UM LUGAR CHAMADO LÁ.

As grandes lições da vida são obtidas dos fatos cotidianos. É preciso estar atento a tudo, porque o aprendizado segue a vida apenas quando nos tornamos conscientes do momento que estamos vivendo, quando aplicamos a mente à ocasião apropriada. Se com o polegar apertarmos o lóbulo da orelha direita, devemos sentir a orelha direita e não o dedão do pé esquerdo. Isso se aplica também ao campo dos sentimentos. Viver é tomar posse do momento, com todas as forças da nossa alma. Como disse o sábio Rei Salomão: “Há tempo para todo propósito debaixo do céu”.

Gastamos muito tempo planejando o que vamos fazer depois e nos esquecemos de viver o “agora”. Mas a vida começa sempre agora, a vida não começa amanhã. Freqüentemente vidas que vão terminar amanhã se esquecem de viver o “agora” esperando por um amanhã que não acontecerá. O que quero dizer é que precisamos nos dedicar não apenas ao tempo presente, mas até mesmo ao momento presente, a essa fração de tempo chamada minuto, porque haverá um dia em que os minutos cessarão para cada um de nós.

Todavia, sabemos que grande parte das pessoas não vive o “agora”, mas vive em permanente estado de conflito entre a realidade que lhes é permitido experimentar e os sonhos que abrigam em alguma parte mais íntima do ser. Um dos grandes males da humanidade nos dias de hoje é a inconsciência em relação aos fatos físicos e mentais, a insensibilidade, o distanciamento emocional nas ações cotidianas da vida, seja tocar, comer, respirar, amar, sofrer, enfim, viver. É como se o indivíduo tomando um copo de suco de laranja, intimamente degustasse uma feijoada. E quando chega a hora de saborear uma feijoada, sente o sabor de um suco de laranja. Não há correspondência entre ação e sentimentos, entre sentimentos e realidade. Perde-se a consciência corporal. A mente não acompanha o corpo. O corpo não processa os sabores. O doce e o amargo se fundem e se confundem. Essa dissociação conceitual e psicológica faz de nós seres em permanente estado de busca.

Certa vez li, em algum lugar, (cujo crédito não posso dar, porque não me lembro o nome e nem o autor), a história de um sujeito que procurava um lugar chamado “LÁ”. Ele sempre estava a procura do “LÁ” mas quando chegava lá, o “LÁ” tornava-se aqui. Então ele perguntava; “É aqui o LÁ?” A resposta sempre era “não”. Porque o lá era lá e o aqui era aqui. Então ele deixava o aqui e partia em direção ao lá, sem nunca encontrar o “LÁ”, porque ao chegar ao “LÁ” este se tornava aqui. Nessa busca constante, ele jamais se permitira experimentar o aqui.

Muitos de nós somos assim. Não sentimos o prazer de estar aqui porque temos como meta alcançar o lá. O aqui escorre como um melado viscoso pelo meio de nossos dedos, mas nós teimamos em buscar o lá, de cuja memória nada sabemos. E isso tem reflexos diretos na saúde psicológica, mental e física. Não dá para encarar o desafio de transformar a sua mesa e a sua vida, sem uma análise daquilo que você está buscando encontrar na comida. Você pode estar buscando na mesa da sua cozinha, na panela do seu fogão, no carrinho do supermercado, no restaurante da esquina, na sorveteria do bairro, um lugar chamado “LÁ”. E só vai encontrar o aqui. Enquanto o “LÁ” nunca chega, também não chega a sua saciedade. A comida pode ser o dispositivo que está sendo acionado para compensar a busca por um lugar que não existe na terra.

De boa lembrança seria aceitar como verdadeiro o fato de que nenhum de nós, seres inteligentes, feitos à imagem e semelhança de Deus, consegue deixar de sentir essa saudade do “LÁ”. Porque o “LÁ’, nada mais é do que uma vaga nostalgia do céu. Dia mais, dia menos, todo ser espiritual, experimenta essa incomoda sensação de que a dimensão humana não consegue identificar no mapa múndi um lugar chamado “LÁ”. Então, mecanismos de escape começarão a ser acionados, sucessivamente, um após o outro, não necessariamente nesta mesma ordem: algumas pessoas procuram o “LÁ” no conhecimento científico, nas universidades, na competência profissional, na ânsia por ser o melhor; em viagens intermináveis ao redor do mundo; em gastos desnecessários e compulsivos; em carros, bebidas,festas e ostentações; outras o buscam na vida social, nos clubes de serviço, na necessidade de pertencer a um grupo que tenha os mesmos objetivos; há os que o buscam na vida religiosa, na filantropia, na caridade, numa distribuição mais justa de rendas; também há os que o fazem em algum tipo de droga lícita ou ilícita; outros ainda, aderem a uma causa maior que pode ser a proteção da natureza ou dos animais.

Muitos, um dia, cansados dessa jornada inconclusiva, identificam em todas essas causas, uma única necessidade comum a toda a humanidade: conhecer a Deus e servir aos seus propósitos de todo coração, com toda a força da alma. Esses - somente esses - encontram o “LÁ” e, afortunadamente, também vivem agora o "AQUI"!