Sobre o Schulwerk de Carl Orff

-História

O trabalho de Carl Orff teve papel fundamental no campo do ensino de musica. No início dos anos 20, Orff trabalhou com uma mulher chamada Mary Wigman. Ela havia sido aluna de Emile Jacques-Dalcroze, outro nome extremamente importante na área de educação musical. De fato, ambos possuíam uma visão semelhante sobre música, mas Orff dava mais ênfase à educação através dos instrumentos de percussão.

Em 1924, Orff se uniu com Dorothee Günther e fundou a Escola Günther. O objetivo desta escola era ensinar ginástica, arte e música. Orff acreditava que a música, o movimento e a fala não são entidades separadas, mas partes integrantes de um conceito que ele chama de “música elementar”. Este conceito significa, basicamente, a música, o movimento e a fala feita por crianças sem qualquer treinamento especial, ou seja, sem fazer qualquer esforço não-natural. Junto com Gunild Keetman, sua aluna na Escola Günther, Orff desenvolveu um método de ensino de música completamente diferente dos métodos tradicionais.

A base do Método Orff, ou Schulwerk, está na crença de que uma criança é similar, musicalmente, ao homem primitivo. Isso significa que ambos não possuem qualquer base musical, e baseiam-se em movimentos e sons naturais para fazer música.

O método Orff foi tão bem recebido pelo público que o Ministério da Cultura recomendou que as escolas primárias de Berlim adotassem aos experimentos da Escola Günther. Porém, a ascenção de Hitler ao poder e o início da guerra estancaram o crescimento destes planos.

Finalmente, em 1948, as autoridades culturais alemãs incentivaram Orff a continuar suas atividades culturais.

-Perfil

A abordagem de Orff, assim como o método de Suzuki, começa com a idéia de que a música deve ser aprendida pela criança da mesma maneira que ela aprende uma língua. Uma criança aprende a falar simplesmente através da observação, imitando o que observou posteriormente e, mais tarde, aprende a interpretar símbolos que representam aquilo que aprendeu através da observação. Com o tempo, isso se torna natural na criança. Sendo assim, a criança deve aprender música da mesma maneira.

Quando pequena, ao ser exposta a uma música, uma criança aprende a cantar e a batucar, vindo a interpretar os símbolos nas partituras como música posteriormente. A música que uma pessoa aprende durante a infância é simples e envolve muito movimento e ritmo, tendo uma melodia muito simples. Orff acreditava que o ritmo é a parte mais importante da música, pois é um fator que música, fala e movimento têm em comum, ou seja, o ritmo une esses fatores chamados de “música elementar”.

-Método

A fala é um dos fatores fundamentais da abordagem de Orff, não apenas porque a fala é um ato rítmico inerente, mas porque é ele o único dentre os quatro grandes educadores musicais (os outros sendo Suzuki, Dalcroze e Kodály) que a utiliza desta maneira. Seu pensamento era de que a transição da fala para o ritmo e do ritmo para a música é o mais natural para a criança. Então, o aluno passa da fala para ritmos corporais (como palmas ou bater de pés), e destes para o aprendizado de algum instrumento. Porém, mesmo após a criança iniciar o aprendizado em algum instrumento, esta linha de pensamento é mantida. Conceitos como compasso, anacruse e acento métrico são ensinados dentro de padrões da fala, reforçados em outras atividades e estudadas posteriormente em um contexto musical. Um exemplo disso é a maneira como é ensinado o conceito de cânone. Um simples, porém ligeiramente variado canto (ou outra forma de padrão falado) é ensinado à classe. Os alunos utilizam o conceito de cantiga para explorar como cada voz é inserida em cada tempo. Finalmente, o professor determina o padrão rítmico e mostra como cada parte do padrão funciona com as outras.

Orff diz que a fala, o canto e música são todos pontos da mesma reta, ou seja, um resulta no outro. A experiência da criança com a fala fatalmente a levará ao canto. Assim sendo, a melodia é o resultado ou a evolução do ritmo.

Quando a criança aprende a utilizar sua própria voz como instrumento, ela entra em outro estágio pré-planejado do método Orff.

Existe uma forma muito específica de se ensinar o solfejo. Assim como na maior parte das teorias que envolvem o canto, a terça menor (Sol-Mi) é o primeiro intervalo ensinado. Outros tons vêm em seguida, nesta ordem: Lá, Ré, Dó, para completar a escala pentatônica, e finalmente Fá e Si. O método Orff utiliza a escala pentatônica porque seu criador acreditava ser essa a tonalidade natural das crianças. O uso da escala pentatônica dava segurança a seus alunos, pois se trata de uma escala simples e com poucas notas, o que facilita a improvisação. Auto-afirmação é essencial para o desenvolvimento da criança.

A última parte da música elementar de Carl Orff é o movimento elementar. Como foi dito antes, a palavra elementar se refere àquilo que a criança faz sem qualquer treinamento ou instrução prévia. Orff afirmava que este tipo de atividade faz com que as crianças se tornem mais expressivas, visto que é muito mais fácil para uma criança se comunicar através de expressões, movimentos ou pinturas. Incentivando os alunos a se expressarem desta forma, permite-se que usem sua imaginação e a desenvolvam. Após observar esses movimentos, o professor os transcreve em forma de música de alguma maneira, e através dela explica e expõe diversos conceitos musicais.

Infelizmente, a maior parte das atividades que os adultos reprimem em seus filhos são aquelas mais apropriadas para expressar sentimentos, como andar nas pontas dos pés, apoiar-se em objetos imaginários ou girar em torno de si mesmo a ponto de resultar um atordoamento. São ações que os adultos classificam como “bobas” ou “sem sentido” quando, na verdade, são apenas movimentos naturais que as crianças utilizam para expressarem a si mesmas. Segundo Orff, esse tipo de manifestação deve ser incentivada e utilizada pelo educador para ensinar conceitos musicais.

Os instrumentos que são comumente associados ao método Orff se distinguem dos outros métodos. Orff utiliza xilofones e outros instrumentos similares, que utilizam barras removíveis. Isso permite que o educador altere a ordem das barras para ensinar diferentes escalas, ou remova barras desnecessárias, evitando confundir estudantes mais novos. Os instrumentos utilizados no método Orff foram baseados nos gamelans¹¹ da Indonésia. Esses instrumentos oferecem grande flexibilidade para alunos com algum tipo de deficiência. Por exemplo, um aluno cego ou até mesmo surdo pode tocar em qualquer parte de um instrumento Orff devidamente preparado na escala pentatônica, sentindo-se assim incluso dentro do grupo.

Concluindo, Carl Orff foi uma pessoa muito influente no campo da Educação Musical. Ele demonstrou que existe uma maneira de ensinar música para crianças através da base – fala, movimento e canto. Baseados em sua forma não-tradicional de ensino musical, diversos professores abriram escolas em diversos países, entre eles: Estados Unidos, Austrália, Áustria, Namíbia, Japão, Brasil, Uruguai, Grécia, México, Itália, Malásia, Inglaterra, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Polônia, Israel, Suécia, Rússia, Bélgica, Canadá, África do Sul e Alemanha.