Escravos da Bola

 

Por que será que um atleta em início de carreira joga futebol maravilhoso, alegre, moleque, descontraído, encantador, apaixonante, vibrante, atrai multidões e provoca inveja, depois, quando torna-se profissional, cai de produção, passa a jogar futebol medíocre, sem graça, sem sal e causa espanto nos admiradores e alegria nos invejosos ? O que leva a comportamentos tão opostos e conflitantes ?

Acontece que o craque da bola perde a sua valiosa liberdade. Enquanto ele é livre, joga futebol fabuloso. Enche os estádios e atrai o público que vem delirar com as suas jogadas, aplaudir e gritar o seu nome. Ele não sabe como é gostoso fazer os outros felizes. Mas a ambição e a ganância roubam a liberdade deste atleta transformando-o em escravo, como já existem tantos outros. São os escravos da bola. Ou melhor, os escravos do esporte.

A partir do momento que ele assina contrato com o seu “empresário” ele torna-se escravo deste empresário, do clube por onde vai jogar, dos seus patrocinadores, dos patrocinadores do clube, dos comerciais de televisão, da mídia e com isto vai perdendo aquele futebol alegre que possuía e passa a desempenhar futebol medíocre.

Passa a ser escravo até dos seguranças que o rodeiam, pois não pode mais sair sozinho. E por que ? Porque enquanto livre não tinha preocupações e nem compromissos contratuais, agora tudo que faz tem que ser medido, pensado, analisado, planejado, pois tem muita gente ganhando dinheiro “nas suas costas”. E o seu “precioso” empresário tem que cuidar disto.

Esta semana assisti matéria em noticiário televisivo sobre um garotinho de 10 anos de idade que é ótimo jogador de futebol e a matéria mostra jogada maravilhosa efetuada por ele. Logo depois, ele aparece na praça do bairro onde mora, de mãos dadas com o pai, dando entrevistas, mas transbordando de orgulho e achando-se o máximo. Pequenino e contaminado com o vírus da vaidade.

As doenças deste mundo atacam desde cedo, não perdoam nem os ainda inocentes. E os “empresários da escravidão” já estavam por lá de olho no garoto e “sonhando” com as possibilidades de lucro. E os pais achando tudo isto muito engraçado.

O Brasil é máquina de produzir craques em diversos esportes. Infelizmente, menos de dois porcento alcançam a “glória”. Os outros morrem pelo caminho afogados em desilusões.

Ser atleta é “dom”. E o que é “dom” ? É um presente. Se você ganhou um presente valioso, saiba usá-lo com inteligência. Coloque este presente a seu serviço, a seu favor. Não permita que a alegria da sua liberdade transforme-se na angustia da escravidão e na falsidade prometida pelo dinheiro e pela fama. Não abra mão de ser feliz. Tornar-se grande atleta, ficar famoso, ganhar milhões, mas perder a liberdade, vale a pena ? Só vale a pena ser escravo da liberdade. Cuidado para não ser enganado.