antes de chegar a esse ponto, entrou nessa sala alguém denominado “irmão” que nos deu a notícia de que o blasfemador da sala II continuava lá blasfemando!

Mas voltando à “revoltada”, ela me lembra outro episódio ocorrido nesse chat católico, pouco antes do Natal ( de 2007), provavelmente. Uma pessoa auto-denominada “Pedido de Ajuda” repetia várias vezes a todos a pergunta: “Se hoje fosse o Juízo Final quem se salvaria pela virtude da caridade?” Respondi-lhe eu: “Se salvaria quem tivesse caridade.” E ela acrescentou: “E quem teria caridade nessa sala?” Conversamos um pouco e soube que ela precisava de trezentos e poucos reais para comprar material escolar. Expliquei-lhe que não podia ajudá-la devido à minha situação de desempregado. O que ela entendeu. Ela continuou então fazendo provocações em forma de perguntas às outras pessoas. Alguém lhe disse então que começasse a economizar desligando o computador. Depois de mais um pouco de insistência, ela saiu da sala.

Agora, em vista desses casos, apresento algumas reflexões sobre a conduta dos cristãos católicos.

Primeiramente, o blasfemador é o símbolo do ódio à religião católica por si mesma: há pessoas que odeiam a religião católica pelo que ela é, independente da conduta dos católicos, e perseguem os católicos pelo simples fato de serem católicos.

Você que é católico, está disposto e pronto a sofrer perseguições por causa de Cristo? Quem é Cristo para você? Um simples homem ou Deus humanado? Que significam para você as palavras de Cristo “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” ? (Mt 5, 11-12)

Quanto ao caso da “revoltada” e da pessoa que pedia ajuda, você já parou para fazer uma auto-análise da sua conduta de cristão católico?

Um dos maiores problemas do mundo contemporâneo é a separação que, os que crêem em Cristo, fazem da fé que professam e da vida que levam.

Para ajudar no exame de consciência algumas palavras de Cristo:

-“Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.” (Jo 13, 34b-35)

-“Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama.” (Jo 14, 21)

E enquanto Deus não coloca um término no curso da história humana, Ele nos dá, a todos, tempo, para que o bom persevere no bem e o mau se converta do mal. (Ez 33, 11)

“Ele (Cristo), porém, voltando-se repreendeu-os (aos discípulos). E partiram para outro povoado.” (Lc 9, 55)

- O Autor: Alex A. Borges é católico, formado em Letras e ex-seminarista.