Política e o silêncio (do) no poder

Diante da proximidade das eleições é ilusório pensar que os atores políticos, homens e mulheres que fazem parte da elite de determinado local, não estão às escondidas ou em toda parte fazendo a arte do que poderíamos chamar de “política”. É claro que não são todos. Em geral, falamos da elite ou daqueles que são os proprietários do poder tanto nas grandes, médias ou nas pequenas cidades. Em tela está a busca do poder, seja no legislativo, seja no executivo. E coloque busca nisso, pois nesse jogo vale tudo. Vale tudo mesmo.

Para aqueles que ainda não estão “amarrando” os conchavos, creio que estou longe de errar em dizer que estão se aproximando rapidamente da derrota. O fato é que aqueles que realmente tem chances e andam sedentos pelas cadeiras do executivo ou do legislativo há muito já estão fechando - não muitas vezes escusos - os acordos. E fechar acordo significa distribuição de cargos, departamentos, diretorias e secretarias. Mais que isso, na conquista do poder é patente a preocupação imediata com os votos. Não é preciso ir longe para salientar que, sem eles, nada feito. Daí, por inferência lógica, valer de tudo na conquista do eleitor.

No silêncio, é forçoso saber que os candidatos são forjados. Explico-me melhor, são verdadeiras mercadorias que atuam tendo por assessoria técnicos e pesquisas que podem indicar o caminho certo a seguir. Digo de outra forma, os políticólogos e comunicólogos, que adoram o chavão "marketeiros políticos", moldam um candidato para literalmente ser vendido. Vende-se a imagem, uma representação de um sujeito tal como se faz com uma mercadoria. Na busca do mercado consumidor, nada como melhorar o produto: “corte o cabelo”, “freqüente as igrejas”, “não dê pulos fora do casamento”, “ande com o padre e com o pastor”, “distribua cestas básicas”, “empreste dinheiro”, “perdoe as dívidas”, “visite as igrejas”, “ajude os velhinhos”, “ligue para os amigos”, “faça as pazes com os inimigos”, “sorria sempre”, “mostre saúde”, “a figura de um bom pai”, “beije muitas criancinhas” e “se vista de acordo com o lugar no qual pretende visitar”. Certamente os “toques” são mais agressivos, caso não funcione esses iniciais.

Preparado o produto, vale investir na propaganda. Este terreno parece mais interessante, não é preciso estar face-a-face com a mercadoria. Ela fala em comícios, em reportagens nos rádios, escreve em jornais, está presente nos “santinhos”, atende algumas pessoas chaves - os famosos formadores de opinião - e aglomera em torno de si os sedentos de cargos e privilégios. Vender o produto significa apostar no que os estudiosos e gurus vêm chamando de marketing pessoal ou de guerrilha. Há aqueles que acreditam piamente que este é o melhor caminho e não por acaso citam o caso Collor ou mesmo o de Lula, em sua fase “paz e amor”.

De qualquer forma, o candidato deve ser forjado. Baseado em pesquisas de opinião ele fala o que a maioria deseja ouvir. Diz o que a população espera e, por natureza, promete o que levará anos para levar a efeito, caso ganhe a eleição. O curioso é que sabemos dos conchavos e muitos têm a ciência do que estou a descrever. Mas o fato se dá no silêncio do dia-a-dia e é de causar pena os candidatos que apostam na “sabedoria do povo”. Pura ilusão: em tempos de modernidade recente e de avanço dos meios de comunicação é crucial aparecer, estar no lugar certo no momento exato, acompanhado pelas elites e pelas lideranças locais. Inicialmente, tudo em segredo e silenciosamente planejado. Depois, em alarmes retumbantes e conflitos manifestos e latentes. Não é possível que as pessoas ainda se deixem enganar.

Finalmente, vale dizer que política não é para irmãs de caridade. É campo minado e perigoso, cheio de contradições e interesses escusos que estão longe dos olhos do senso comum. Aparentemente, esse é o caminho da política nos dias atuais: candidatos produzidos e sem o mínimo de condições de gerenciamento do erário público. Tal fato tem sido um pouco amenizado nas grandes metrópoles, mas estamos longe – notadamente no Brasil – de governantes que administram e que são bons gerentes e que não se encantam pelo canto da sereia, repleto de notas de clientelismo, nepotismo, corrupção e deificação da própria personalidade.