A crise da Geografia como ciência

Antes de inciar, evoco uma pergunta aparentemente simples e de fácil resposta... O que é e o que estuda a Geografia ?

Muitos poderão citar uma definição simplista como: "A Geografia é a ciência que estuda o Planeta Terra" ou parcializada como: "A Geografia é a ciência que estuda as relações entre o homem e a natureza."

A priori ambas estão incorretas ou no mínimo apresentam falhas inadimissíveis; a primeira demonstraria uma soberba sem precedentes, uma vez que delimita como objeto de estudo um campo muito vasto do conhecimento, além de agredir as fronteiras dos saber acadêmico, já a segunda, apesar de se aproximar mais do que de fato possa ser a resposta, adotaria um viés excludente uma vez que retiraria da práxis geográfica o que atualmente (errôneamente) se convencionou chamar de Geografia Física.

Assim chegamos ao ponto de que uma pergunta simples e banal capaz de ser respondida por quase todas as ciências não obtém uma resposta satisfatória quando empregada no contexto da Geografia. Isso constitui uma crise da Geografia como ciência.

Como delimitar clara e nítidamente o objeto de estudo da geografia sem agredir a área de atuação das demais ciências?

Essa questão foi posta em debate principalmente da década de 60 até a década de 80. Foi nesse período que grandes vertentes do pensamento tomaram corpo, como a proposta de uma Geografia Crítica ou de uma Geografia Aplicada (Pragmática)¹

Desde já adianto que essa crise não foi resolvida e apresenta conseqüências cataclísmicas nos dias atuais e que estas serão expostas no final do artigo.

Mas para compreendermos de forma satisfatória essa crise devemos conhecer suas origens. Para tal , elaborei uma pequena teoria não oficial de caráter unicamente didático que ilustra o nascimento de uma falha na ciência geográfica (Teoria das auto-exclusões geográficas)

Imaginem nos primórdios da humanidade ocidental, entende-se Antiguidade Clássica, uma massa amorfa sem grandes propriedades mas que se fecha por si mesma, de formato ainda não bem estabelecido mas que preserva sua unidade, indivisível e sem lacunas. Essa era a Geografia dos gregos, que abrangia o Cosmos e a organização humana. Não possuia muitas informações e aprofundamentos no entanto tinha como nítida a sua identidade. Essa massa evoluiu no decorrer dos tempos, adquirindo mais propriedade, volume de conhecimento e seguidores.

No entanto em um dado momento da história correntes de pensamento como a de Vidal de La Blache, inventor do possibilismo e do regionalismo, agiram sobre esta ciência.² A influência do Regionalismo la blachiano foi a mais importante na criação do que eu defino como cúpulas de conhecimento, ou seja, estabeleceram-se na grande massa da geografia redomas que isolavam os seguidores dessa ciência por afinidade de estudo, assim diversos grupos foram criados, grupos que se dedicavam ao estudo específico de uma parte da massa geográfica. (ex. Solo, Mapas, Oceanos e etc). Até este ponto a geografia se encontrava ainda saudável apenas multipolarizada , mas mantinha sua unidade. No entanto, a partir do momento em que esses grupos começaram a produzir conhecimento suficiente para se institucionalizarem como ciências essas redomas foram retiradas da massa geográfica e com elas a parte do saber que cabia a geografia, ou que uma vez fez parte de sua composição. (ex. Geologia, Eng. Cartográfica, Oceanografia e etc).

Foi assim que a geografia se tornou o que é atualmente , uma grande massa lacunada , que mantém as ligações entre as diversas ciências humanas e naturais sem , no entanto , possuir o conhecimento delas como um todo. É a ciência que sabe um pouco de tudo e nada de pouco, tangenciando as ciências e estabelecendo ligações entre estas.

Entendida a crise, finalizo com as conseqüências desta nos dias atuais:

A Geografia se tornou uma ciência enfadonha para os olhos dos alunos, expelindo estes da formação superior. Isso leva à falta de mão de obra no mercado, um dos motivos alegados pelo Governo de São Paulo para excluir essa matéria da grade curricular do 3º ano do EM na rede pública de ensino. ( Decisão tomada em dezembro de 2007, sem a divulgação mínima e necessária ).

*¹ - MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia : Pequena história Crítica

*² - LACOSTE, Yves. La geographie, ca sert, d'abord, a faire la guerre