Da necessidade da desigualdade social

A desigualdade social é algo ruim? Esta é uma questão que pode ser analisada do ponto puramente social, do ponto político ou do ponto econômico. Mas trataremos neste artigo apenas dos porquês econômicos.

Primeiramente, devemos lembrar-nos que a teoria econômica estuda as leis que regem a produção, a distribuição, o consumo e a circulação de bens e serviços numa sociedade, e ainda, que a Ciência Econômica estuda o problema da escassez de bens e serviços para satisfazer as necessidades e desejos do ser humano. Tal problema encontra-se longe de ser resolvido, e neste ponto chegamos ao problema principal que interessa às Ciências Econômicas: a lei da escassez. A lei da escassez existe apenas pelo fato de os fatores de produção serem limitados e os desejos humanos, ilimitados; e ninguém há de discordar que a inveja e a ganância sustentam a maioria destes desejos no mundo atual. Outro fator que leva o ser humano a ter desejos são os fatores biológicos, que nas economias mais desenvolvidas do planeta já estão satisfeitos e praticamente solucionados pela Economia.

Quando uma determinada pessoa ou grupo tem a necessidade de aprimorar seu padrão de vida, isso cria uma necessidade, que vai gerar idéias que necessitarão de capital, trabalho e recursos naturais para serem produzidas; quando produzidas, movimentarão o mercado e assim, sucessivamente, segue-se o processo chamado, em lato sensu, de economia. Quando um grupo aprimora seu padrão de vida, ou seja, está superior aos demais grupos, os outros tendem a se esforçar para alcançar aquele padrão, seja por inveja, razões políticas, competição, entre outros, aquecendo ainda mais a economia. Logicamente, um grupo sempre terá o padrão mais elevado que o outro devido a uma série de fatores. Mas citemos apenas os bens, para efeito didático: imóveis, automóveis, bens alimentícios, têxteis, etc. Daí podemos também concluir que sempre haverão grupos tentando alcançar este padrão mais elevado, este status quo superior ao seu próprio, e o grupo superior sempre estará tentando se superar; esta é a dinâmica da desigualdade social no sistema capitalista, e que move todo este sistema. Obviamente, nem todas as pessoas ou grupos poderão ‘migrar’ dentro da sociedade para uma esfera superior devido a uma série de fatores, mas as oportunidades sempre existirão. E a economia depende destas oportunidades para ter o problema da escassez para solucionar ou amenizar; a Economia não existe sem desigualdade social.

Até agora, utilizamos o método dedutivo para provar o ponto de vista que a desigualdade social é necessária para a Economia. Utilizaremos, portanto, daqui pra frente, o método indutivo para provar o mesmo ponto de vista, para que não ocorram futuramente controvérsias a respeito do assunto, e que seja admitido como verdade absoluta a necessidade da desigualdade social em qualquer que seja o sistema econômico.

Vamos então, a partir de detalhes do mundo real, e empiricamente, comprovar que uma economia não funciona sem desigualdade entre grupos, ou mesmo com o pressuposto desta não existir.

São conhecidas as conseqüências negativas da economia planificada, um plano do socialismo que funciona em teoria, mas é ineficiente na prática; por este motivo Lênin criou a NEP – new economical politic, ou ‘nova política econômica’, que consistia em recuperar traços do capitalismo para manter a sustentabilidade da nascente economia soviética. Segundo o próprio Lênin, a NEP é um recurso tático caracterizado pelo restabelecimento da livre iniciativa e da pequena propriedade privada, admitindo o apoio de financiamentos estrangeiros. Mais um exemplo de que a economia planificada, sem livre concorrência e “igual” para todos não funciona, foi o estabelecimento da Perestroika (reestruturação, em russo), durante o governo de Mikhail Gorbatchov, em 1986, ano no qual a URSS estava no seu auge político, mas com sérios problemas na economia. Foi necessário estimular a livre concorrência, desenvolver setores secundários de produção e descentralizar as operações empresariais por meio da iniciativa privada. Foi necessário promover, portanto, que determinados grupos empresariais pudessem ter a chance de se destacar diante de outros, concorrerem e disputarem entre si, gerando desigualdade social.

Fora do socialismo e do utópico comunismo, não existem outros sistemas sócio-econômicos que admitam ou tenham a real intenção de alcançar a igualdade social.

Utilizando-nos da metodologia científica de ambas as formas possíveis, fomos capazes de chegar à conclusão de que a força maior por trás dos desejos e necessidades do ser humano é a desigualdade social e o desejo de se destacar perante outrem, e que, sem desejos e necessidades gerados pela desigualdade ou geradores desta, não existiria a Economia.