O papa não é pop (e não poupa ninguem)

O papa não é pop (e não poupa ninguem)

Fatima Dannemann

De um lado, Daniela Mercury, cantora, considerada por muitos a melhor voz do Brasil. De outro lado, o Papa. Um religioso que há menos de um ano era um obscuro cardeal alemão fisgado da ala conservadora da igreja para comandar um rebanho cada vez mais diluido. A rinha? Bom, digamos o cenário... Este é a mesma igreja que fecha os olhos para padres pedófilos capazes de crimes hediondos contra crianças e adolescentes (do mesmo sexo), mas que faz da camisinha, método não somente contraceptivo como de evitar a AIDS, a praga do século que vem infestando vitimas... Bom, ninguem nega nem confirma oficialmente, mas as más línguas dizem que a AIDS faz vitimas até na igreja.

O papa diz que Daniela não vai cantar no Natal do Vaticano. Quem perde? Os italianos, os turistas, os estrangeiros, os curiosos. Vão ficar sem a alegria baiana, sem a capacidade do brasileiro de transformar a vida em festa e assim levar a vida encarando as dificuldades com alguma leveza - numa filosofia mais zen-budista, que vê o Deus em cada ser humano e proclama a alegria como um de seus principais pilares, do que cristã-católica, que só admite divindade num céu inatingível e acha que o ser humano merece sofrer para tentar ser santo algum dia.

É de admirar que a mesma igreja que matou as viuvas das cruzadas para tomar suas terras, que queimou na fogueira homens e mulheres que ousaram descobrir verdades como que a terra é redonda e gira em torno do sol, que construiu um mundo de ostentação para homenagear santos que pregaram justamente uma vida simples e despojada feche os olhos para um mal que vem matando talentos jovens e promissores como Renato Russo, Cazuza, Claudia Magno - isso sem falar em estrangeiros, e condene justamente quem fez campanha preventiva.

É, Sua Santidade... Por essas e outras, tem gente pulando fora de seus dominios. Por essas e outras, colegios ditos católicos e porta-vozes de suas ideias vem ficando cada vez mais vazios de alunos. Por essas e outras, há pessoas que torcem o nariz nos feriados religiosos achando que parar o pais por causa da festa de uma única igreja é impor ao mundo um pensamento que parou no tempo, ah, e que nem traduz a verdade do pensamento cristão.

Pois é, Sr. Bento... Quem passa a mão pela cabeça da pedofilia não devia condenar uma cantora que apenas ajuda o brasileiro a ter um pouco mais de saude, e um pouco menos de filhos pois ninguem nunca viu a igreja ajudar uma adolescente que teve gravidez precoce, nem mulheres que tiveram mais filhos do que deveriam ter tido e hoje penam para dar de comer a eles.

A questão é a de que Daniela Mercury, ainda que se diga católica, vem traduzindo os sentimentos desse povo que permanece abandonado da igreja, salvo quando é preciso angariar fundos para aumentar suas obras. Daniela foi, na verdade, queimada na fogueira do retrocesso de idéias. Tal qual uma bruxa da inquisição, ela foi condenada sem direito a defesa por levar ao povo o que os religiosos poderiam muito bem fazer: informações práticas sobre maneiras de prevenir doenças. Foi a atitude mais antiespiritual da igreja nos ultimos tempos. Melhor seria o Papa prender as masmorras do Vaticano os padres que violentam meninos pobres em troca de vaguinhas no céu. Ai, Bento, Sua Santidade poderá barrar ou permitir quem quer que seja de cantar no Vaticano. Ah, e com certeza o Natal deste ano, ai pelas bandas da Europa, não será uma noite tão feliz

Maria de Fatima Dannemann
Enviado por Maria de Fatima Dannemann em 04/12/2005
Código do texto: T81016