MERCADO EDITORIAL E LITERATURA HOJE

O jornalista Roberto Pompeu de Toledo, em declarações ao Rascunho (O jornal de literatura do Brasil), de 16 de março de 2008, referindo se ao mercado editorial, comentou:

“Não conheço por dentro o mercado editorial, não sei o que se passa. Eu fico perplexo diante da imensa quantidade que se publica. Imagino que o editor seja um pouco um jogador apostando num cavalo. Então, ele aposta em dez ao mesmo tempo. Por isso, precisa publicar muito, uma vez que dentre os dez, um deles emplaca. Um deles paga o prejuízo que os outros vão dar. Vai ver que é isso, não sei. Uma coisa que me deixa perplexo é a quantidade de coisas que se publica. É uma das coisas que dificultam ter um retrato do que é literatura hoje”.

A dificuldade em se perceber a fisionomia da literatura brasileira hoje é geral, uma das preocupações e questionamentos insistentes no pensamento dos que se interessam ou produzem na área. Trata-se mesmo de uma questão da maior importância, mas que não será resolvida por nós. O olhar definidor da literatura e das tendências de uma época e de algum país se localiza exatamente em outra época, o futuro.

Os modernistas, ao promoverem a Semana de Arte Moderna, provavelmente não estavam imaginando ou determinando que a partir daquele momento a literatura fosse modernista. Quiseram mudar e atingiram o objetivo, o que não significou um desejo ou uma certeza de que todo escritor estaria fazendo ou querendo o mesmo. Aliás, quem pertence ao universo das artes, sabe muito bem que isto seria impossível.

Por que hoje se publica tanto? Por inúmeros motivos. Estamos em outra época, de características próprias e distintas das anteriores. Não poderíamos ficar no passado, quando a pobreza da tecnologia excluiu muita gente.

O mercado e suas leis regem o mundo civilizado e altamente baseado no interesse e no lucro e é impossível conseguir que editores publiquem livros porque têm qualidade comprovada por estudiosos e críticos literários. Da mesma forma não se consegue deter o tsunâmi de gravações de alguma coisa que classificam como música. E nem se pode proibir que a sociedade esteja pensando de tal ou qual forma, como não se impediu que clássicos e românticos pensassem como tais. No futuro outros estudiosos terão bastante trabalho para caracterizar a nossa época, contexto e produção, uma tarefa gigantesca.

Estudiosos e escritores de agora tiveram o pensamento formado em bases passadas e, certamente, se torna complicado aceitar com alguma leveza o que está acontecendo em todas as artes, em especial na Literatura.

De forma bem ampla, o termo literatura se origina do vocábulo letra e carrega em si todo o volume de escritos. De forma mais específica, a literatura se apresenta de maneira mais didática e setorizada.

A setorização que se forma é descomunal e parece seguir as novas leis de mercado, da oferta e da procura, do livre comércio e da competitividade. Torna-se mais complicado, portanto, entender a Literatura e seus destinos. E onde há lucro, há também a possibilidade de prejuízo.

Quem escreve se divide entre dois sentidos: o de escrever para si e o de escrever para o outro. De repente, o escritor descobre que o resultado surpreende e o que ele menos acreditou ser aceito, é justamente o mais aclamado. Pelo leitor. O crítico fica falando ao vento. Ou seja, o cavalo vencedor é justamente o menos acreditado, contrariando os apostadores.

Os apostadores estão jogando todas as cartas em temas como os de auto-ajuda, misticismo e amor. Nós que nos incomodamos, devemos perguntar aos psicólogos o que está acontecendo com o inconsciente coletivo. Talvez, assim, possamos compreender melhor a época em que vivemos. Precisamos ser menos burgueses, mais tolerantes e aprender a navegar no imenso oceano da inclusão.

A citação foi retirada de:

http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=45&lista=0&subsecao=0&ordem=1652