Rosas Vermelhas.

O dia oito de março passou a ser chamado dia da mulher. Hoje, em função do intenso interesse comercial, todo o mês vem sendo consagrado a elas. Nada desabona tal conduta em função da sua imprescindível participação na sociedade.

Sua presença é necessária desde o início da humanidade. A função que o homem ocupa na cadeia alimentar exige que a formação de novos seres seja precedida de gestação, amamentação e cuidados especiais até que na adolescência eles sejam preparados para ocuparem seus lugares na coletividade. Assim, fez a Natureza o macho, guerreiro, desbravador, subjugador e a fêmea, ser com temperamento maternal e dotes físicos para gerarem novas crias. Impôs, também, a necessidade de se completarem e um intenso instinto de reprodução e de sobrevivência que os mantém em constante busca pelo sexo oposto.

Mas, se por um lado, a ambição humana buscou novas conquistas, o intercâmbio com outras culturas gerou os primeiros passos para a queda desse hábito estabelecido.

Durante milênios, a imagem submissa daquela que foi chamada mulher, com a imponência do fator religioso empírico, era tida como imaculada, sagrada, santificada. Enquanto prevaleceu o sistema patriarcal familiar, elas foram educadas para servirem, mas a história mostra que entre elas havia figura de opinião. A própria Bíblia expõe mulheres que foram além de seus limites: Ester, Dalila, Ruth e a mais cultuada: Maria de Nazaré; em seu tempo, fizeram-se célebres por suas condutas.

No século dezenove, o movimento Romântico, entre tantos devaneios, as comparava com rosas, contudo, os contrastes mundanos que levaria a derrocada os padrões seculares entronizados, e que lançaria as bases para a atual sociedade estava em andamento. No decurso das duas Guerras Mundiais a civilização conheceu o caos e as remanescentes delas não seriam as mesmas.

As conquistas pessoais e os avanços científicos e sociais permitiram a uma nova concepção de vida. Se antes eram instigadas a uma sexualidade limitada ao casamento, a ciência trouxe os contraceptivos enquanto os movimentos juvenis as colocaram na estrada e lhes mostraram o sol nascente.

No final dos anos setenta, com a aprovação da Lei do Divórcio, estava dado um passo fundamental para a sua liberdade. Nos anos subseqüentes elas conquistariam ao mercado de trabalho e estão assumindo posição de destaque em todas alas. Hoje, operam máquinas, caminhões, são médicas, artistas, pedreiras, frentistas, condutoras, diretoras, professoras, e sem deixar de ser mãe e mulher. Estão em todas as camadas, espalhadas pelos postos de saúde, pelos corredores dos hospitais; despontam no comando do submundo das drogas, há dependentes químicas... Aquela figura submissa, de voz mansa, hoje explora o corpo, seduz e parte em busca de seus desejos. Qual será o seu futuro? O tempo dirá. Competência, determinação, elas têm; o avanço conquistado mostra isso. Ignorá-las, impossível. Não importa o grau de instrução ou a posição que se ocupe, a necessidade do convívio, da partilha com o sexo oposto prevalece e as dificuldades de restabelecer um relacionamento duradouro, também. A união sólida a dois acontece quando uma das partes se submete; até a algumas décadas elas faziam isso, hoje estão virando essa página. Apesar da independência, no entanto, as mulheres são fontes da vida. Com todo o avanço da medicina, ainda não é possível gerar um novo ser sem a sua participação. Porém, a vida as fez independentes, combativas e lhes ensina os conceitos de sua nova posição. Socialmente, admitir sua liderança não é um prestígio tardio, mas a reparação de um terreno que a própria masculinidade perdeu.Compará-las á rosas, hoje, só se for com rosas vermelhas. Aquelas que trazem a cor do sangue, da luta e da sedução. Por trás da armadura de guerreira, há um oásis de prazer, um colo e afeto. Tão grande quanto a sua imponência, são os seus dotes femininos. Por serem livres, para conquistá-las tem que se usar de tato, determinação, sensibilidade. Afinal, todas as rosas têm espinhos e, se mal tocada, podem ferir...

Para minha mãe Alzira, de 80 anos.