Olhares sobre educação, segundo Saviani e Freire

Quando se busca entender educação, com base em Demerval Saviani e Paulo Freire, nota-se que suas visões se opõem, contradizem-se, por partirem de premissas filosóficas divergentes, embora ambos concebam tal processo partindo de um ponto nuclear – o homem – para derivar outros.

Para Saviani, a educação (enquanto natureza) parte de um processo de trabalho, ou melhor, constitui-se um. Conforme ele mesmo lembra, o homem é um ser que, constantemente, produz para depois (re) produzir, sendo este produto dado pelo trabalho. É a partir deste movimento histórico que os humanos fazem cultura, e a fazem coletivamente. Daí porque se diz que ao homem cabe adaptar a natureza, transformá-la, é para se dizer que suas necessidades são as suas sabedorias.

Nesse sentido, Demerval pensa a educação como, também, uma atividade produtiva, dentro das culturas que os homens coletivizam. Para ele, tudo passa pela produção da existência humana, pressuposto que coloca o homem num processo permanente de trabalho para garantia da sobrevivência. Dentro deste ato de produzir, Saviani então coloca as expressões trabalho material e trabalho não-material, para se referir à questão dos bens.

Para justificar a primeira, o autor lembra dos bens materiais, necessários à subsistência material de cada indivíduo; em relação à segunda, fala dos saberes e/ou produtos subjetivos, ou seja, as idéias, artes, os conceitos, valores, símbolos, hábitos, habilidades etc. E aqui Demerval inclui a educação.

Assim, Saviani pressupõe o ato de educar como um ato produtivo e consumível, ao mesmo tempo. No caso do ensino em sala de aula, por exemplo, afirma ser o professor um produtor (neste caso do conhecimento; atividade não-material), aquele que está produzindo para o consumo dos educandos.

Diferentemente do primeiro teórico, Paulo Freire entende a educação como um ato gnosiológico. Em outras palavras, Freire parte da idéia de reciprocidade, ganho mútuo, interação. Para ele o homem é um ser em construção, não importando a posição na qual esteja. Por estarem no e serem do mundo e pelas suas incompletudes, os homens carecem de relações, na medida em que suas necessidades são comuns, que há convergência. No caso do ensino em sala de aula, outra vez, professor e alunos – segundo Freire – aprendem, interagem, crescem. E o fazem porque problematizam (mais que se transmitem) conteúdos sobre os quais se co-intecionam. Aqui não há, pois, um sujeito, condutor, produtor e os outros objetos, passivos, só aprendizes; a rigor, todos são sujeitos, sujeitos cognoscentes – que aprendem mutuamente.

Para Paulo Freire, o homem é um ser consciente e intencional que, num processo educativo, busca construir uma relação (embora contraditória) dialética com seus interlocutores, relação na qual todos ganham, uma vez que todos buscam suas libertações. São relações, em fim, que partem do subjetivo para tomarem corpo na objetividade, e porque são dialéticas, tornam-se solidárias. Segundo Freire, a educação é um processo comunicativo e dialógico e passa pela idéia de um encontro entre interlocutores que constroem conhecimentos, ensinam e aprendem, de modo simultâneo.