EAD, planejar de olho no sujeito social

Para se preparar um projeto de ensino a distância – EAD – é necessário ter presente alguns aspectos que são primordiais na construção de do planejamento de acordo com a especialista Juliane Corrêa. A palavra-chave nesse processo é o sujeito social da aprendizagem que vai demonstrar desde o início do processo sua intenção em participar mais ou menos do mesmo. A motivação desse sujeito depende de um bom planejamento fundado em teorias cognitivistas que levem a um processo de construção de todo o ensino-aprendizagem amparado por recursos tecnológicos inovadores que ampliem a potencialidade dos objetivos.

O primeiro elemento diz respeito ao acesso para que o sujeito social interaja com o processo de aprendizagem. Isso é mais importante que o acesso aos recursos tecnológicos utilizados no processo que são necessários no percurso, mas não são decisivos. No entanto, se forem fundamentados nas tecnologias da Web 2.0 em que o sujeito se torna também um produtor e editor do material, sua importância será decisiva.

Outro elemento importante é a concepção de ensino a ser desenvolvido, uma vez que esta concepção vai gerir todo o encaminhamento futuro apontando uma realidade transmissível ou outra bem diferente que propõe a construção da aprendizagem pelo sujeito social de maneira colaborativa e interativa.

Para que haja essa construção efetiva os canais de interatividades alargam os horizontes da aprendizagem, da discussão, da construção colaborativa do conhecimento, pois é através destes canais que o sujeito vai expor suas opiniões, suas dúvidas e as problemáticas levantadas a partir de suas constatações em busca de soluções que efetivem seu aprendizado.

As inovações que podem ser adotadas nesse percurso são de suma importância, pois vão proporcionar interatividade, colaboração e vai refletir nos custos do custo como um todo. No entanto, tão necessário quanto o planejamento é a avaliação, faces do mesmo processo.

Tudo isso pautado na proposta pedagógica que tem por eixo prioritário o sujeito que interage também com o conteúdo produzido. É por este motivo que é tão necessário “definir e redefinir os referenciais da nossa área como a escolha dos métodos, recursos, interação a ser desenvolvida e a forma como se dará a avaliação,” alerta Juliane.

Quero alargar essa discussão trazendo presente questões relativas à Web 2.0, na qual o Ambiente Virtual de Aprendizagem como o Moodle traz inserido em seu ambiente, tais como as modalidades colaborativas, interativas e criativas. Um livro recentemente lançado é o “Second Life e Web 2.0 na Educação”, de autoria de Carlos Valente e João Mattar, que apresenta uma infinidade de recursos tecnológicos com potencial pedagógico e que podem e devem ser utilizados na EAD.

Os autores lembram que por si só a EAD obriga “alunos, professores e instituições a desempenharem novos papeis no processo de ensino e aprendizagem”. (Valente e Mattar, 2007, p.65). É consenso na EAD o pressuposto de que o aluno precisa ter maior autonomia do aluno e aliado a isso, falam do “conceito de heutagogia que aponta para a aprendizagem autodirecionada, em que o aluno é o gestor e programador de seu processo de aprendizagem”(idem, p. 67).

É por este motivo que é preciso levar em conta em um planejamento de EAD este sujeito social que aprende de maneira não-linear e por osmose . Entra no mundo virtual para interagir, divertir-se e também aprender. Popularmente se diz que para aprender uma nova tecnologia é preciso “fuçar” e é justamente isso que fazem os internautas e de maneira mais eficaz os jovens e adolescentes, pois não têm medo de errar. Clicam, perguntam no MSN, colocam um scrap no Orkut, falam pelo Skype, confrontam seu avatar no Second Life e por aí vão desenrolando um processo de auto-aprendizagem.

Um planejamento que leve em conta essa maneira de aprendizagem do aluno tem sucesso garantido, pois está calcado na WEB 2.0 com todo o seu potencial de ensino baseado na criatividade, autonomia, interatividade e colaboração. Ainda mais que hoje literalmente, estamos migrando do hardware e software para sistemas como webhare em que os serviços e aplicativos ficam na internet e são utilizados por peopleware, ou seja, usuários que utilizam diretamente ou indiretamente a computação através da Inteligência Coletiva. (idem, p.77).

Hoje a Web 2.0 oferece uma infinidade de possibilidades que podem ser utilizadas para uso pedagógico. Os autores defendem a idéia de que os educadores precisam compor sua própria caixa de ferramentas com esses recursos para ser mais eficaz no ato de ensinar colaborativamente agregando valor ao conteúdo trabalhado. Isso também vale para o ensino presencial.

O segredo da Web 2.0 consiste em dá a oportunidade ao internauta de participar, colaborar, enviar, comentar e modificar. A grande diferença entre web 1.0 e web 2.0 está no significado dos termos download e upload , respectivamente. Enquanto na primeira o usuário apenas baixava o que lhe interessava, na última têm a possibilidade de enviar arquivos, fotos, documentos e escrever no texto que alguém começou.

Este movimento é rico de educomunicação, pois este novo campo de intervenção está carregado de negociação de sentidos, de papéis, de posicionamentos e de intercâmbio. Autoritarismo e tradicionalismo não têm mais vez num mundo governado pela Web 2.0 que é também sinônimo de transformação.

Para Mattar e Valente, essas novas “tecnologias da Web estão redesenhando a educação, criando novas e interessantes oportunidades de ensino e aprendizagem, mas personalizadas, sociais e flexíveis, apesar de muitas delas não terem sido produzidas especificamente para o e-learning”. (idem, p.84).

Nesse ambiente, o usuário é pensado como um produtor e desenvolvedor de conteúdo, tornando-se necessariamente um sujeito social que interage na construção de sua aprendizagem de maneira eficaz e colaborativa como aborda Juliane Corrêa.

Os alunos estão imersos no ambiente virtual, na Web 2.0, no Second Life e não fazem cursos para aprender essas tecnologias. Simplesmente entram, navegam e participar. Segundo Mattar e Valente as instituições têm se mostrado conservadoras e lentas para se adaptar a essas ferramentas e tecnologias. Este novo ambiente exige educadores “tecnopedagogos” capazes de “construir seu próprio material para os alunos, e não simplesmente lançá-lo e deixar que se percam numa confusão de dados, ferramentas e tecnologias”. (idem, p.88).

Utilizam, ainda os neologismos aututores e impostutor para designar um novo papel em que o primeiro é autor do material de seu curso e não apenas recebe tudo pronto para executar. Planejar um curso é pensar na avaliação que é inerente ao processo, mas principalmente, pensar em todo o percurso do processo de aprendizagem e porque não pensar em incluir como recursos tecnológicos a Web 2.0 e seus serviços, aplicativos e funcionalidades?

* Antonia Alves é especialista em EAD pelo Senac-Rio, jornalista e educomunicadora. É gestora de Educomunicação e Jornalismo no Portal Educacional Aprendaki.com.br.