A GLOBO se enganou!...

Por algum tempo nos ensinaram que o ato da leitura se encerrava na decodificação de sinais gráficos, isto é, num exercício cognitivo, iniciado na identificação de grafemas (letras), continuado no agrupamento destes para formar sílabas e concluído na união das últimas, o que então possibilitava as palavras.

A partir daí fomos bitolados a chamar de “alfabetizados” àqueles cujas habilidades permitissem o exercício exposto acima. E, de “analfabetos”, aos desprovidos de tais providências.

Passados os devidos momentos, muitos outros conceitos surgiram. Atualmente, não raro encontramos falantes que lêem e escrevem com fluência, mas, na hora de analisarem, emprestam a cabeça dos outros. Para estes deram o nome de “analfabetos funcionais”.

Os dias de hoje constituem a chamada era do conhecimento, estágio em meio ao qual a globalização parece estar bem na dianteira.

Nesse sentido, é consensuável, pois, que dentre em breve, quem não manejar um computador, terá enormes problemas para se manter na ativa (com as devidas ressalvas, obviamente). Como nós, seres humanos, somos doutores na arte de apelidar, também nesta esfera já produzimos alguns rótulos. Ao se depararem com alguém “nu”, em se tratando de macetes de informática, carimbam-o de “analfabeto digital”. Porém nisso há controvérsias. Afinal, não precisamos andar muito pra encontrarmos navegantes da internet habilidosos, mas que, se colocados ao desafio de produzirem um ofício, não passariam nas regras da vírgula e do ponto parágrafo.

Uma vez assim, devo concordar com Marcos Bagno, Fiorin, Orlandi e muitos outros, quando afirmam que ler vai além da decodificação gráfica. Consiste em atribuir sentidos; perceber por trás das palavras produtores, intenções, endereços, contextos e/ou cenários; situações sociopolíticas, econômicas e culturais; atores reais que buscam libertar-nos ou nos mandar para o cárcere. Em outras palavras, ler significa compreender o mundo e os fenômenos que nele ocorrem. Por isso advirto: antes que tomemos alguém como analfabeto, olhemos primeiro suas capacidades de entender as “coisas”.

De fato, a leitura, aqui entendida como processo de interação social, constitui-se enquanto subsídio singular para a formação integral do homem. Querem exemplos? Aí vão três.

A priori, porque nos permite dialogar com detentores das mais variadas opiniões possíveis. É como se colocássemos uma cadeira à frente de Paulo Freire, a fim de indagá-lo acerca de suas visões sobre educação, por exemplo; posteriormente, é sabido que o ato de ler nos possibilita exercitar vários órgãos do corpo (olho, ouvido, cérebro, etc.). E, num terceiro aspecto, pela fascinante proficuidade de compreensão da vida, tanto por conveniência de atmosferas atuais, quanto por conjunturas passadas.

Vai um conselho, amigo? Leia mais! Essa lição nos serve pra vida toda. É por isso que tenho dito: acho que a GLOBO se enganou. Ler, sempre foi mais que um exercício.