"O Presidente é um Ladrão!"

Até o final dos anos setenta , o único assunto discutido em bares, clubes, horários de lazer, etc., era futebol. Os ânimos se exaltavam e uma gozação boba e até agressiva, ainda que extremamente infantil, ganhava sempre o desfecho de um torcedor ou de um grupo destes, contra os opositores e vice – versa. Só se discutia futebol! Os assuntos políticos, econômicos, filosóficos, etc., eram, por assim dizer, complicados o bastante para que se arriscasse uma opinião segura, considerando que a análise crítica era quase sempre simplória, confusa, pela absoluta falta de informação; eram assuntos para os intelectuais ousados.

Lobotizado pelo regime autoritário, o minguado exercício de cidadania restringia-se aos dogmas de uma ditadura de bananas, que oscilava entre o ridículo de uma comédia e o brinquedo assassino dos pseudo guardiães da pátria.

O presidente é um ladrão! Uma frase que levaria seu prolator às salas de torturas nos anos 60/70, já não fere o melindre do tirano, do ditador e de uma infinita e demente horda de oportunistas patológicos. É que estamos numa democracia! Uma democracia patenteada, mas democracia.

Às vésperas das eleições presidenciais, em passado não tão distante, uma acirrada discussão política dividia um grupo de operários num canteiro de obras próximo à janela da minha sala. O atleta do gramado, de então, envergava terno, usava gravata e marcava os seus gols no planalto central. Fazia ele parte de uma seleção mundial que, a qualquer tropeço, virava notícia global. A informação, ainda que atarantada pelo conflito dos interesses, era ampla e podia ser conferida pela repercussão social dos seus efeitos. O brasileiro aprendera a discutir, também, política, assim como futebol - tornara-se cidadão.

A gozação, que encerrava com muita graça o amistoso impasse das discussões futebolísticas, aplicava-se, então, ao embate político, concluído, é verdade, de forma apelativa e até mesmo infantilóide, com : “- O presidente é um ladrão!”

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 24/03/2008
Reeditado em 14/11/2012
Código do texto: T913861
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