Evolução Teísta (BioLogos)

-Princípios

1) O universo surgiu do nada, há aproximadamente 14 bilhões de anos.

2) Apesar das improbabilidades incomensuráveis, as propriedades do universo parecem ter sido ajustadas para a criação da vida.

3) Embora o mecanismo exato da origem da vida na Terra permaneça desconhecido, uma vez que a vida surgiu, o processo de evolução e de seleção natural permitiu o desenvolvimento da diversidade biológica e da complexidade durante espaços de tempo muito vastos.

4) Tão logo a evolução seguiu seu rumo, não foi necessária nenhuma intervenção sobrenatural.

5) Os humanos fazem parte desse processo, partilhando um ancestral comum com os grande símios.

6) Entretanto, os humanos são exclusivos em características que desafiam a explicação evolucionária e indicam nossa natureza espiritual. Isso inclui a existência da Lei Moral (o conhecimento do certo e do errado) e a busca por Deus, que caracterizam todas as culturas humanas.

-Conclusões

Deus, que não se limita ao tempo e ao espaço, criou o universo e estabeleceu leis naturais que o regem. Para povoar este universo antes estéril com criaturas vivas, Deus escolheu o mecanismo distinto da evolução para criar micróbios, plantas e animais de todos os tipos. O mais extraordinário é que ele escolheu, propositadamente, o mesmo mecanismo para originar criaturas especiais que teriam inteligência, conhecimento de certo e errado, livre-arbítrio e desejo de afinidade com Ele. Deus também sabia que esses seres, ao fim, optariam por desobedecer à Lei Moral. Esse ponto de vista é compatível com a ciência e com as grandes religiões monoteístas do mundo. A perspectiva da evolução teísta não pode, é claro, provar que Deus existe, assim como nenhum argumento lógico pode fazê-lo completamente. A crença em Deus sempre exigirá um salto de fé. Contudo, essa síntese proporcionou uma perspectiva satisfatória que permite uma coexistência pacífica das visões de mundo científica e espiritual em nós.

-Nomenclatura

Infelizmente, muitos dos substantivos e adjetivos que poderiam descrever a rica natureza dessa síntese já estão sobrecarregados com tanta bagagem que é como se estivessem impedidos de continuar. Será que deveríamos cunhar o termo “criavolução”? Provavelmente não. E que ninguém se atreva a usar as palavras “criação”, “inteligente”, “fundamental” ou “planejador” para causar medo ou confusão. Precisamos começar de novo. Minha modesta proposta é rebatizar a evolução teísta como “Bios pelo Logos”, ou simplesmente BioLogos. Os acadêmicos reconhecerão bios como “vida” em grego e logos como “palavra” em grego. Para muitos que acreditam em Deus, “Verbo”, sinônimo de “palavra”, também é sinônimo de “Deus”, como expresso de maneira impressionante e poética nas primeiras e majestosas linhas do evangelho de João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus” (João 1:1). BioLogos expressa a crença de que Deus é a fonte de toda a vida, e a vida expressa a vontade de Deus.

-Críticas

a) Casualidade acima de Deus?

Se a evolução fosse casual, como Ele poderia de fato estar no comando e como Ele poderia ter certeza de que os resultados incluiriam seres inteligentes? A solução encontra-se pronta e disponível, assim que paramos de aplicar as limitações humanas em Deus. Se Deus se encontra fora da natureza, acha-se fora do tempo e do espaço. Nesse contexto, no momento da criação do universo, Ele sabia todos os detalhes sobre o futuro, incluindo a formação de estrelas, planetas e galáxias, toda a química, física, geologia e biologia que levou à formação de vida na Terra e à evolução dos humanos, até o exato momento em que você lê estas linhas – e além. Nesse contexto, a evolução poderia nos parecer guiada pelo acaso. Contudo, do ponto de vista de Deus, o resultado já estaria totalmente especificado. Assim, Ele poderia achar-se completa e intimamente envolvido na criação de todas as espécies, embora, de nossa perspectiva, limitada pela tirania do tempo linear, isso parecesse um processo casual e sem direção.

b) Deus das lacunas naturais?

Para o cientista ateu, o BioLogos parece mais uma teoria do “Deus das lacunas”, impondo a presença do divino onde não é necessário nem desejada. Contudo, esse argumento não vale. O BioLogos não tenta colocar Deus à força nas lacunas de nossa compreensão do mundo natural; ele sugere Deus como resposta às questões das quais a ciência jamais tentou falar a respeito, como, por exemplo: “Como o universo apareceu aqui?”; “Qual o sentido da vida?”; “O que nos acontece após a morte?”. Ao contrário do Design Inteligente, o BioLogos não se pretende uma teoria científica. Sua verdade só pode ser testada pela lógica espiritual do coração, da mente e da alma.

c) E quanto a Adão e Eva?

Os estudos da variação humana, somados ao registro fóssil, apontam uma origem de cerca de 100 mil anos atrás para os seres humanos modernos, com a maior probabilidade na África Oriental. Análises genéticas sugerem que por volta de 10 mil ancestrais originaram toda a população de 6 bilhões de humanos no planeta. Como, então, mesclar essas observações científicas à história de Adão e Eva? Em primeiro lugar, os próprios textos bíblicos parecem sugerir que havia outros humanos presentes na época em que Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden. Caso contrário, de onde veio a esposa de Caim, mencionada somente depois que ele deixou o Éden para viver na terra de Nod (Gênesis 4:16-17)? Alguns que interpretam a Bíblia no sentido literal insistem que as esposas de Caim e Set devem ter sido irmãs deles, mas isso cai num conflito sério tanto em relação às posteriores proibições contra o incesto quanto à incompatibilidade de uma leitura ao pé da letra do texto. O verdadeiro dilema para os que crêem em Deus reside num ponto complicado: se Gênesis 2 descreve um ato especial de criação milagrosa aplicado a um casal histórico, tornando-o diferente, em termos biológicos, de todas as criaturas que já caminharam sobre a terra, ou se é uma alegoria poética e impressionante do plano de Deus apenas simbolizando a entrada da natureza espiritual (a alma) e da Lei Moral na humanidade.

(Francis S. Collins - A Linguagem de Deus)

Cláudio Theron
Enviado por Cláudio Theron em 10/02/2008
Reeditado em 11/02/2008
Código do texto: T853163
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